Uma em cada três crianças com menos de 2 anos (31%) que vivem no norte de Gaza já sofre de desnutrição aguda, alertou este sábado a Unicef, referindo que houve um aumento chocante em comparação a janeiro.
Segundo a agência das Nações Unidas para a infância (Unicef), esses dados foram obtidos após uma avaliação da situação humanitária na região em fevereiro, representando um “aumento chocante” em comparação com os 15,6% registados na avaliação realizada em janeiro.
O norte de Gaza continua a ser o lar de dezenas de milhares de palestinianos que consideraram completamente impossível abandonar as suas casas para escapar aos bombardeamentos e à incursão terrestre do exército israelita, lançados em resposta aos ataques do grupo islamita Hamas contra Israel em 07 de outubro
A Unicef, citando o Ministério da Saúde palestiniano, indica que pelo menos 23 crianças do norte da Faixa de Gaza morreram de desnutrição e desidratação nas últimas semanas, elevando o número de crianças mortas no enclave palestiniano neste conflito para cerca de 13.450.
O rastreio nutricional realizado pela Unicef e pelos seus parceiros no norte de Gaza no mês passado revelou que 4,5% das crianças em abrigos e centros de saúde sofrem de “emaciação (emagrecimento) grave”, a forma mais perigosa de desnutrição, que expõe as crianças “a um risco aumentado de complicações médicas e morte, a menos que recebam alimentação e tratamento terapêutico com urgência, o que não possuem agora”.
A prevalência da desnutrição aguda entre crianças menores de 5 anos de idade no norte aumentou de 13% para 25%, de acordo com o estudo.
“A velocidade a que esta catastrófica crise de desnutrição infantil em Gaza avançou é impressionante, especialmente quando a ajuda desesperadamente necessária está a poucos quilómetros de distância”, disse Catherine Russell, diretora executiva da Unicef.
“Tentámos repetidamente prestar mais ajuda e apelámos repetidamente para que os problemas de acesso que enfrentamos há meses fossem resolvidos. Em vez disso, a situação das crianças está a piorar a cada dia que passa. Os nossos esforços para fornecer ajuda vital estão a ser dificultados por restrições desnecessárias que estão a custar a vida das crianças”, alertou a responsável.
Além disso, exames realizados pela primeira vez em Khan Yunis, no centro-sul da Faixa e um dos grandes epicentros dos combates entre Israel e as milícias, revelaram que 28% dos rapazes e raparigas com menos de 2 anos sofrem de desnutrição na fase aguda, dos quais mais de 10% apresentam uma emaciação grave.
Mesmo em Rafah, o último grande refúgio para a população palestiniana no sul, os resultados do rastreio entre crianças com menos de 2 anos duplicaram, passando de 5% de desnutrição aguda em janeiro para quase 10% no final de fevereiro, e a emaciação quadruplicou de 1% para mais de 4% durante o mês.
As agências da ONU têm alertado para o risco de fome na Faixa de Gaza desde dezembro e em janeiro ultrapassou os limites de emergência para a desnutrição infantil aguda, alertou Russell, que mais uma vez apelou a um cessar-fogo humanitário imediato como “a única forma de salvar a vida das crianças e pôr fim ao seu sofrimento.