“A disciplina é mais forte do que o número: a disciplina, isto é, a cooperação perfeita é um atributo da civilização” , Stuart Mill.

Uma realidade onde se ouve muito falar de indisciplina é a escola, onde ela acontece com maior ou menor frequência: mediante o contexto social e geográfico, a qualidade de ensino aí investida ou, ainda, a rigidez de atuação superior ou não, entre outros factores.

Esta é, aliás, uma temática escolhida por muitos académicos e investigadores para teses, palestras, reflexões, case studies, trabalhos científicos e formações: basta pesquisar para ter essa perceção de como a “indisciplina” suscita muita preocupação e neblina. Os alunos, quando ficam frustrados com determinadas situações – dentro ou fora da sala de aula –, tendem a ficar agressivos e indisciplinados, derivando, depois, em atitudes negativas tais como a regressão, a fuga, a apatia, a resignação, a persistência inoperante, etc.. Quem realmente é e quer ser autodisciplinado atinge o sucesso porque está mais motivado.

O educador em geral – que não somente o professor – não deve discutir com os seus alunos nem permitir a discussão atrevida, que gera desentendimento e mau ambiente, já que deve ser assertivo e não permissivo: fazer acatar e executar as regras, pois elas existem para serem cumpridas e não banidas. Para tal, no início da escola (começo de cada ano letivo), deve haver da sua parte uma estratégia definida e única para que a disciplina/ordem, entre outras, esteja presente e seja mantida continuamente. A par do aspeto fulcral de derramar motivação aos alunos, tendo ela um objetivo e um planeamento prévio. Daí que o educador deva ser um instrumento motivacional, recorrendo, e.g., à interatividade com recursos pedagógicos, aos estímulos apelativos, à linguagem gestual, à boa-disposição, à paciência, etc.

Até o humor paradoxal pode ser utilitário, além de importante. Isto é, responder de forma idêntica a uma intervenção descabida de um/a aluno/a (que provoca, perturbando e interrompendo a aula), do género: “Sabes? Se lá fora vires um desastre, podes deixar de comer batatas fritas”. O silêncio instala-se e deixa-se estranhar com tal afirmação, dando nós à cabeça sobre o seu sentido e significado… Amor com amor se paga: intervenção descabida com humor descabido. Enquanto isso, o educador pode prosseguir com a aula ou com a atividade em curso. Outra estratégia funcional de motivação é desenvolver as apetências sócioemocionais dos alunos – principalmente a empatia, a resiliência e o autoconhecimento –, bem como incentivar a originalidade criadora e o pensamento crítico.

Ser autor, sim; autoritário, não

Entrando concretamente na indisciplina, eis três fatores geradores da mesma:

  • sociais: a família ou outros grupos de pares;
  • media: na divulgação de certas imagens/notícias incitadoras e extrapoladas;
  • escolares: o espaço escolar em si, um/a certo/a professor/a.

Esses fatores menos positivos, mesmo que não propositados, levam a causas comuns de desobediência, de rebelião, de revolta, de sublevação. Convém não esquecer, e até mesmo sublinhar – apesar de tão já sabido, mas nem sempre exercido –, que autoridade é o oposto a autoritarismo (não são sinónimos). Pois autoridade significa, precisamente, “qualidade de ser autor”. E fá-lo de modo livre, valorativo, fazendo perceber a quem o rodeia a importância de se obedecer e de se respeitar as leis. Pelo contrário, o autoritário (diferente de autor) impõe-se , fazendo tremer como um sismo, com a autoridade que julga ter (nem sempre a tem) e fá-lo com despotismo.

Induções que conduzem à indisciplina

Infelizmente, pode partir muito do educador esses determinantes da indisciplina escolar e da indisciplina familiar, a saber:

  • excesso de imposições;
  • disciplina autoritária (= abuso de reprimendas e castigos);
  • vulnerabilidade psicológica da pessoa docente e/ou do encarregado de educação;
  • falta de controle das emoções negativas;
  • atitude negativa (distância);
  • fonte de atenção (e forma de chamar a atenção) e dedicação;
  • não ter em conta as motivações e interesses dos alunos e/ou dos filhos;
  • a matéria ser considerada aborrecida e irrelevante, aos olhos dos alunos;
  • a vida extraescolar dos alunos como condicionante/entrave.

Prevenção da indisciplina

Ficam aqui três sugestões. Podem parecer “coisa pouca”, mas mais vale pouco e bem… Se forem bem conseguidos, seguramente estará assegurada a disciplina e dissipada a indisciplina:

  • construir um clima relacional assente na regra;
  • construir uma clima de abertura ao discente e/ou ao filho (acordo de trabalho assente no diálogo, confiança mútua, aproximação afetiva, respeito pela integridade e direito de cada um/a;
  • possuir competências técnico-pedagógicas.

Como lidar com situações de indisciplina?

  • utilizar a experiência pessoal (intuição);
  • empregar a criatividade na resolução de problemas;
  • pedir a colaboração de outros colegas;
  • aplicar o efeito surpresa;
  • dispor adequadamente os alunos na sala de aula;
  • entender as razões dessa causa-efeito: da desmotivação à insubordinação;
  • estar atento aos sinais dados de desrespeito e descompromisso;
  • conversar, com calma, e tentar encontrar soluções conjuntas;
  • manter o contacto visual, fixo e veemente, com o aluno em questão, até que volte ao comportamento correto;
  • mudar a atividade que estava a ser feita, caso esteja demorada, sendo aqui a indisciplina como forma reativa encontrada pelo aluno.

Portanto, várias situações indisciplinares vão ocorrendo à nossa volta e resultam como um impedimento à nossa vida, ao nosso trabalho, às nossas aprendizagens, à nossa estabilidade anímica e integral. E, fruto de quem não sabe estar e não se quer comportar corretamente – segundo as normas estabelecidas para cada sociedade e organização –, prevaricando cintra essas regras que servem para nos orientar e não para nos apoquentar. Apoquenta-nos, sim, quem incumpre as normas do que é/deveria ser o normal. Por vezes, até com um prazer cínico e perverso. Impeça-se a indisciplina! Seja ela qual for.