Serve o feriado de 8 de dezembro para relembrar a festa da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal e feita Rainha do nosso país por D. João IV, em 1646, entre outras razões, como sinal de agradecimento pela recuperação da nossa independência. Mas esse momento foi mais uma oficialização de um culto que inicia desde os primórdios da nacionalidade.

O documento mais antigo em que Nossa Senhora é retratada é no Códice 44, que se encontra na Torre do Tombo, um dos Livros iluminados mais extraordinários do nosso espólio – o comentário ao Apocalipse do Mosteiro do Lorvão, de 1189. “Depois apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de Sol, com a Lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça”, como cita o Livro do Apocalipse. Essa mulher grávida vai lutar contra um dragão de 7 cabeças que pretende devorar o seu filho. E, obviamente, vence. Em 1320 é instituído por D. Raimundo, bispo de Coimbra, a festa de 8 de dezembro. São as referências documentais visuais mais antigas que chegaram até nós.

E porque é importante essa referência, num Estado que se diz laico? Porque, mesmo para os que não creem, a figura de uma mulher que, no momento mais frágil e sagrado da maternidade, luta em defesa do filho, é importante. Contra qualquer monstro. E vence. Esta poderia ser uma metáfora para a nossa mátria, Portugal. Em todos os momentos de fragilidade e desesperança, Portugal consegue vencer. E não será um momento instável como o que enfrentamos que não se irá ultrapassar. A importância dos símbolos e das metáforas estão aí para não o esquecermos. O Estado pode ser laico, mas o povo não. E vencerá.

Professora universitária

Artigo publicado na edição do NOVO de 9 de dezembro