Os militantes da independentista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) deram aval à direção do partido para viabilizar um novo governo na região liderado pelos socialistas, na sequência das eleições autonómicas de 12 de maio.

A direção da ERC anunciou na segunda-feira um pré-acordo com o Partido Socialista da Catalunha, o mais votado nas eleições, para viabilizar um novo governo catalão liderado pelo socialista Salvador Illa, mas decidiu submeter o entendimento à votação dos militantes, numa “consulta vinculativa”.

Segundo os dados divulgados pela ERC, após o final da votação, 53,5% dos militantes que votaram disseram “sim” ao acordo. Votaram 6.349 militantes do partido (77% do total), 3.397 disseram “sim” ao acordo com os socialistas, 2.847 optaram pelo “não” e 105 abstiveram-se, revelou a ERC.

Com a ratificação do acordo pelos militantes da ERC, fica aberto o caminho para a investidura de Illa como presidente da Generalitat e o regresso ao poder dos socialistas na Catalunha, após 14 anos consecutivos de executivos separatistas na região, que ficaram marcados por uma tentativa de autodeterminação que culminou com uma declaração unilateral de independência em 2017.

Segundo a ERC, o pré-acordo com os socialistas abrange áreas como o financiamento autonómico ou a utilização da língua catalã, com o objetivo de “avançar na soberania”, com ênfase para “a soberania fiscal”, tendo sempre em mente “o objetivo da independência” e de construir uma região “mais bem preparada e mais forte com vista ao objetivo final, que é a independência da Catalunha”.

A ERC, que está atualmente à frente da Generalitat, mas ficou em terceiro nas eleições regionais de maio, negociou, na última legislatura, indultos e uma amnistia para separatistas da Catalunha envolvidos na tentativa de autodeterminação da região com os socialistas de Pedro Sánchez.

Como os indultos e a amnistia, a questão da “soberania fiscal” para a Catalunha, semelhante à que já existe para o País Basco e Navarra, está a gerar nova polémica em Espanha, incluindo entre dirigentes do PSOE. O caso basco e navarro reconhece especificidades históricas e é uma exceção dentro das 17 regiões autónomas, sendo considerado pouco ou nada solidário com o resto do país.

Por este motivo, inclusivamente dirigentes do PSOE, como a número dois de Sánchez no partido e no governo espanhol, a ministra das Finanças Maria Jesús Montero, rejeitavam até há pouco tempo a possibilidade de ser replicado na Catalunha, para atender a reivindicações das forças independentistas.

A viabilização de um novo governo do PSC, estrutura regional do PSOE, tem dividido a ERC, pressionada publicamente, sobretudo, pelo também independentista Juntos pela Catalunha. O JxCat, do antigo presidente regional Carles Puigdemont, aposta na repetição das eleições e condenou que os republicanos estejam dispostos a dar o poder a “um espanholista” e acabem com a frente separatista que, nos últimos 14 anos, uniu os partidos de esquerda e direita que querem a independência.

Salvador Illa foi o mais votado nas eleições de 12 maio e os partidos independentistas perderam a maioria absoluta que, juntos, tinham no parlamento regional há mais de uma década e com a qual foram garantidos governos separatistas nos últimos 14 anos.

O líder do PSC, que foi ministro da Saúde de Espanha na pandemia, terá de ser investido presidente da Generalitat numa votação no parlamento catalão até 26 de agosto, para evitar a repetição das eleições.