No país que menos lê, foram os jovens que compraram mais livros
Classes mais altas compraram mais, sobretudo romances. Retrato do país não é uniforme, com Lisboa a destacar-se por melhorar hábitos de leitura.
Há sinais de esperança no país que menos lê em toda a Europa. Os mais novos estão a comprar livros, e em papel, revela um estudo da GfK e da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) sobre o Mercado do Livro e Hábitos de Compra em Portugal. A compra de livros nas camadas mais jovens subiu 44%, indica o Book 2.0.
Entre os quase dois terços que confirmaram ter comprado livros no último ano, são sobretudo os romances que mais vendem (69%), seguindo-se os romances históricos (52%). Mas num grupo em que a faixa etária dos 15 aos 34 anos é a mais representativa, os livros infanto-juvenis ainda levam metade do bolo.
“Foi muito interessante perceber a importância que os livros continuam a ter nas camadas mais jovens, que representam atualmente a faixa etária onde mais se compra livros”, confirma Pedro Sobral, presidente da APEL. “Num país com os índices de leitura mais baixos da Europa, estes números trazem-nos esperança no futuro, fazem-nos acreditar que é possível mudar hábitos para as gerações futuras.”
De acordo com o estudo, quem comprou livros – o mesmo número ou mais até do que no ano anterior -, fê-lo na sua maioria (82%) para consumo próprio ou para oferecer, sendo o formato físico esmagador: representa 99% dos livros comprados. É também em lojas tradicionais que os portugueses mais gostam de comprar livros (88%), mas o digital começa a ganhar expressão, com 8% dos leitores a comprar livros digitais e 39% a assumir fazer compras online.
Ainda assim, o comportamento dos portugueses não é uniforme. Revela-se, por exemplo, uma maior propensão para a leitura conforme se sobe na escala social, com as classes A e B a representar 42% das compras e 26% da quebra verificada no Porto (-14%), no Litoral (-10%) e no Interior (-10%) a acontecer nas classes C e D.
“Não podemos ficar satisfeitos se assistimos a uma subida do índice de compra de livros, mas apenas na Grande Lisboa. O aumento da leitura deve ser transversal a todo o país, independentemente da classe económica ou da região do país, por isso democratizar o acesso ao livro deve ser um imperativo nacional”, defende por isso Pedro Sobral.
Seguindo os dados revelados, em 2022, foram lançados 21.115 novos livros, com o mercado a valer 175 milhões de euros, que se reparte por quatro grupos de livrarias que combinam 80 lojas (88% do mercado); há ainda “nove retalhistas multiproduto, correspondentes a 1.200 pontos de venda; oito grupos de grande distribuição, com 1.800 pontos de venda; e quatro livrarias únicas”, estando os restantes 12% do mercado em livrarias únicas e papelarias, num total de 400 pontos de venda.
“Com este estudo, a APEL espera contribuir para a promoção de políticas públicas favoráveis ao livro e à leitura, ao mesmo tempo que fortalece o ecossistema do setor dos livros, editoras e educação no país”, revela Pedro Sobral.