O elevador social avariou e parece que ainda ninguém deu por isso ou está para se ralar. Mas o desgaste de se estar condenado a subidas íngremes sem suporte mecânico nem certeza de conseguir chegar ao menos ao patamar seguinte já está a ter efeitos. E não são nada bons.

Com a perspetiva de ficarem desempregados ou eternamente mal pagos, em lugar de se resignarem a um futuro assim-assim, os planos dos portugueses nascidos no novo século passam cada vez mais por procurar oportunidades fora daqui, longe daqui. Começam a aventurar-se quando ainda estão a estudar e já nem olham para trás quando chega a hora de escolher como viver. E ainda que Portugal sofra já os efeitos sociais e previdenciais de ter uma das populações mais envelhecidas de um continente também ele bem encaminhado para a geriatria, não se vê sinal de intranquilidade. Não se ouve palavra de inquietação nem se antecipa o chiar das rodas para pôr em marcha um plano que crie condições para que fiquem.

Pela primeira vez na História, os jovens europeus – e os portugueses em particular – vivem pior do que a geração que os precedeu. Com poucas perspetivas de evolução nas carreiras e sujeitos a rendimentos alinhados pela bitola medíocre, deixam o país em hemorragia de sangue novo. E não há quem, entre os iluminados decisores, abra os olhos para o problema que já é e para o drama que vai ser quando a pirâmide demográfica há muito invertida tombar e o Estado social ficar ligado às máquinas.

Perante esta triste realidade, assistimos pasmados à revelação daquilo que são as prioridades de quem nos governa. Para quem já saiu, a solução é substituir os nossos jovens por imigrantes – venham todos!, mas não esperem que alguém mexa uma palha pela vossa integração. Disso, há pouco, que planear não é connosco e muito menos se os efeitos demoram uma década ou mais a ver-se. E assim os vamos recebendo de sorriso na cara mas sem sequer lhes saber o nome – mesmo porque muitos dos que chegam usam a porta de entrada mas não pensam aqui fazer sala, vão por essa Europa adentro, em busca também da sua melhor oportunidade.

E cá seguimos nós, felizes e contentes, a rebentar com a miudagem desde a mais tenra idade. Ensinamos-lhes que não vale a pena serem os melhores, porque não é bonito apontar diferenças e a discriminação é sempre má, mesmo a positiva.

Mostramos-lhes que a sua educação pouco nos importa, arrastando métodos de ensino e currículos bolorentos, fingindo a inovação com uns computadores menos capazes do que os telemóveis que trazem no bolso e que os impedem de bocejar tanto a ouvir quem desespera por lhes meter qualquer coisa na cabeça mas já não tem condições nem reconhecimento que deem alento.

Priorizamos reformas sucessivas que os professores nem conseguem chegar a saber, somando mais uma nada-morta reforma educativa rumo a um Portugal moderninho.

Dizemos-lhes que o que vale mesmo não é saber ler e fazer contas, ter pensamento crítico ou entender porque é importante votar, para que servem os impostos que vão pagar ou como podem ajudar os menos favorecidos. Importante é aprenderem que não há meninos e meninas e que todos devem poder usar as casas de banho onde se sentirem bem e serem tratados pelos pronomes que melhor lhes assentam à segunda, quarta e sexta.

As perdas da pandemia? Quem quer saber disso se já nem os números reais da covid estão à vista para se poder perceber bem a dimensão do que roubámos às novas gerações?

É assim que Portugal trata os seus mais novos, com um olho no umbigo cá do burgo e o outro na deslumbrante nova moda que se avista lá fora.

Não espanta que saiam, que fujam daqui e que ponham os seus talentos ao serviço de quem lhos reconhece. Por aqui, só terão o poucochinho. Este país não é para jovens.

Diretora