A vergonha que se passou nesta semana na Universidade Católica é realmente digna de nota. E bem demonstrativa do estado a que chegámos: vale tudo para “não deixar passar o Chega”.

A violência é sempre condenável, mas a vontade de amarrar André Ventura a uma suposta agressão – contradita por alunos e professores que estavam presentes e se escandalizaram com a proporção do relato amplificado – só gerou mais absurdo. Afinal, não foram os “gorilas do Chega” que expulsaram o jornalista que “fazia o seu trabalho”, foram os alunos que pediram que abandonasse a sala onde decorria uma conferência privada, fechada à imprensa, e que tiveram de lhe forçar a saída. Depois, o aluno foi identificado – afinal era da IL, mas também serve o objetivo de mostrar que a direita é intrinsecamente má – e o nome de um jovem de 22 anos escarrapachado para o mundo, que logo se prontificou a enviar-lhe insultos e ameaças, obrigando-o a apagar-se das redes sociais. Tudo bem alimentado pela voracidade da máquina mediática que diaboliza Ventura mas é, afinal, a sua grande promotora. Tudo está bem se for para denegrir o Chega – e se pelo caminho se puder espalhar lama sobre uma instituição reputada de ensino superior, privada e assumidamente católica, melhor. Uma vergonha sem limites.

Não defendo as ideias do Chega ou de André Ventura. Como também não me revejo nos sonhos húmidos da extrema-esquerda. Considero-os igualmente inaptos para conduzir os destinos de um país que se quer capaz de crescer e de se desenvolver, trazendo riqueza e possibilidades de evolução aos portugueses. Mas não posso negar que sejam, todos eles, partidos legitimados pela democracia. E não tenho a veleidade de considerar quem neles vota desmerecedor de respeito.

Se queremos melhores partidos e melhor liderança, é por nós que temos de começar: pela exigência com que escolhemos líderes e avalizamos políticas públicas, pela coragem de assumirmos voz ativa na sociedade, pela responsabilização em vez da desculpabilização de erros, atrasos e crimes.

O Chega é tão partido como os outros. Apesar de sucessivas tentativas de o empurrar para a ilegitimidade, o partido de Ventura existe nos mesmos termos do que todos os demais nesta democracia e não só tem representação parlamentar como é o terceiro mais votado pelos portugueses, prevendo-se que torne a crescer, e muito, nas próximas legislativas. Que se tente calar um terço dos portugueses votantes, que se queira anular a vontade e a representatividade porque se considera que uns são mais legítimos do que outros, é o primeiro sinal de que a democracia já viu melhores dias.

Não colhem, lamento, os argumentos do radicalismo, se a extrema-esquerda nunca fez a menor comichão – nem sequer quando viabilizou e manteve seis anos de uma governação lamentável e pejada de casos, acusações, processos judiciais e faltas de ética flagrantes – aos que rasgam as vestes perante a ideia de o Chega ser determinante para formar um governo à direita. Um governo que represente a vontade dos portugueses, se a 10 de março puserem mais deputados do lado direito do hemiciclo do que à esquerda.

Não serve a teoria de que os pecados da extrema-esquerda são menos graves do que os da extrema-direita. Não apenas é mentira – como provam a miséria e despotismo a que têm de se sujeitar aqueles que viveram e os que vivem ainda em regimes falhos, da China à Venezuela – como a aparente inocuidade e bonomia de ideias como sair da NATO, deixar o euro, nacionalizar a eito, pôr termo à iniciativa privada e ou levar a igualdade ao extremo geométrico seria fórmula certa para fazer o país recuar 100 anos e as liberdades, direitos e garantias passarem a depender do crivo de quem governa. Nem sequer os tiques de xenofobia e as ideias radicais de segurança valem, numa sociedade que se faz de brandos costumes e aceitação.

Infelizmente, construiu-se uma narrativa para anular parte dos portugueses – e até os partidos à direita a engolem, de tal forma que já têm vergonha de erguer as suas bandeiras. Mesmo que isso lhes custe a perda de identidade. E de votos – sobretudo para André Ventura.

Diretora