O tempo sindical, tal como o tempo da História ou da política, não é uniforme e linear. Há momentos de acalmia pura, em que o tempo parece fluir como que em câmara lenta. São tempos em que nada parece acontecer e daí também não vem mal ao mundo. Depois, em marcado contraste, há momentos de aceleração brusca, fruto das circunstâncias e do papel dos intervenientes. São ciclos curtos em que há a tomada de decisões que tendem a ser críticas e com inevitáveis repercussões. Tudo mexe.

Ora, o tempo sindical na área da Banca está a chegar a um destes momentos de aceleração, em que as decisões que agora forem, ou não, tomadas, condicionarão negativamente a paz social no sector até ao final ano.

Estamos, por assim dizer, nas margens do Rubicão. Ninguém, rigorosamente ninguém, dos trabalhadores bancários aos administradores, dos sindicatos às comissões de trabalhadores, deve ignorar a importância dos dias que se aproximam no horizonte.

Já chega de conversa inócua e sem particular conteúdo. Conversa redonda que assim que se procura evoluir logo é cortada pela raiz com a habitual desculpa de que não se tem mandato para decidir. Estamos na hora de tomar decisões. Quem não tem mandatos para decidir que os arranje rapidamente.

Com os resultados consolidados de 2023 e com os lucros anunciados no primeiro trimestre de 2024, resulta evidente que a Banca a operar no mercado português tem todas as condições para melhorar substantivamente as suas propostas de aumentos das tabelas salariais, pensões de reforma e de sobrevivência, bem como das demais cláusulas com expressão pecuniária.

Em 2023, os cinco maiores Bancos (BCP, BPI, CGD, novobanco e Santander) tiveram 4300 milhões de euros de lucro. No primeiro trimestre apenas deste ano, BPI, novobanco e Santander ultrapassaram a fasquia dos 596 milhões de euros de lucro. Neste contexto, por mero acaso é admissível que se proponham aumentos entre 2,25% e 2,5%?

Certamente que não. Em nome da paz social, aliás, convidamos as Instituições Financeiras a rever esses valores. À luz do interesse de todos, era seguramente preferível que o fizessem, mas se necessário trataremos de organizar os incentivos adequados.

Da nossa parte, em nome do Sindicato que tenho a honra e o privilégio de dirigir, apenas posso dizer que não excluiremos nenhum dos meios de reivindicação que a lei nos confere. Incluindo a greve, algo que não acontece no sector desde 2021.