Arrumado o Carnaval que foi a definição do Presidente da Assembleia da República e respetivos vices, é finalmente chegado o momento de agir – e quem, como eu, tem fé, consegue até ver na coincidência do novo governo com o período de Páscoa uma renovação de bom augúrio. De que bem precisamos num país paralisado, com os serviços públicos em estado de coma e que uma década de socialismo radical atirou para uma dependência pública doentia.

Dirão que ao menos temos as contas controladas e há de ouvir-se repetir à exaustão, nos próximos tempos, que é graças à “disciplina orçamental dos socialistas” (não consigo sequer escrevê-lo sem ter vontade de rir) que há dinheiro para gastos. Mas quem saiba ler os números entende que, apesar dos meritórios esforços de Fernando Medina, os parcos resultados não só foram conseguidos à custa de receita fiscal (que bateu recordes e beneficiou de uma inflação sem precedentes na memória recente), de cativações e com o investimento público adiado para as calendas como não são tão brilhantes quanto nos querem vender. Portugal não é um diamante, é uma pedrinha de zircónia e não especialmente bem sustentada no espaço europeu, com empresas condenadas pelas regras domésticas a não crescer nem dar lucros, e que recupera neste ano as regras orçamentais do Pacto de Estabilidade e Crescimento (ainda se lembra do PEC?).

Facto é que o novo governo não tem folga absolutamente nenhuma: nem política, nem económica, nem financeira, nem social. As pessoas estão no limite, os serviços votados ao caos, a economia a tremer com o arrefecimento europeu e a redefinição geoestratégica em curso na Europa e no mundo, o elevador social está parado e enferrujado, o PRR atrasado e com metas e objetivos incumpridos (somos o único país que os tem), os rendimentos dos portugueses (já esmagados por impostos e falta de perspetivas de futuro) agarrados à fasquia da miséria. A geração mais bem preparada de sempre foge daqui a sete pés, um terço da população é pobre e há crises na saúde, na habitação, na educação, nas forças de segurança…

É este o país que Luís Montenegro herda de quase nove anos de governação de Costa, grande parte deles com apoio da extrema-esquerda. E herda-o com a urgência de ação de um governo minoritário e sob ataque de todos os lados, com a inevitabilidade de tomar já medidas que surtam efeitos imediatos.

A dificuldade da missão de Montenegro pode, porém ser facilitada pelos ministros escolhidos, que dão ótimos sinais – ainda que o que os nomes prometem não seja sinónimo de êxito garantido. Esperemos para ver. Mas há desde logo um bom prenúncio no facto de, ainda que se intuíssem presenças inevitáveis, os líderes das pastas só terem vindo a público no momento que Luís Montenegro escolheu – como se comprova por alguns já dados como certos, desmentidos na lista oficial. A revelação do novo executivo é a prova do trabalho que o líder da coligação vencedora das eleições teve na composição de um governo que, apesar de todos dizerem ser de curto prazo, garantiu belíssimas surpresas, como Pedro Duarte, Margarida Blasco ou Fernando Alexandre, para nomear apenas alguns. É uma seleção que junta capacidade técnica e política, um elenco dominado por personalidades experientes e destacadas nas suas áreas – e não feita de políticos profissionais, alheados da vida real -, sem casos de justiça conhecidos. Refrescante, não?

A maior prova de que o governo tem tudo para dar certo e, ao contrário do que muitos preveem (ou desejam, infelizmente, reforçando a atitude de adepto da bola que se tem colado ao exercício político), conseguir levar a cabo a hercúlea missão que tem pela frente, são as críticas que já ouvimos fazerem-lhe. Primeiro, o “recuo na paridade” – num governo que tem sete mulheres em 17 ministros, 41,2% do total. Depois, o facto de haver “demasiadas pastas” – quando até são menos uma ou duas do que as dos governos de António Costa, os maiores de sempre, e sabendo-se já que a ideia seria não alterar nada de profundo na orgânica estabelecida para assegurar um rápido arranque dos trabalhos. Apontaram-lhe ainda, em simultâneo, a falta experiência política dos independentes e a ligação umbilical ao partido dos que vão assumir pastas mais políticas. É portanto oposição biliar, vazia ou que, na verdade, se traduz em medalhas de mérito para os novos ministros.

De destacar ainda são as críticas feitas aos traços ideológicos dos escolhidos, “antecipando-se que vão cumprir o programa” da AD, que “é errado”. “Errado”, no entender da esquerda, claro, que parece que ainda não percebeu que os portugueses se fartaram. E que escolheram cortar com as políticas desastrosas que a esquerda conduziu, condenando o país ao estado a que chegou.

Diretora

NOTA FINAL
Esta é a última edição em papel do NOVO, mas o jornal segue em força no digital, onde hoje se concentram os leitores – não é senão um sinal dos tempos, da transição digital que se tem acelerado, com exigências de adaptação às marcas de comunicação. O NOVO continuará a responder a esses e mais desafios que venham.

Esta é também a minha despedida do NOVO e do grupo Media9 e é inevitável que aqui deixe um elogio público a todos os que me acompanharam neste tempo. Uma equipa de pessoas extraordinárias, trabalhadoras e generosas, que me acolheram desde o primeiro momento, sem reservas, e que foram capazes de melhorar e fazer crescer esta marca, que fica agora muito bem entregue ao Ricardo Santos Ferreira. Uma palavra ainda para o nosso acionista, que sabe quanto custam missões difíceis como esta, de resistir e levar por diante um grupo de media. Um agradecimento final e maior ao José Carlos Lourenço, pela amizade, respeito e apoio permanente.

O NOVO excedeu as minhas melhores expectativas. Que continue a orgulhar-nos! Eu continuarei a lê-lo, agora à distância.

Artigo publicado na edição do NOVO de 29 de março