Depois de um hiato de quase três anos, reuniram-se esta semana os sete Sindicatos existentes no sector bancário. Um número de sindicatos menos numeroso, muito menos, do que noutros sectores. Ainda assim o seu número reflete a pluralidade e a diversidade de opiniões entre os bancários e traduz uma rejeição inequívoca de pensamento único. É esta a tradição dos bancários em Portugal, na linha da frente da sociedade civil portuguesa na participação política e na consolidação da democracia.

A reunião entre sindicatos expressou um desejo, por todos reafirmado, de conjugar ações e reivindicações. Uma decisão que saúdo.

Isto dito, no encontro sindical, a certa altura alguém comparou a classe dos professores com os bancários. Vale a pena enquadrar uma e outra.

Os professores, valorizados durante o Estado Novo, em democracia tudo mudou. Com a generalização e o alargamento da escolaridade obrigatória, mas perante um quadro minguante de alunos, fruto de uma natalidade em queda abrupta em poucas décadas, os professores viram o seu estatuto degradar-se, com os salários reais congelados ou em retrocesso, as carreiras paradas e uma clara falta de autoridade do Estado na sua proteção física e emocional.

A conjugação da internet, da digitalização e da perda do papel central de intermediário de saberes e conhecimentos, criaram uma erosão do estatuto social dos professores que os empregadores, Estado e privados, aceleraram. O mesmo, refira-se, tem vindo a acontecer no caso dos bancários.

Porém, no caso dos professores (e aqui em contraste com os bancários) os últimos meses assistiram a uma mudança drástica. Existe, agora, um claro consenso partidário que urge recuperar as carreiras e as remunerações dos professores. A que se deve esta curiosa mudança?

Alguns argumentarão que o catalisador foi a falta de professores, arredados que estiveram (estão?) os jovens universitários de uma carreira docente instável, penosa e congelada.

Não creio, de todo, que essa seja a explicação. O principal fator foi a indignação dos professores. O seu protesto cívico, defronte das suas escolas ou noutros locais, quotizando-se para adquirir faixas de protesto e pagar os autocarros. Organizados em estruturas sindicais, ou de forma espontânea, ninguém conseguiu ignorar o seu protesto. Ninguém. Por isso foram capazes de falar com o Governo, com os grupos parlamentares da Assembleia da República e de sensibilizar a opinião pública para a sua causa.

Na ausência de resposta digna, recorreram a manifestações e greves. Simples. Assim se defendem os direitos trabalhadores. De todos os trabalhadores, sem exceção.

O meu desejo?

Que os professores sejam um exemplo e uma inspiração para todas as classes profissionais desvalorizadas.