O novo ano deverá trazer uma desaceleração do crescimento da economia portuguesa, com uma expansão do PIB entre 1% a 2%, segundo os economistas consultados pela Lusa, que esperam uma ligeira recuperação do consumo privado e investimento.
O abrandamento esperado para 2024 está em linha com a desaceleração esperada para a zona euro, numa altura em que a guerra na Ucrânia e o novo conflito entre o Hamas e Israel continuam a pesar no sentimento económico.
Depois da expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 6,8% em 2022, o crescimento da economia portuguesa já desacelerou em 2023, apesar de um comportamento favorável acima do esperado, e deverá voltar a ficar aquém do ano anterior.
“Aponto para um crescimento da economia portuguesa entre 1% e 1,5%, com um contributo de cerca de um ponto percentual com origem na procura interna – com um crescimento positivo, mas reduzido, do consumo privado e um crescimento mais incerto do investimento – e um contributo entre o nulo e o ligeiramente positivo com origem na procura externa líquida”, assinala o economista e professor do ISEG António Ascenção Costa.
Uma visão partilhada pelo economista e diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, Pedro Braz Teixeira, que aponta para um crescimento entre 1% e 1,5% em 2024, num cenário “de riscos significativos, sobretudo negativos”.
Pedro Braz Teixeira acredita que as exportações podem voltar a crescer, “ainda que de forma limitada, interrompendo as quedas dos últimos meses”, uma vez que a economia da União Europeia poderá “recuperar do ano muito fraco que está a terminar, embora não deva ainda conseguir crescer em linha com a tendência de médio prazo”.
Em termos internos, aponta a expectativa de que “se inicie o ciclo de descida das taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE), que deverá começar a sentir-se nas Euribor por antecipação, ainda antes das diminuições terem lugar”.
“Há um grande debate sobre o ritmo de queda das taxas de referência, mas não há grandes dúvidas de que deverão começar a baixar. Assim, isso deverá aliviar o consumo privado, com a redução das prestações do crédito à habitação, para além de permitir uma recuperação do investimento”, refere.
O economista destaca que as perspetivas futuras também deverão estimular o investimento, bem como os esperados avanços quer no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), “quer nas medidas de fomento da habitação, que se esperam do novo governo”.
A fragilidade das perspetivas para a economia mundial em 2024, que condicionam a economia portuguesa, é também apontada pelo economista e coordenador do NECEP – Católica-Lisbon Forecasting Lab, João Borges de Assunção.
“O nosso cenário central para a economia portuguesa vai da estagnação ao crescimento de 2% com um ponto central de 1%”, indica.
O economista assinala que em Portugal “o crescimento pode vir mais do consumo privado já que a procura externa e o investimento se perspetivam também frágeis, apesar dos efeitos positivos do PRR”.
No Orçamento do Estado para 2024 (OE2024), o Ministério das Finanças aponta para uma desaceleração do crescimento do PIB dos 2,2% registados em 2023 para 1,5% em 2024.
Entre as principais instituições económicas nacionais e internacionais, o Banco de Portugal (BdP) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) também preveem uma expansão do PIB de 1,5% em 2024, com o Conselho das Finanças Públicas (CFP) a apontar para 1,6%.
Por seu lado, a Comissão Europeia espera um crescimento de 1,3%% e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) de 1,2%.