O estudo A Vida em Casa, promovido pela IKEA, procura reunir dados estatísticos a nível nacional e global para compreender como as pessoas habitam nos seus lares, antecipando as suas “preocupações, tendências e relevância de assuntos” sobre a vida em casa.
Em 2024, a investigação completa os seus 10 anos, durante os quais a IKEA contactou mais de 250 mil pessoas, espalhadas por mais de 40 países. “Todos os anos, a IKEA pede a dezenas de milhares de pessoas para partilharem os seus pensamentos sobre o espaço onde vivem, por um lado porque a forma como sentem em relação às suas casas tem um enorme impacto na forma como se sentem em relação a si mesmas”, refere ao NOVO Cátia Carvalho, responsável pelo Design de Interiores da IKEA Portugal.
Este ano, foram inquiridas 37 mil pessoas, cerca de mil em cada país, incluindo Portugal.
Dos participantes portugueses, 59% afirmam que a casa é o lugar preferido para estar, valor que é superior a outros países, sendo que, em famílias com animais de estimação, a percentagem sobe para 65%. O estudo revela também que 55% dos portugueses pretendem mudar ou renovar a sua casa nos próximos dois anos, sendo que este valor localiza-se nos 32% noutros mercados.
“Penso que é exatamente porque a casa é tão especial para nós em Portugal que estar constantemente a torná-la melhor, assim como a forma como vivemos, é realmente muito importante e é das maiores prioridades para os portugueses”, explica Cátia Carvalho.
Porém, isto pode ser um desafio para algumas famílias: “Temos a situação económica e do mercado imobiliário que não ajuda aos portugueses neste sentido e é por isso que alguns, em vez de mudarem de casa, pretendem renová-la ou torná-la melhor em alguns aspetos. Há essa dualidade, mas há sempre essa vontade inerente dos portugueses em melhorar a casa”, diz ao NOVO.
O estudo demonstra ainda que 34% dos portugueses sentem uma perda de controlo quando não têm dinheiro suficiente para cuidar da casa, valor superior ao dos outros mercados, situado nos 26%.
Cátia Carvalho acrescenta que esta preocupação com a habitação tem a ver com a forma como esta é encarada em vários aspeto. No que diz respeito à sustentabilidade, 69% dos portugueses veem a casa como um recurso para ser mais sustentável, por exemplo, a nível de poupar recursos ou nas contas.
Outro fator importante é o bem-estar: “É o sentirmo-nos bem porque é o nosso espaço, com a nossa família, onde estamos mais à vontade para sermos nós próprios”, explica a responsável da IKEA. “Mas, por outro lado, também tem aqui um desafio que tem a ver com a privacidade e com a arrumação”, acrescenta.
A arrumação, especialmente em Portugal, pode tanto ser uma fonte de satisfação como de frustração. “Por um lado, a maior parte das pessoas sente que ter a casa arrumada e organizada fá-las sentir melhor mental e fisicamente. Por outro lado, uma das maiores fontes de discussão em casa são as pequenas arrumações com a família”, aponta Cátia Carvalho, sublinhando que há áreas específicas relativamente às quais isso acontece, nomeadamente nos espaços chamados “secundários”, como despensas e marquises.
Além disso, a privacidade é outra prioridade, mesmo quando se vive com a família. “E essa privacidade sente-se a vários níveis. Não é apenas estar em divisões diferentes, mas ter a arrumação completa para cada membro da família. Arrumação muitas vezes escondida, mas acessível (…) e partilhada por todos, para que todos saibam exatamente onde encontrar tudo aquilo de que precisam no seu dia a dia.”
Cátia Carvalho refere que há 20 anos que a IKEA Portugal visita os lares portugueses e enfatiza que, em casa “reais” e de famílias com crianças, antigamente não existiam brinquedos fora dos quartos dos mais novos, devido a uma “cultura” que praticamente não permitia haver um espaço para as crianças em outras divisões, como na sala ou na cozinha.
“As pessoas escondiam esses momentos de brincadeira quando íamos visitar e, hoje em dia, essa dinâmica mudou completamente”, comenta. “Há um orgulho em mostrar que as crianças podem e devem estar em toda a casa e devem brincar pela casa toda, que há arrumação específica para essas atividades em todas as áreas da casa, assim como a multifuncionalidade passou a ser algo real nas casas portuguesas. Acreditamos que temos aqui um papel importante”, acrescenta, salientando que a IKEA Portugal considera ter contribuído para uma “desmistificação” do ideal de casa e para a sua forma de organização de espaços.
A propósito das polémicas campanhas publicitárias da IKEA Portugal, Carvalho afirma: “Temos uma postura muito informal, descomplexada e descontraída de nos rirmos de nós próprios. Nós na nossa vida temos ‘o brinquedo na sala’”.
“No caso da campanha, a nossa ideia foi refletir não a nossa posição ou a nossa opinião, mas refletir as conversas do dia a dia das pessoas. Comemorámos 20 anos em Portugal, somos uma marca orgulhosamente sueca, sabemos as nossas origens, mas estamos muito envolvidos na forma como os portugueses vivem e achámos que não faria muito sentido que as nossas campanhas vivessem à parte do que as pessoas falam na rua”, complementa.
“Replicamos isso nas nossas campanhas tal e qual replicamos nas nossas coleções. É exatamente o mesmo e a grande maioria das pessoas compreendeu e estava a rir-se também da abordagem. Tem muito a ver com reforçar relações, há aqui um paralelismo ótimo entre as campanhas que temos feito e este estudo.”
Relativamente às casas no futuro, a responsável afirma que a melhoria do bem-estar mental estará sempre no centro do que será a evolução da casa, mas a identidade também ocupa um lugar importante. Igualmente, como a casa é construída deixará de ter tanta relevância, em comparação com haver o espaço certo para a execução de atividades.
“A casa do futuro é aquela que nos serve para as nossas necessidades individuais e para aquilo que somos enquanto pessoas, porque também temos notado, ao longo destes anos, que expressar a nossa personalidade dentro de casa é um foco”, diz.
Por fim, Cátia Carvalho assegura: “O nosso compromisso é tentar melhorar o dia a dia da maioria dos portugueses, principalmente através desta conexão da arrumação e o bem estar mental. Portanto, vamos continuar ativamente a desafiar as formas de organização da casa, do espaço, nas diversas divisões e que a casa seja cada vez mais individualizada e seja a nossa arena particular”.
Editado por João G. Oliveira