Aos 49 anos, após mais de dez nos quadros do grupo, os últimos seis a liderar a Altice — Portugal, desde 2017, tornando-se chairman em abril de 2022 e em simultâneo co-CEO internacional da telecom –, chegou ao fim a ligação entre Alexandre Fonseca e a Altice. O gestor português acaba de fazer o anúncio nas suas redes sociais. “Venho comunicar que eu e o Grupo Altice concretizámos um Acordo que põe termo a uma relação de mais de uma década, na qual coloquei toda a minha entrega e dedicação e a quem prestei profunda colaboração. Seguir-se-á uma nova fase com novos desafios”, revelou nas suas páginas de X, Facebook e LinkedIn.
O desde há um ano co-CEO internacional do grupo e chairman da Altice Portugal, que suspendeu funções depois das buscas no âmbito da Operação Picoas, põe assim termo a uma década ao leme da dona da Meo, não revelando ainda qual será o novo cargo que vai desempenhar ou em que empresa o fará, tão pouco as condições em que deixa a Altice.
O NOVO sabe, porém, que o gestor português chegou a “um acordo muito vantajoso” com a telecom, segundo revelou fonte ligada ao processo, o que demonstra que a auditoria interna concluída há um mês foi “conclusiva quanto às boas práticas do gestor” durante todo o tempo que conduziu os destinos da empresa em funções executivas.
O NOVO sabe também que, entre as razões que motivam agora o afastamento voluntário definitivo de Alexandre Fonseca, está a discordância da estratégia do grupo liderado por Patrick Drahi, incluindo cortes ou uma eventual venda de ativos em Portugal.
Legado de crescimento
Escolhido para liderar a telecom em Portugal em 2017 (passara já pela Cabovisão e pela ONI, no universo da ainda PT), recorde-se que foi sob a gestão de Alexandre Fonseca que a Altice Portugal conseguiu inverter as quebras e expandir o negócio da telecom.
Nos cinco anos como CEO, o gestor português transformou uma quebra de receitas de 5% num crescimento de faturação na ordem dos 11% ao ano, para 2,6 mil milhões de euros, com o EBITDA a passar de uma quebra de 4% a uma expansão de 5%, cifrando-se acima dos 900 milhões no ano da sua saída de funções executivas. Também sob a sua gestão, o número de clientes somou cerca de 30 mil por ano, ganhando para a Altice Portugal mais de metade dos novos contratos feitos, e tornando-se líder em todos os serviços.
Tendo conseguido estabilizar as relações laborais na empresa e renovando quadros, quando deixou de ser CEO Alexandre Fonseca tinha engordado os quadros diretos e indiretos em mais de 60%, passando de 9 para 15 mil trabalhadores, incluindo novas áreas de negócio como a Meo Energia, a Meo Blueticket, a Geodesia, a Intelcia e a FastFiber — empresa que comprou a rede de fibra ótica. Foi também sob a sua liderança que se concretizou a venda das torres à Celnex e que a Altice Labs inaugurou a sua expansão em investimento, crescimento, margem e diversificação de geografias, inclusive com a criação de Labs em diversos pontos do país, potenciando um investimento a rondar os 500 milhões de euros anuais dos quais cerca de 15% dedicados a Inovação e Desenvolvimento (I&D).
Operação Picoas sem “impacto material” em Portugal
Em março de 2022, Alexandre Fonseca foi puxado a co-CEO internacional do grupo, mantendo-se chairman do braço português, agora sob liderança de Ana Figueiredo.
Em julho de 2023, na sequência da investigação em curso na Operação Picoas — que tem como arguidos o co-fundador da Altice, Armando Pereira, o seu sócio Hernâni Vaz Antunes, a filha deste, Jessica Antunes, e Álvaro Gil Loureiro, administrador de empresas apontadas como chave no caso de suspeitas de corrupção –, o gestor decidiu suspender todas as funções. Suspendendo-se de funções executivas e não-executivas, “Alexandre Fonseca pretende de forma inequívoca proteger os interesses do grupo Altice, e todas as suas marcas, num processo que é público onde, aparentemente, são indiciados atos a investigar ocorridos no período em que este exerceu as funções executivas de presidente da Altice Portugal”, lia-se então num comunicado emitido pela empresa.
Alvo de buscas, Alexandre Fonseca não chegou a ser citado no processo, merecendo a sua atitude os elogios da Altice pelo “ato responsável” assumido “no caminho para o cabal esclarecimento da verdade”. A empresa levou ainda a cabo uma auditoria interna, concluída a meio de novembro e cujas conclusões não foram divulgadas, limitando-se o grupo a confirmar que “não é expectável” que o caso tenha “impacto material nas contas” e que a Altice Portugal se apresenta como “vítima deste caso, no seu estatuto de ofendida”. Partilhou ainda que os “fornecedores potencialmente implicados representavam aproximadamente menos de 2% dos custos totais da Altice France e menos de 6% dos custos totais da Altice International (sobretudo em Portugal)”, tendo os mesmos sido afastados e sido criados mecanismos de controlo mais robustos para melhorar procedimentos.