Fabian Figueiredo pediu hoje uma “polícia sintonizada com o Estado de Direito” e alertou para uma “permanente estigmatização” de pessoas racializadas, afirmando que a ação policial “vezes demais, não trata os cidadãos da mesma forma”.
O líder parlamentar do Bloco de Esquerda considerou que “as balas atingem mais depressa” certas pessoas, “sobretudo negras”.
“Esta é a altura de dizer a verdade: Portugal é uma democracia que, na sua lei, tem de tratar todas as pessoas por igual. E o que nós sabemos é que a ação policial, vezes demais, nos subúrbios de Lisboa, não trata todos os cidadãos da mesma forma. E é esse o incêndio que nós temos que apagar, para apagar todos os outros”, afirmou Fabian Figueiredo.
O deputado bloquista falava na Assembleia da República a propósito dos desacatos registados, nos últimos dias, no Zambujal e noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados dois autocarros, automóveis e caixotes do lixo, e detidas três pessoas.
Dois polícias receberam tratamento hospitalar devido ao arremesso de pedras e dois passageiros dos autocarros incendiados sofreram esfaqueamentos sem gravidade.
Estes desacatos têm sucedido após a morte de Odair Moniz, de 43 anos, que foi mortalmente baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, na Amadora.
“Nós precisamos de uma polícia sintonizada com o Estado Direito, como ainda hoje apelou o Presidente da República, declarações que saudamos. Portugal, Lisboa, as áreas urbanas de Lisboa precisam de paz. Paz significa tratamento igual, significa não ter atitudes incendiárias”, defendeu o bloquista.
O bloquista afirmou que “ser negro em Portugal aumenta a probabilidade de ser atingido mortalmente pelas forças de segurança 21 vezes” e defendeu que “as populações das áreas urbanas de Lisboa, as pessoas racializadas, merecem um tratamento igual perante o Estado, merecem ser cidadãos de pleno direito”.
“A permanente estigmatização que é feita tem este tipo de desfechos. Portanto, uma solução de paz exige justiça”, acrescentou.
Fabian Figueiredo saudou todos os agentes que “respeitam a Constituição da República Portuguesa quando exercem a sua atividade policial” e condenou “todas as declarações incendiárias que acham que Portugal é um faroeste e que se pode tolerar que o abuso, seja contra quem for, possa ser alvo de saudação”.
“Não é possível que ano após ano ouçamos sempre as mesmas notícias, que haja zonas onde a intervenção policial mata mais, viola mais a lei do que outras e é preciso dizer esta verdade, por mais que ela seja difícil de ouvir para vários decisores políticos”, sublinhou o líder parlamentar.
O Bloco de Esquerda questionou hoje o Ministério da Administração Interna sobre uma alegada invasão pela PSP da casa de Odair Moniz, pedindo esclarecimentos sobre o episódio relatado pela família e advogada, e negado pelas autoridades policiais.