O conflito, que começou no dia 7 de outubro de 2023 com o ataque do Hamas a Israel, já tem um nível de contágio regional muito significativo. Mas pode não ficar por aqui até porque todos os indicadores apontam para a vontade de se escalar para um conflito à escala global.

Na noite de sábado, o Irão, cumprindo a promessa de uma resposta retaliatória ao ataque israelita que visou o consulado iraniano em Damasco no passado dia 1 de abril – e que resultou na morte de sete membros do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, incluindo o general Mohammad Reza Zahedi, o seu mais antigo comandante no Líbano e na Síria – lançou a Operação “True Promise”. Esta operação consistiu num ataque com 170 drones Shahed-136 (sim, os mesmos que a Rússia utiliza diariamente contra alvos civis na Ucrânia), 120 mísseis balísticos e 30 mísseis de cruzeiro. Todo este arsenal foi neutralizado com grande eficácia através do sistema antimíssil “Iron Dome” israelita juntamente com o apoio da aviação dos EUA e do Reino Unido.

Embora o Irão considere o assunto encerrado, não está claro se Netanyahu ficará por aqui. Portanto, como acontecia nos episódios da série televisiva a Guerra dos Tronos, queremos saber o que acontecerá a seguir: qual é o próximo passo de Israel? Irá retaliar proporcional ou assimetricamente? Lançará um ataque com misseis ou optará por um ciberataque? O que fará o Hezbollah no sul do Líbano? E os Houthis no Mar Vermelho?

Bem, a “bola” está agora no lado de Israel. Pode optar por dizer que eliminou 99% dos ataques iranianos e sofreu apenas pequenos danos num aeródromo militar, sem qualquer perda de pessoal ou de aeronaves, ou usar este ataque para reverter a perceção pública internacional a seu favor, que sofreu um duro golpe nos últimos meses devido ao número de vítimas civis e à crise humanitária que sujeita a população de Gaza. Mas, se olharmos para a situação atual, com cerca de 135 reféns israelitas que ainda não foram resgatados, o Hamas que não foi eliminado, as forças israelitas que sofreram perdas significativas nos últimos seis meses e sem um acordo sobre um cessar-fogo permanente ou sobre o fim da guerra, o cenário de “nenhuma resposta” não será a opção mais provável. Os EUA podem desempenhar um papel importante no abrandamento dos ânimos israelitas. Mas, conhecendo a abordagem de Netanyahu, esta pode ser uma tarefa difícil.

15E se o conflito escalar?

Apesar desta incerteza duas coisas parecem suficientemente claras. Primeiro, o ataque do Irão não só mudou as regras convencionais do jogo, como deu início a um jogo novo. Em segundo lugar, é que não haverá fim. O historial da conflitualidade no Médio Oriente diz-nos que os acontecimentos ficam num estado entre a ebulição e o banho-maria. O mais importante será a forma como as várias partes calculam os seus interesses de longo prazo. Sabemos que o Irão ambiciona liderar a ordem islâmica, e que a Rússia e a China têm todo o interesse em que o regime dos Ayatollah continue a fazer desviar as atenções da administração Biden para este conflito. Em suma, os cálculos geopolíticos mais complexos reduzem-se ao frenético play-by-play das claques num jogo de futebol de alto risco.