Mais de um ano após ser tornado público – bem longe da Universidade de Coimbra e do nosso país, naturalmente – que as práticas do Centro de Estudos Sociais da referida Instituição assentam em tudo menos na isenção, no rigor científico ou na meritocracia foi, curiosamente com pouca atenção mediática, no passado dia 13 de março, publicado um extenso relatório por parte de uma Comissão Independente expressamente nomeada para o efeito.

Relatório no qual se conclui que a cultura do abuso de poder e do assédio (não só sexual), vastas vezes denunciada ao longo dos anos, grassa naquele Centro, com total impunidade das entidades competentes.

O que seria se tal acontecesse nos alvos prediletos de Boaventura e dos seus acólitos, seja na academia ou na opinião publicada?

No centro de investigação em ciências sociais que mais financiamento público recebeu no país – e à imagem de muitas outras instituições de ensino superior públicas nacionais – floresce uma cultura opaca, do favorecimento e do amiguismo.

E novidades? Será só naquele Centro? Mas, mais importante que tudo, reações e autocritica dos mais altos responsáveis institucionais?

De realçar, ainda e ao longo de todo este tempo, o respeito para com os mais elementares princípios do Estado de direito democrático demonstrados, em particular o princípio da presunção de inocência, que Boaventura e os seus “sofisticados” investigadores nunca respeitaram nos seus habituais “autos da nova fé” tão propalados.

Foi também contra isto, embora muitos não tenham ainda percebido, que o povo português votou no passado dia 10, relegando a extrema-esquerda identitária e moralista (com a sua habitual arrogância e superioridade) para mínimos eleitorais históricos.

Com um novo governo em vésperas de tomar posse e com uma nova esperança para Portugal é também hora de “disciplinar” estes, verdadeiros, Estados dentro do Estado.

Mais do que de “novos censores” ou propagandeadores da “sua” moral – sempre com dinheiros públicos – precisamos sim de uma cultura de responsabilização em detrimento da opacidade, de valorização do mérito ao invés do benefício de determinados grupos ou interesses mais ou menos obscuros, mas, fundamentalmente, de transparência e qualidade.

Porque nós – portugueses – somos tolerantes, respeitadores e bons no que fazemos, e, ao contrário de outros, nunca fomos bons “moralistas” para cima dos outros, porque, como se está a ver, essa “moral” vira-se facilmente contra nós.