“Estamos certamente a aproximar-nos de um momento para a Europa em que será necessário não sermos cobardes”, disse Emmanuel Macron esta semana durante uma visita à Chéquia. E tem razão.

O que tem caracterizado os líderes europeus no que toca à integração europeia e à própria defesa da Europa é precisamente a cobardia. Cobardia em decidir o que tem de ser decidido e cobardia perante as suas opiniões públicas. Há um receio enorme da reacção dos povos europeus sobre estes temas e procura-se muito mais defender a própria pele do que defender o bem comum.

O problema é que a invasão da Ucrânia pela Rússia veio aumentar a emergência de uma maior integração europeia, tanto na diplomacia como na defesa. O impasse a que assistimos hoje tende a mostrar que apenas com uma participação militar das forças ocidentais, nomeadamente dos EUA e de Estados da UE, os ucranianos poderão reverter o rumo da guerra, que está neste momento num beco sem saída.

Vamos aceitar que a Rússia ocupe os territórios ucranianos que hoje estão sob seu domínio? Vamos deixar que o crime compense? Este seria meio caminho andado para encorajar a Rússia a fazer novas invasões em solo europeu. É por isso que Macron tem razão. É tempo de sermos corajosos e pensarmos se não devemos tomar uma decisão difícil. E é ainda mais difícil porque a partir do próximo ano poderemos ter Trump na presidência dos EUA, perdendo assim o nosso principal aliado militar.

A partir de Janeiro de 2025 a Europa poderá estar militarmente sozinha e entregue a si própria, ainda que, pelo menos aparentemente, protegida pelo manto da NATO. E nesta organização é fundamental que o pilar europeu seja forte e que esteja cada vez mais em pé de igualdade com os EUA. Para isso temos de fazer o nosso papel: cada Estado europeu tem de investir nos três ramos das Forças Armadas numa primeira fase e depois criar umas Forças Armadas europeias que ajudem a dissuadir potenciais ameaças.

É verdade que não é nada popular gastar mais dinheiro nas forças militares, os povos tendem a não gostar. E os líderes dos Estados europeus sabem disso. Mas os líderes vêem-se quando têm de tomar decisões difíceis, por vezes contra a opinião pública e a opinião publicada. Mesmo que isso lhes custe a perda de eleições futuras. Como se costuma dizer, Churchill perdeu as eleições depois de contribuir decisivamente para a vitória dos Aliados na II Guerra Mundial. E ficará para a História.

Basta olhar para um mapa do mundo para perceber o básico. Olhemos para a Europa e que territórios a rodeiam nesse mapa. O que vemos? A Rússia a Leste, O Médio Oriente a Sueste e o Norte de África a Sul. Três áreas de grande instabilidade política, maioritariamente com regimes autoritários e que olham para a Europa com grande desconfiança. Estaremos seguros? A invasão russa na Ucrânia veio abrir-nos os olhos. Há quem não queira ver. Mas há quem deva avisar-nos que temos mesmo de abrir os olhos e enfrentar a realidade. Foi isso que Macron tentou fazer na Chéquia.

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu
(O autor escreve de acordo com a antiga ortografia)