A reunião entre o Ministério da Saúde e os sindicatos representativos dos médicos agendadas para esta quarta-feira, 8 de novembro, foi cancelada, depois de António Costa ter anunciado a demissão do cargo de primeiro-ministro, disseram ao NOVO fontes ligadas ao processo e confirmou o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque Cunha.

O governo e os sindicatos representativos dos médicos mantêm o braço-de-ferro, mais de 18 meses depois do início das negociações. A última reunião, que decorreu no sábado, 4 de novembro, voltou a terminar sem fumo branco, tendo sido agendada nova ronda negocial para 8 de novembro, encontro agora cancelado, horas depois de Manuel Pizarro ter garantido que a reunião se mantinha, apesar da demissão do primeiro-ministro.

O SIM e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) apresentaram uma proposta conjunta com três reinvindicações: as 35 horas de trabalho semanal, a diminuição do horário de serviço de urgência de 15 para 12 horas e aumentos salariais de 30%, ponto que está a impedir que as partes cheguem a acordo.

O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, contrapôs com um aumento de 5,5% e, no último encontro, 8,5%, proposta recusada pelos médicos.

António Costa demitiu-se esta terça-feira do cargo de primeiro-ministro, depois de a Procuradoria-Geral da República (PGR) ter referido um inquérito instaurado no Supremo Tribunal de Justiça em que é visado.

A PGR confirmou a detenção de cinco pessoas, na sequência de um inquérito, dirigido pelo Ministério Público, do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), por suspeitas de crimes de prevaricação, de corrupção e de tráfico de influência.

Foi confirmada a detenção do chefe do gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, do presidente da Câmara Municipal de Sines, Nuno Mascarenhas, de “dois administradores da sociedade Start Campus e de um advogado/consultor contratado por esta sociedade”.

O advogado/consultor referenciado será Diogo Lacerda Machado, amigo do primeiro-ministro, António Costa.

Os detidos passam a noite no centro de detenção da PSP, em Moscavide, e serão presentes ao juiz na manhã de quarta-feira, 8 de novembro.

Em causa, neste inquérito, os processos das concessões de exploração de lítio nas minas do Romano, em Montalegre, e do Barroso, Boticas; o projeto de central de produção de energia a partir de hidrogénio em Sines; e o projeto de construção de um data center também em Sines.

“No decurso das investigações surgiu, além do mais, o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do primeiro-ministro e da sua intervenção para desbloquear procedimentos no contexto suprarreferido”, informa a PGR. “Tais referências serão autonomamente analisadas no âmbito de inquérito instaurado no Supremo Tribunal de Justiça, por ser esse o foro competente”, acrescenta.

O ministro das Infraestruturas, João Galamba, e o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Nuno Lacasta, foram constituídos arguidos.

Na sequência desta informação, António Costa apresentou ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a sua demissão do cargo de primeiro-ministro.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, convocou os partidos políticos com representação na Assembleia da República para consultas esta quarta-feira, 8 de novembro, e convocou o Conselho de Estado para o dia seguinte, quinta-feira, na sequência do pedido de demissão do primeiro-ministro.

Em comunicado, a Presidência da República refere que Marcelo Rebelo de Sousa “falará ao país imediatamente a seguir à reunião do Conselho de Estado”, que terá início às 15h00.

Na operação que decorreu esta terça-feira foram feitas 42 operações de buscas: 17 buscas domiciliárias, cinco buscas em escritório e domicílio de advogado e 20 buscas não domiciliárias,

As buscas não domiciliárias foram feitas em espaços utilizados pelo chefe do gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, no Ministério do Ambiente e da Ação Climática, no Ministério das Infraestruturas e na Secretaria de Estado da Energia e Clima, também na Câmara Municipal de Sines e na “sede/espaços de outras entidades públicas e de empresas”, não referidas.

As diligências referidas foram executadas com o apoio operacional de elementos da Polícia de Segurança Pública (PSP) e da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), tendo participado 17 magistrados do Ministério Público, três magistrados judiciais, dois representantes da Ordem dos Advogados, cerca de 145 elementos da PSP e nove da AT.