Renovação é o que se espera sempre que se estreia um novo ano. Mas desta vez, num mundo em convulsão e com o país atolado na estagnação, é melhor que apostemos antes numa verdadeira mudança.

Se alguma coisa aprendemos do que vivemos nos anos mais recentes foi que a previsibilidade é pouco mais do que uma ilusão. As surpresas são a única certeza que temos e a melhor preparação possível para um futuro incerto é reunir ferramentas que nos permitam ter um plano traçado para o sucesso e que potencie o crescimento, mas também nos deem capacidade de reagir rapidamente e com a menor perda possível sempre que ele implode.

O inesperado é a única coisa que podemos esperar do futuro – e virá em ciclos cada vez mais curtos e com ondas de choque que derrubarão sempre primeiro os mais fracos.

A incerteza do que virá é a única certeza que podemos ter. Vimo-lo com a pandemia que fechou o mundo atrás de portas, comprovámo-lo com o regresso da guerra à Europa, mas também o experimentámos com uma solidariedade europeia sem precedentes na reação à doença que paralisou o mundo – um sinal de esperança, ainda que as consequências dessa ação concertada, da inflação à doença mental, se tenham revelado desastrosos. Valem as boas intenções e as lições, se aprendidas.

Aqui, na fronteira do Atlântico, percebemos também que a estabilidade não é a mãe de todas as virtudes e que as reformas, o desenvolvimento e até a mera manutenção de níveis de qualidade nos serviços públicos, que demos por garantidos mas vemos hoje erodir-se, exigem debate sério, compromisso e um contrato tácito de serviço que se tem esboroado entre os governantes. A noção de serviço público transmutou-se na ambição de conquistar o poder pelo mero domínio da decisão, sem que ela seja prioritária ou sequer desejável, mesmo nos casos limite – veja-se o estado do SNS, o desastre na habitação, o confrangedor retrato da educação e a falta de prioridades e perspetivas de futuro, que tem provocado uma sangria de portugueses, sobretudo jovens, para outras paragens.

O que não aprendemos ainda foi que quanto mais fizermos por nós, pela nossa capacidade de evoluir e ficar de pé nos furacões, menos vulneráveis estamos aos cada vez mais frequentes abanões. Uma sociedade rica – a nível intelectual, no espírito crítico, civismo e também, naturalmente, em capacidade financeira – é mais capaz de resistir mesmo ao mais inesperado dos eventos. E com menos danos e perdas a registar.

Por oposição, nos últimos anos o que experimentámos por cá foi um país que se tornou crescentemente dependente – dos fundos europeus, dos apoios externos, dos subsídios atribuídos na condição de exceção mas tornados regra em demasiados casos, generalizando uma política que desdenha o mérito e a iniciativa e premeia a inação, alimentando um sistema insustentável a prazo. Porque não há máquina pública que suporte toda uma população nele pendurada, mesmo que o Estado dê com uma mão o que nos tira com as duas. Não é possível andar para a frente se nos mantivermos sentados à espera que o êxito aconteça, que algo nos caia no colo.

É a própria cultura paternalista e de subsidiodependência que nos foi enfiada goela abaixo que é urgente mudar, se queremos sobreviver num mundo mais competitivo, mais rápido, mais exigente e muito menos disponível a esperar por quem deixa passar todos os comboios.

Portugal só pode mudar na medida que precisa se tiver ambição de chegar mais longe e se for exigente consigo próprio. Essa mudança começa em cada um de nós, em desenharmos metas de superação pessoal e exigirmos tanto a nós quanto aos que se seguem na cadeia – ao lado, abaixo e acima –, sem desculpas ou desresponsabilização infantilizadora, sem permissibilidades e desvalorização de valores fundamentais, como a ética, o caráter e a seriedade.

2024 é o ano em que vamos escolher quem nos governará, em Portugal e a partir de Bruxelas. Façamo-lo com a consciência do que é urgente mudar para que o país e os portugueses possam ter futuro.

Diretora