A 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28), que decorreu no Dubai, nos Emiratos Árabes Unidos (EAU), acabou por ser histórica, apesar de todas as polémicas e desencontros na redação do texto de final das conclusões, porque, pela primeira vez, se alude ao fim da utilização de combustíveis fósseis e se fixa uma meta para que isso aconteça, até 2050.

O texto final, negociado noite dentro e para lá da hora prevista para o encerramento da conferência, incentiva a “transição dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos, de forma justa, ordenada e equitativa, acelerando a ação nesta década crucial, a fim de alcançar a neutralidade de carbono em 2050 em acordo com recomendações científicas”. Foi aplaudido, assim como o sultão Ahmed Al-Jaber, que presidiu à COP28, mas que é também ministro da Indústria e Novas Tecnologias dos EAU e lidera a Companhia Petrolífera Nacional do Abu Dhabi (ADNOC, na sigla em inglês), o que motivou críticas de greenwashing e de conflito de interesses. Ainda assim, as críticas e uma proposta inicial de texto que causou polémica acabaram por baixar as expectativas de que se chegasse a um acordo.

“Pela primeira vez em 30 anos, podemos estar a aproximar-nos do início do fim dos combustíveis fósseis. Estamos a dar um passo muito, muito significativo” para limitar o aquecimento global a 1,5°C, afirmou hoje o comissário europeu para o Clima, Wopke Hoekstra. “Quer gostem ou não, a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis é inevitável”, escreveu o secretário-geral da ONU, António Guterres, na rede social X (antigo Twitter), ainda se questionando se o acordo não chega “demasiado tarde”. Estados Unidos da América, China, Brasil, entre outros, afinaram pelo mesmo diapasão.

As negociações prolongadas permitiram que se chegasse a um consenso ao deixar de fora a palavra “eliminação”, contestada pelos países exportadores de petróleo, e substituiu-a por “transição”, o que permite uma diferente interpretação, desde que a meta de 2050 seja cumprida.