O MEO Kalorama regressou ao Parque da Bela Vista, atraindo festivaleiros de várias partes do mundo, unidos pela paixão pela música e pela busca de bons momentos. Esta edição, que acaba por marcar o fim da época dos festivais de verão deste ano, contou com grandes nomes, tanto nacionais como internacionais. Apesar de alguns contratempos e sem nenhum dia esgotado, o evento decorreu sem grandes constrangimentos reafirmando os seus valores e o seu lugar nos festivais de música em Portugal.
No primeiro dia, o recinto foi enchendo lentamente, mas à noite juntou-se uma multidão no Palco MEO para ver os lendários Massive Attack, que proporcionaram um espetáculo com alguns dos seus temas mais conhecidos, entre eles Unfinished Sympathy, Karmacoma e Teardrop. Mesmo tendo temas intemporais e muito apreciados, Massive Attack não quiseram limitar-se a tocar as suas músicas, procurando ir além delas. A banda acabou por projetar imagens e palavras de ordem relacionadas com a atualidade – como a guerra e a epidemia da disseminação de informações falsas –, na busca de dar uma experiência diferente e enriquecedora que provocasse alguma reflexão no público.
Depois da banda inglesa, foi a vez de Sam Smith subir a palco, com uma grande audiência, um ano depois do seu último concerto em Portugal, na 15.ª edição do NOS Alive, no Passeio Marítimo de Algés. O espetáculo de Sam Smith não teve uma grande mudança de um ano para o outro, contando com uma setlist semelhante, assim como o cenário.
Nesta presença no Meo Kalorama uma das coisas que estava diferente e que acabava por seguir um pouco a lógica de crítica social e reflexão da noite era o que estava escrito na estrutura do palco, onde se podia ler palavras alusivas ao fim da guerra, à proteção dos mais vulneráveis, como as crianças, alusões ao poder, entre outros.
Além disso, Sam Smith prometeu dar um concerto que celebrasse a liberdade, marcado pelos seus hits e um guarda-roupa que acabou por ser menos arrojado do que o que apresentou há um ano, mas que incluiu a mesma a excentricidade que o artista tem adotado.
No ano em que o primeiro álbum de Sam Smith celebra o décimo aniversário, o público ouviu temas intemporais e icónicos do artista, como Stay With Me, Like I Can e ainda Lay Me Down, que contou com a participação da grande amiga LaDorna Harley-Peters. Se, por um lado, Sam Smith encantou com os temas mais antigos, também animou o público com Latch, produzido em parceria com Disclosure, e Desire, em parceria com Calvin Harris, terminando depois com Unholy, o seu mais recente hit.
Peggy Gou, a artista conhecida pela sua singularidade e desejo de criar música intemporal, encerrou o Palco San Miguel, com uma performance eletrizante que fez o público vibrar. A DJ sul-coreana conquistou a plateia com um set cheio de energia,e não deixou de tocar um dos seus maiores sucessos, (It Goes Like) Nanana.
O segundo dia trouxe algumas surpresas, incluindo a performance brilhante de Olivia Dean, que encantou todos com o seu talento e carisma. Demonstrando estar perfeitamente à vontade no grande palco, a cantora britânica cativou o público e expressou o seu entusiasmo por se apresentar em Portugal. A sua atuação abriu caminho para uma noite memorável, que continuou com a presença da banda Jungle, vencedora da categoria Grupo do Ano nos BRIT Awards e que já é uma presença habitual no nosso país.
A banda traz multidões sempre que visita Portugal quer seja em festivais ou nome próprio, e nesta edição do Meo Kalorama não foi exceção, animando o público com um espetáculo de luzes e músicas contagiantes, desde o seu sucesso viral Back On 74 até I Fell in Love.
A plateia do palco principal, que já tinha enchido para o concerto de Jungle, voltou a encher-se para o tão aguardado concerto de LCD Soundsystem. A banda trouxe a “disco” para o Kalorama, não só com uma enorme bola de espelhos em palco, mas também com seus temas clássicos, que continuam a conquistar o público, independentemente do tempo que passe.
LCD Soundsystem são a prova de que, mesmo sem lançamentos frequentes, é possível manter a relevância através do legado que deixam. Apesar de o último álbum da banda ter sido lançado em 2017, o seu impacto e conexão com os fãs permanecem intactos.
O festival encerrou com uma mistura vibrante de grandes nomes nacionais e internacionais. Cláudia Pascoal apresentou-se no final da tarde no Palco MEO com um concerto repleto de portugalidade e humor. A cantora apresentou faixas do seu último álbum !!, incluindo Nasci Maria e o dinâmico Eh Para a Frente, Eh Para Trás, sempre procurando manter uma interação com o público.
Cláudia Pascoal: “Fiz uma coisa que nunca fiz em nenhum concerto”
O espetáculo contou ainda com a participação especial de Mike El Nite, com quem Cláudia divide o tema Três É Demais, também interpretado pela cantora Rebeca.
Em seguida, foi a vez de Ana Moura subir a palco, demonstrando mais uma vez a sua capacidade de juntar a cultura portuguesa a uma sonoridade pop, proporcionando um espetáculo dinâmico, acompanhado por bailarinos incansáveis e a sua inconfundível voz.
A fadista encantou a audiência com interpretações de sucessos como Desfado, Andorinhas e Agarra Em Mim, esta última com a participação especial de Pedro Mafama, com quem canta o tema, protagonizando um momento mais sensual e ternurento com a sua cara-metade. Além disso a cantora presenteou o público com o anúncio de uma nova música para setembro com o nome de Desliza.
Mais tarde foi a vez de um dos nomes mais aguardados da noite, que inclusive roubou todas as atuações e foi quem mais se destacou neste dia. Falo do talento incontornável de Raye, na estreia da cantora britânica em Portugal, com um público que a recebeu com muita carinho e que levou a cantora a emocionar-se.
O concerto que durou pouco mais que uma hora, foi marcado por atuações impressionantes, onde a cantora mostrou o seu poder vocal e o à vontade que tem em “brincar” com as suas cordas vocais, levando ao silêncio de quem a queria ouvir, seguido de aplausos e gritos de quão maravilhado o público se sentiu. A cantora acabou por estabelecer uma conexão com o público, acabando por interagir com ele bastantes vezes, por vezes tanto que dava por si a olhar para o relógio em busca de cumprir o tempo estipulado para a sua atuação. Raye chegou a aperceber-se de um cartaz de uma fã que veio de Madrid, onde a cantora teve de cancelar o seu concerto na edição do Kalorama Madrid no dia anterior, devido a uma tempestade.
Logo no início do concerto, a cantora deu a oportunidade de os fãs terem uma música à escolha. A escolha seria entre Hard Out Here e Oscar Winning Tears, com uma calara preferência pela segunda através dos gritos do público. Raye acabou por fazer ainda um cover incrível de It’s A Man’s Man’s Man’s World e não deixou de lado os seus temas mais populares, como Escapism, Prada e You Don’t Know Me.
Para encerrar o Palco MEO, Burna Boy trouxe uma energia contagiante com a sua música, que conta com fortes influências africanas e que é impossível de ouvir sem, ao menos, bater o pezinho. O espetáculo foi repleto de animação, com bailarinos, efeitos de chamas e interação constante com o público. Além de apresentar seus sucessos, Burna Boy apanhou alguns membros do público de surpresa com um cover de “Jerusalema”, que fez toda a plateia dançar.
Apesar da presença de grandes artistas e de um público animado, esta edição do festival pareceu não ser aquela que mais se destacou até agora, quer a nível de cartaz ou de adesão, contando ainda com alguns cancelamentos de atuações.
Duas semanas antes do evento, a banda The Smile cancelou a sua participação na terceira edição do festival devido a problemas de saúde de um membro da banda, Jonny Greenwood. Já no arranque de festival, Fever Ray teve de desmarcar o seu concerto no palco San Miguel, que estava previsto para as 22h00, o que acabou por mudar os horários do palco e deu a oportunidade rapper Loyle Carner foi de passar do Palco Lisboa para o Palco San Miguel, ganhando assim maior visibilidade e atuando ao final da tarde.
Além disso, no último dia do festival, os belgas Soulwax tiveram de cancelar sua apresentação, programada para as 1h50 no Palco San Miguel, devido aos danos no equipamento durante a tempestade que atingiu Madrid e que fez com que também não pudessem atuar na edição do Kalorama na capital espanhola.
“Queremos continuar a ser o festival anual do centro de Lisboa”
No entanto, mesmo com contratempos, o festival procurou dar a melhor experiência possível a todos aqueles que decidiram ir, procurando reforçar o seu posicionamento como um festival que se preocupa com o bem-estar de cada pessoa sem olhar para as suas características e também com o bem-estar do nosso planeta. Algumas das medidas tomadas que vão ao encontro deste posicionamento foram a disponibilização de casas de banho não binárias ou a devolução de copos reutilizáveis.
Editado por João G. Oliveira