Qual será o meu incentivo se estiver a prazo?

A chamada “Preferência temporal” é  um conceito que argumenta que considerando a escassez do tempo, o ser humano vai ter uma preferência por satisfazer as suas necessidades no mais curto espaço de tempo possível.

Se transferirmos esta ideia para a política, é fácil deduzir que num período de quatro anos a preferência do político é satisfazer as suas necessidades pessoais imediatas – está a prazo. As consequências para o coletivo, não são problema seu.

Deste modo, torna-se de facilmente identificável que quase nunca há um incentivo positivo, pelo que é extremamente ingénuo acreditar que quem nos governa, “age para nosso bem”.

O maior incentivo do político, é continuar a satisfazer as necessidades imediatas enquanto for possível, donde podemos concluir que para chegar ao topo num cargo político na esmagadora maioria das vezes é preciso ser imoral. A pessoa que se rege por fortes princípios morais é expurgada pelo próprio sistema.

Não há sistemas perfeitos, mas aprendemos a não pensar nas falhas da democracia. E é importante compreender que também este sistema é falho. Talvez mais do que as amarras sociais já impregnadas na mente, nos permitem sequer ousar pensar.

Se a satisfação da necessidade imediata é a motivação, a tendência é a apresentação de propostas populistas, promessas vazias de modo a alcançar o fim maior de permanência em posição de poder, já que o poder abre portas à distribuição de privilégios, recursos, benefícios quem está no topo da cadeia não irá hesitar em gastar o dinheiro dos contribuintes para manter este luxo e a tendência é que as personalidades mais bem-intencionadas ou nobres se recusem a jogar este jogo.

Enquanto me debruço sobre esta ideia, aqui ao lado em Espanha, falha a democracia.

Debate-se a legitimidade de quem ganhou as eleições, em pleno sistema democrático, deve governar.

Nunca a ideia da preferência temporal alta, com todos os seus incentivos distorcidos se apresentou tão claramente e tão próxima, como estamos a testemunhar em Espanha.

Vejamos que um candidato que perdeu as eleições, está disposto a desrespeitar a vontade da maioria colocando abertamente o sistema democrático em cheque, aproveitando as suas brechas, para ter mais quatro anos de poder, privilégios e recursos.

O candidato do PSOE, quer governar Espanha, com a ajuda dos que se querem desagregar de Espanha e ainda aplaudem e se divertem com a forma como o sistema lhes permite fazer de todos os outros um joguete.

Se as ambições de Sánchez forem conseguidas, Espanha será refém de pessoas que desrespeitaram a lei, e de outras que cometeram crimes de sangue. Pode existir uma desagregação do país de forma atabalhoada, caótica e catastrófica. O cenário parece demasiado grave.

Mas isso torna-se muito pouco, nas mãos de quem poderia jogar o jogo pelas regras que diz respeitar. Afinal, daqui a quatro anos, há uma porta aberta, que se começou a desenhar durante todos este tempo, quem sabe na Europa? Porque haveria Sánchez de estar preocupado? As suas necessidades parecem continuar garantidas. Desde que agora ele garanta a continuidade do sistema que o elegeu.

Acresce que Espanha, é uma monarquia constitucional.

Num sistema monárquico, o Rei sabe que permanece de forma vitalícia e que terá de viver com as consequências do que se passar. O foco não está nas suas necessidades imediatas, já que as suas filhas terão de viver também com as consequências do que advir. No fundo, o país é a sua casa, de forma simplista, a sua propriedade privada.

Como em qualquer propriedade privada, sabemos que se fizermos uma escolha pobre nas nossas decisões, é uma questão de tempo até termos problemas.

O Rei não quer assinar a amnistia dos inimigos da sua casa. Sabe as consequências, mas nada pode fazer. O caminho é pela satisfação pessoal dos desejos imediatos.

A Democracia falhou, mesmo aqui ao lado, em nome do oportunismo.

Coordenação Ladies of Liberty Alliance – Portugal