Não é nada de que não se estivesse à espera e vou plagiar um texto que escrevi a 10 de Novembro do ano passado: “Dificilmente haverá uma maioria de esquerda, a acreditar pelas sondagens ainda antes desta crise política e dificilmente haverá uma maioria de direita sem os deputados do Chega. Acreditando que Luís Montenegro cumprirá a sua palavra e não fará qualquer tipo de acordo com o partido de André Ventura, poderemos estar numa situação que António Guterres quis evitar em 2002: um verdadeiro pântano político. Ou seja, ou o Chega por sua iniciativa deixa o PPD governar ou dificilmente teremos um governo estável nos próximos anos.”

A verdade é que, como titulava esse texto, O pântano é agora. Após o episódio da aprovação do fim de pagamento nas SCUT do interior e do Algarve, que juntou PS e Chega numa coligação contra a vontade do PPD, é claro que este Governo terá grandes dificuldades em travar iniciativas das oposições e aprovar iniciativas suas. Não há maior pântano que este, o de um Governo que corre o risco de ser governado por partidos que não fazem parte da AD. Ao mesmo tempo, nem PPD nem PS nem Chega parecem ter receio de novas eleições no primeiro trimestre de 2025.

O Governo acredita que pode repetir a estratégia de Cavaco Silva com a maioria relativa que tinha entre 1985 e 1987, vitimizando-se e culpando a oposição de impedir o seu trabalho à frente dos destinos do país. O PS aposta na narrativa de que o Governo não tem ideias, não tem iniciativa, é incompetente, é impreparado e que é fraco, sem um projecto para o país. Já o partido de André Ventura vai continuar a dizer que tinha razão ao querer um acordo estável de governo numa coligação pós-eleitoral entre a AD e o Chega e que vai aprovar todas as medidas que ache boas, mesmo vindas do PCP ou do Bloco de Esquerda.

O problema, dada a aceleração dos tempos políticos e as mudanças do comportamento do eleitorado, é que é hoje impossível prever que composição da Assembleia da República sairia de uma eleições nos inícios de 2025. Terá o PPD razão ao achar que pode repetir o resultado de Cavaco Silva em 1987, em que teve a sua primeira maioria absoluta? Ou essa comparação já não faz sentido 37 anos depois, até porque o fenómeno PRD nada tem de similar com o Chega?

As dúvidas são, por isso, muitas e não se vê como sair deste pântano político. Nada nos garante que novas eleições permitam uma vitória do PPD em que o Chega não seja necessário para formar uma maioria de direita nem nada nos garante que uma vitória do PS venha acompanhada com uma maioria de esquerda que o permita voltar ao governo. Percebemos hoje que, apesar de inevitáveis, estas últimas eleições colocam-nos mais problemas do que soluções.

Mais: se, por acaso, o PS vencer as eleições para o Parlamento Europeu, o PPD ficará ainda mais frágil e com ainda menor legitimidade interna, face ao empate de 78 deputados que tem com o partido de Pedro Nuno Santos. Numa altura de execução do PRR, necessidade de continuar a baixar a dívida, instabilidade na Europa com a guerra na Ucrânia e o crescimento da extrema-direita no velho continente, o que menos precisávamos era de um governo fraco e sem grande capacidade de iniciativa.

É verdade que há vários exemplos por essa Europa fora de parlamentos muito divididos, sem maiorias claras, mas normalmente isso acontece em países bastante mais ricos e com uma grande estabilidade nos serviços públicos, em que o aparelho do Estado não é tão dependente do funcionamento do governo como acontece em Portugal.

Precisávamos de um governo de Luís Montenegro que quisesse dialogar com as oposições para poder aplicar o seu programa – ainda que tivesse de fazer concessões, coisa normal em democracia – e precisávamos de partidos da oposição, nomeadamente o PS, que estivessem dispostos a fazer acordos com o Governo para que o país não ficasse paralisado e a viver num impasse que ninguém deseja.

Infelizmente, nem uns nem outros parecem ter a responsabilidade necessária para colocar os interesses dos portugueses à frente dos seus próprios interesses e dos interesses dos seus partidos.

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia