Não é pecado ser moderado. Ser moderado não é ser contra o progresso – é a moderação que impede que o progresso seja feito em vão e sem rumo. A importância do futuro a curto, médio e longo prazos é o que me leva a acautelar-vos: enquanto o caminho traçado somente pela ideologia é perigoso e feito às escuras, o do pragmatismo já tem mapas e precedente. Desapeguem-se da ideia de que a crença num futuro melhor é obrigatoriamente abraçada a uma causa ideológica. Pode sê-lo, mas não preciso de acreditar em longínquos futuros perfeitos para proporcionar um amanhã mais digno. O progresso é uma linha contínua – o longínquo futuro perfeito, por outro lado, dificilmente o será. Talvez seja precisamente esse o objetivo do ideólogo.

Não é pecado ser moderado. O traçar contínuo do futuro não significa complacência para com quem quer destrui-lo. Compete à moderação o combate aos extremismos – não se pode combater o fogo com fogo, mas sim com água.

O extremismo não é genial ou vanguardista apenas por afastar-se do centro e ninguém é mais ou menos inteligente por ser mais ou menos moderado ou por saber mais ou menos teoria. Esta falácia de apelo à autoridade – no caso, proveniente de autores – não torna a opinião de alguém inválida: o cidadão pode ser ponderadamente moderado na mesma medida em que pode ser impressionavelmente ideológico.

Mas atenção: também não é pecado ser ideológico. A ideologia é uma poderosa ferramenta e, muitas vezes, as suas questões essenciais transitam para o mainstream tendencialmente moderado. O importante não é o caráter ideológico em si, mas o conteúdo. Daí que se eu, por acaso, fosse marxista-leninista, não teria qualquer tipo de problema em ser chamado de extrema-esquerda – parece-me lógico o suficiente que a luta por uma rotura total dos modos de viver é, pelo menos, relativamente extremo.

Por outro lado, se eu, por acaso, fosse fascista, provavelmente teria problemas em ser chamado de extrema-direita – porque, mesmo que também desejasse uma rotura total dos modos de viver, continuaria a precisar do sistema nos entretantos. Não basta que a dicotomia seja “Pragmatismo vs. Ideologia” quando o papel da ideologia importa mais do que o mero facto de se ser ideológico. Qual o seu objetivo? Construir um futuro conjunto ou destruir o passado democrático?

Dizem que é no meio que está a virtude. Tendo a concordar, com nuances. O meio não é inerentemente virtuoso, apenas o é porque é no convencional e no mainstream que se encontram as questões ideológicas mais viáveis. É uma questão simples – quando nem o oito nem o oitenta são opção, o trinta e seis é consensual. Numa altura em que já se pensam as campanhas eleitorais, é importante que este ponto não se perca por entre as discussões.

Mestrando em Ciência Política e Relações Internacionais