Falta menos de um mês para o país ir a votos, mas ainda não é claro, após oito anos da mais desastrosa liderança socialista de sempre – e a competição era feroz, com quase todos os governos liderados pelo PS em 30 dos últimos 50 anos não só a destruir valor à pazada como a contar no cadastro com bancarrotas e consequentes pedidos de ajuda externa… –, que os portugueses vão escolher a mudança.

Talvez haja uma certa dose de síndrome de Estocolmo neste povo, que se apaixona por quem reconhecidamente o trata mal, ou de vertigem naqueles que não podem resistir a confiar em quem sabe que o levará pelo caminho do abismo. Certo é que, entre o que a geringonça desfez do que o país dolorosa mas conscientemente cumprira por ser absolutamente necessário ao seu futuro – do emagrecimento da função pública, de novo tornada obesa ao mesmo tempo que se digitalizou (!), à privatização da TAP, agora retomada depois de incompreensivelmente renacionalizada a companhia – e a subsequente fuga para a frente de Costa e Cia., Portugal está hoje pior em quase tudo do que quando os socialistas tomaram o poder pela última vez.

Ainda assim, não parece ser claro para quem diz que vota que é urgente arrepiar caminho se queremos ser mais do que o refugo da Europa. Continua perdido, o povo, entre delírios e indecisão. Ainda mais incompreensível quando se atém a hipóteses que incluem ministros caídos em desgraça por infindáveis trapalhadas mas que agora se fazem sérios candidatos a liderar o país, vendedores de modelos de governação estatizantes com provas dadas na miséria a que votaram aqueles que conseguiram enganar e fórmulas de incomportável radicalização.

A verdade é que os portugueses estão perdidos. Mas se calhar não é caso para menos, num país que à sexta-feira empurra um batalhão armado oceano adentro em busca de perigosos bandidos e quase um mês depois de os manter fechados a cadeado – sem se ralar com “principiozinhos” cada vez mais desprezados como os direitos individuais e a presunção de inocência – conclui que, se calhar, eles não fizeram nada Ou se calhar fizeram, mas não se pode provar. “Se calhar”, porque o caso ainda mal começou… e qualquer pessoa que tenha tido de resolver pela via legal uma injustiça ocorrida na sua vida, privada ou corporativa, sabe que há aqui uns bons anos de luta na lama pela frente. Sem grande garantia de que, depois de se espalhar amplamente a sujidade, se chegue a conclusões ou se consiga fazer justiça.

Pelo caminho, porém, consegue-se qualquer coisa: caem governantes como fruta podre e perde-se irremediavelmente a confiança nas instituições que nos deviam servir de faróis, destrói-se a crença em referências de valor e esboroa-se a esperança de ver aparecer quem possa, por mera vontade de servir a comunidade, recuperar Portugal para um caminho de futuro, de crescimento, de riqueza, de seriedade e de ambição.

Foi a este ponto que nos trouxe a degradação dos valores, alimentada à custa da mediocridade e da falta de exigência em quem nos governa. Foi aqui que nos deixou a ignorância, a incompetência e a subjugação do bem comum ao bem de alguns. Ao ponto de fazer os melhores fugirem a sete pés do palco político, deixando livre o espaço apenas para mais oportunismo e flagrante incapacidade.

Pensando bem, é natural que o número de indecisos continue tão elevado a um mês das legislativas, antecipadas pela queda prematura do único governo de maioria absoluta de António Costa (conseguido à custa do discurso do medo). É porém cada vez mais aparente que a indecisão de muitos será porventura entre fazer as malas e partir em busca da civilização perdida noutras paragens ou simplesmente deitar a toalha ao chão e aceitar uma vida despojada de propósito e de ambição, numa República reduzida às bananas da Madeira.

Diretora