Líderes da extrema-direita alemã discutiram um plano de deportação em massa de migrantes. Segundo o alemão Correctiv, a reunião ocorreu em novembro e teve lugar numa vivenda em Potsdam, cidade perto de Berlim, envolvendo membros do partido de extrema-direita alemão Alternativa para a Alemanha (AfD), neonazis e empresários. O foco da discussão terá sido um “plano diretor” para expulsar estrangeiros ou pessoas com a cidadania alemã de origem estrangeira, e terá sido organizada pelo antigo proprietário da cadeia de padarias alemã “Backwerk”, Hans Christian Limmer, e pelo extremista de direita Gernot Mörig.

Esta quarta-feira, o partido AfD admitiu ter discutido com um extremista austríaco que defende a “re-emigração”, tendo, no entanto, negado apoiar a expulsão em massa de estrangeiros.

Martin Sellner, austríaco radical e figura-chave da “Nova Direita” pan-europeia, em 2019, confirmou a presença no encontro. “Foi no final de novembro, apresentei o meu livro e o meu conceito de identidade da re-emigração”, mas refuta qualquer “plano secreto” e afirma que o contexto dos seus comentários foram manipulados. Sublinha ainda que “não pode ser feita qualquer distinção entre diferentes tipos de cidadãos [alemães] – que não deve haver cidadãos de segunda classe – e que todas as medidas de re-emigração têm de ser legais”. Sellner defende o envio de até dois milhões de pessoas para o Norte de África, entre os quais requerentes de asilo, estrangeiros e cidadãos alemães não assimilados. O jornal britânico The Guardian relembra que as suas opiniões extremistas valeram-lhe a proibição permanente de entrar no Reino Unido.

O termo “re-emigração” seria referente ao regresso forçado de migrantes aos seus países de origem, incluindo mesmo os que detêm nacionalidade alemã. Sellner explica que “A re-emigração inclui não só deportações, mas também assistência local, Leitkultur [cultura orientadora] e pressão para a assimilação. A exigência faz parte de uma política alternativa de migração e família, cujo objetivo é controlar a imigração para que não ultrapasse os limites de acolhimento da Alemanha”.

Recentemente, o descontentamento relativo à imigração terá contribuído para que a AfD conquistasse o primeiro lugar nas sondagens nos cinco estados do leste da Alemanha, três dos quais (Saxónia, Turíngia e Brandenburg) vão a voto no fim deste ano. A reunião sugere uma união de forças entre a extrema-direita tendo em vista um alargamento da sua influência política para breve. Maximilian Krah, o principal candidato do partido às eleições para o Parlamento Europeu, em junho, garantiu que irá trazer o número de migrantes que chegaram ao país em 2022 para a mesa de discussão, alegando que 40% destes são provenientes da Ucrânia.

As propostas abordadas na reunião provocaram indignação, e foram comparadas ao plano inicial nazi de deportar judeus europeus para Madagáscar, antes de se decidirem pelo assassínio em massa.

Esta quinta-feira, o chanceler alemão Olaf Scholz condenou veementemente o ocorrido. “Protegemos todos, independentemente da origem, da cor da pele ou de quão desconfortável alguém é para os fanáticos com fantasias de assimilação”, completa o chanceler. Scholz apela ainda à união entre os democratas, afirmando que “aprender com a história é mais do que apenas falar”, excerto que é inevitavelmente conectado à ditadura nazi, baseada numa política racista. Por sua vez, a ministra alemã do Interior, Nancy Faeser, reiterou que “esta ideologia é dirigida contra os próprios fundamentos da nossa democracia”. “A dignidade do ser humano é inviolável. De todos os seres humanos”, acrescentou.

Texto editado por Fábio Nunes