Segundo a World Wide Fund for Nature, reduzir o consumo de proteína animal é benéfico para a saúde e para o ambiente, nomeadamente na redução de emissão de gases de efeitos de estufa. As alternativas vegetais e a alimentação flexitariana são apontadas como um dos caminhos a seguir para mitigar o impacto negativo da indústria da carne no planeta. E se as motivações são diversas para adotar uma alimentação plant-based, a tendência de crescimento, essa, é notória, em Portugal e no mundo em geral.

O foco no bem-estar implica uma alimentação mais consciente e respostas inovadoras da parte das marcas. Conversa com Hélia Duarte, Brand Manager de Garden Gourmet, uma marca da Nestlé que aposta neste segmento de mercado.

Que produtos se destacam numa alimentação de base vegetal/plant-based?

Uma alimentação de base vegetal pode ser tão diversificada, divertida e saborosa quanto uma alimentação de base animal – não significa comer só saladas. As opções são diversas, é apenas necessário saber escolher os produtos, como por exemplo, vegetais, saladas e, à base de proteína vegetal, hambúrgueres, falafel, nuggets e almôndegas. É necessário ter um prato equilibrado, com porções bem definidas: metade do prato deve ser composta por hortícolas, ¼ do prato por hidratos de carbono e o restante ¼ deve ser constituído por fontes de proteína.

Que impacto tem uma alimentação plant-based na saúde e bem-estar?

Em qualquer tipo de alimentação, quando pensamos no impacto na nossa saúde, temos de pensar na sua composição nutricional e se esta respeita as nossas necessidades energéticas e nutricionais, individualmente. Especificamente, sobre uma alimentação plant-based, a Associação Portuguesa de Nutrição aborda diversos estudos que apontam que contribui para uma menor incidência de doença crónica – diabetes do tipo 2, hipertensão, obesidade e doenças cardíacas –, em comparação com outras dietas, como também para uma menor probabilidade de desenvolver cancro e, ainda, melhorias na saúde cardiovascular. Outros benefícios desta alimentação são a diminuição do estado depressivo, melhoria do humor e melhoria da qualidade de vida – também por estarem associados à redução das despesas de saúde. Penso que estas razões são mais do que suficientes para que as pessoas incorporem mais refeições plant-based na sua alimentação.

Existem vários tipos de dietas plant-based – de acordo com as necessidades ou compromissos de quem adota esse estilo de alimentação. Alguma delas (vegana, vegetariana, piscitariana, etc.) tem maior expressão em Portugal? Qual a principal motivação para a adoção de cada uma delas?

Muito recentemente estive na apresentação de um estudo sobre a alimentação plant-based em Portugal (“The Green Revolution”, 2023, Lantern) que falava, maioritariamente, de veggies, com foco em: vegetarianos (dieta de base vegetal que exclui os produtos animais), vegan (alimentação que exclui o consumo de qualquer produto animal ou de origem animal) e flexitarianos (dieta de base vegetal que inclui alimentos de origem animal). Neste estudo, bianual e que mostra a evolução do consumidor português, foi percetível que a alimentação flexitariana continua a ser bastante superior à vegetariana e vegan, e que uma grande faixa da população portuguesa – um milhão de pessoas – escolhe conscientemente incorporar proteína vegetal na sua alimentação, seja de forma permanente ou em algumas das suas refeições. Neste estudo, vimos que as motivações para seguir uma dieta veggie para os flexitarianos versus vegetarianos e vegans são diferentes. No que toca a reduzir o consumo de carne, os flexitarianos movem-se principalmente por motivos de saúde, enquanto os vegetarianos e vegans são incentivados a adotar este tipo de alimentação devido à sua preocupação ambiental e pelos animais.

Há números recentes sobre a população adulta em Portugal que tenha adotado uma alimentação plant-based?

Sim, e confesso que fiquei surpreendida com alguns dos resultados deste estudo que já referi. O primeiro foi a evolução da faixa etária do consumidor veggie: é expectável que a maior fatia se situe entre os 25-34 anos (16%), porém, neste ponto, o que me surpreendeu foi perceber que a população com +65 é o segundo maior grupo veggie em Portugal (13%) e com uma evolução positiva face ao estudo realizado anteriormente. O segundo dado que considerei surpreendente neste estudo, foi perceber que 49% dos omnívoros em Portugal está a tentar reduzir o consumo de carne, especialmente carne vermelha. Considerei surpreendente por ser um número elevado e porque, na verdade, também me revejo nesta estatística. Acredito que é, também, neste campo que a Garden Gourmet pode ajudar a fazer a diferença – através dos seus produtos saudáveis, práticos e rápidos de confecionar e, acima de tudo, com muito sabor, que facilitam muito esta redução do consumo de carne e a transição para incorporar a proteína vegetal na alimentação.

Há estudos que comprovem uma relação causa-efeito positiva no ambiente, nomeadamente ao nível da prevenção da perda de biodiversidade?

Existem diversos estudos sobre o impacto da alimentação no ambiente. Vou facilitar a leitura dos mesmos e destacar apenas dois. Em primeiro, a investigação realizada pela Universidade de Oxford, que defende que uma alimentação vegana pode reduzir a pegada de carbono até 73%. Esta análise sublinha, ainda, que a transição para as dietas de base vegetal beneficiaria não só o planeta, a qualidade da água e a biodiversidade, como também a saúde humana, como já referi anteriormente.

O segundo, trata-se do relatório da Chatham House, que revela que o sistema alimentar global é o principal driver para a perda de biodiversidade no mundo, devido à conversão dos ecossistemas naturais para produção agrícola ou pastagens, por exemplo. Este estudo apresenta ainda, como um dos três pontos críticos para se criar um sistema alimentar sustentável, a mudança para uma dieta plant-based, uma vez que permite, para além de reduzir os casos de doenças, a utilização de menos recursos naturais e a redução das emissões de gases poluentes.
Neste ponto, sou da opinião de que é melhor sermos muitos a fazer um pouco do que poucos a fazer muito, e é por esse motivo que incorporo, uma vez por semana, refeições com proteína vegetal, muito ao estilo de um “Meatless Monday”.

Quais os principais mitos associados a uma alimentação de base vegetal?

Diria que a falta de sabor é um dos principais mitos associados à alimentação plant-based – um mito que se compreende, dado que, tradicionalmente, para conseguir uma refeição saborosa, tínhamos à disposição produtos menos saborosos e que necessitavam de mais confeção. No entanto, tem-se vindo a desconstruir este mito com a entrada de marcas como a Garden Gourmet, que oferecem opções cheias de sabor. Um outro mito, na minha perspetiva, é a monotonia do prato: a gastronomia é importante em Portugal e a alimentação de base vegetal pode muitas vezes dar a ideia de monotonia, porém basta estar mais atento aos produtos. Há muita variedade de produtos e imensas receitas com alimentos de proteína vegetal variados (como almondegas, nuggets, filetes semelhantes ao peixe ou à carne), que nos permitem fazer diferentes refeições, com texturas e sabores variados.

Falando na Garden Gourmet, a marca está presente em quantos países?

Em 28 países em todo o mundo e está, constantemente, a expandir a oferta plant-based com produtos novos e surpreendentes.

Quando chegou a Portugal e como tem evoluído a procura dos seus produtos?

A marca chegou a Portugal em setembro de 2019 e, desde então, temos procurado fortalecer o portfólio da marca com produtos que se adequem ao consumidor português. A resposta tem sido bastante positiva, com uma procura sempre crescente. Somos líderes de categoria e temos muito orgulho nisso, mas também muita responsabilidade. É uma categoria em crescimento e nós acreditamos que temos o dever de a ajudar a continuar a crescer.

Têm parcerias para posicionar a marca?

Acredito que, especialmente nesta categoria e com foco nos nossos objetivos de sustentabilidade, o percurso faz-se sempre em conjunto e, especialmente, com os retalhistas. São eles quem disponibiliza os produtos para o consumidor final, como e quando quiserem. É, por isso, essencial trabalhar com retalhistas que se preocupam, tal como nós, em oferecer produtos de qualidade, saudáveis, saborosos e sustentáveis ao consumidor português. Para além disso, ainda existe um grande trabalho a fazer em conjunto, de modo a garantir que esta categoria é mais visível, para os consumidores terem mais facilidade em encontrá-la no ponto de venda. Ainda, e não menos importante, são as parcerias de comunicação que nos ajudam a levar a mensagem plant-based a mais consumidores portugueses e a mostrar que é fácil começar esta transição.

Há concorrentes diretos? Como se diferenciam?

Temos, e ainda bem!  Penso que a concorrência é importante para continuar a alavancar esta categoria, que está em crescimento em Portugal. Em alimentação plant-based podemos pensar em diversos produtos, não apenas soluções de refeições plant-based (como Garden Gourmet e outras marcas), como também qualquer produto plant-based que possa ser usado para uma refeição. A Garden Gourmet destaca-se por oferecer produtos com um bom perfil nutricional – todos os nossos produtos são avaliados com Nutri-Score A ou B; apenas dois em 12 são Nutri-Score B. Também pelo sabor dos produtos que é surpreendente – pessoalmente, e para quem estiver curioso e queira provar, recomendo as almôndegas, o meu favorito mesmo antes de entrar na marca, uma vez que oferecem uma textura e um sabor muito semelhante às almôndegas originais, ou a mais recente novidade, Marine-Style Crispy Filet – o análogo ao peixe branco, um produto muito pouco visto no mercado e noutras marcas. Por último, a Garden Gourmet destaca-se através da inovação que nos permite oferecer produtos diferenciadores ao consumidor português, como o caso do VUNA – alternativa vegan ao atum, 100% vegetal, preparado à base de proteínas de ervilha.

Quais são as metas da Garden Gourmet para os próximos cinco anos?

O grande objetivo para Garden Gourmet nos próximos anos é o de continuar a crescer e liderar o crescimento da categoria plant-based através de inovação, informação e comunicação. Queremos garantir que temos o portefólio ideal para o consumidor português, apostando em inovações que façam sentido, mas também, numa oferta que seja acessível a todos. Iremos continuar a destacar os benefícios de uma alimentação plant-based; incentivar os portugueses a, pelo menos um dia por semana, adotar refeições em que substituam a proteína animal por proteína vegetal e dar a provar os nossos produtos.