A primeira vacina contra a malária começou a ser administrada esta segunda-feira em crianças do Camarões, avançou o jornal The Guardian. Chama-se RTS,S, ou Mosquirix, e representa um desenvolvimento significativo para eliminar a doença no continente africano.
As crianças do Camarões, país da África Ocidental, são as primeiras no mundo a receberem uma vacina de rotina contra a doença. Há 662 mil doses e, na primeira etapa, apenas os bebés até seis meses podem tomar gratuitamente a vacina, que requer 4 doses para ter o ciclo completo, e que já obteve aprovação por parte da Organização Mundial de Saúde (OMS).
“Após mais de 35 anos de trabalho dedicado com os nossos parceiros para desenvolver a primeira vacina contra a malária do mundo, a Mosquirix, é gratificante vê-la pela primeira vez a ser utilizada por rotina. Estamos entusiasmados com o facto de mais países onde a malária é endémica se estarem a preparar para introduzir a vacina nos próximos meses”, sublinha Thomas Breuer, diretor mundial de saúde da GlaxoSmithKline, que produziu a vacina.
O lançamento da campanha decorre de ensaios bem-sucedidos do medicamento no Gana, Quénia e Maláui, entre 2019 e 2021. Esta iniciativa provém do fortalecimento da luta contra a malária em África, continente onde 95% das mortes causadas são causadas pela doença, a maioria das quais entre crianças com menos de cinco anos.
“Não estamos apenas a testemunhar, mas a participar ativamente num capítulo transformador da história da saúde pública em África”, afirmou o Dr. Mohammed Abdulaziz, chefe de divisão dos Centros Africanos de Controlo e Prevenção de Doenças, com sede na Etiópia, numa conferência de imprensa online conjunta com a OMS.
Kate O’Brien, diretora do departamento de imunizações e vacinas da OMS, afirma que, baseado nos estudos, a RTS,S é capaz de salvar dezenas de milhares de vidas. Outros 19 países africanos planeiam introduzir a vacina este ano, com entregas previstas para Burkina Faso, a Libéria, o Níger e a Serra Leoa. Prevê-se que 6,6 milhões de crianças possam ser abrangidas.
A OMS estima que cerca de 11 mil pessoas morrem devido à malária, todos os anos, nos Camarões, sendo altamente endémica no país. Mbianke Livancliff, da organização sem fins lucrativos dos Camarões Value Health Africa, confirmou o entusiasmo no país desde que as vacinas foram entregues, em novembro. A organização promoveu reuniões comunitárias e debates abertos para divulgar a campanha, fomentar a confiança na vacina por parte dos cidadãos, e esclarecer potenciais questões.
O país registou mais de seis milhões de casos em 2022. Em 2021, a malária foi responsável por 12% das mortes entre crianças com menos de cinco anos em Camarões. “Tem sido um momento emocionante. As famílias estão entusiasmadas, estão felizes com este grande desenvolvimento e dizem que isto é eficaz e é disto que temos estado à espera”, concluiu Livancliff.
Os especialistas em saúde pública garantem que uma boa comunicação junto das comunidades locais será essencial para a implementação e êxito das vacinas, tanto para que as populações levem os filhos para tomar as quatro doses, quanto para que seja combinada com outras medidas, tal como dormir sob mosquiteiros tratados com inseticida.
A Universidade de Oxford adiantou que uma segunda vacina contra a malária, a R21/Matrix-M, deverá ser lançada ainda este ano.
Editado por João G. Oliveira