Mariana Mortágua acusou hoje Ursula von der Leyen de não ter tido posições fortes contra os extremistas e demagogos quando “estava a negociar” a sua continuidade como presidente da Comissão Europeia, criticando socialistas e verdes.

“Quando Ursula von der Leyen estava a negociar com a extrema-direita a sua reeleição, não tinha posições tão fortes contra os extremistas e demagogos. Quando estava a tentar comprar o apoio de Meloni, a extrema-direita em Itália, para a sua reeleição, não tinha opiniões tão fortes sobre a extrema-direita e os demagogos”, apontou a coordenadora do Bloco de Esquerda. “O que sabemos sobre Ursula von der Leyen diz tanto sobre a próxima presidente da Comissão Europeia como sobre os partidos que a apoiaram”.

Mortágua criticou socialistas e verdes a nível europeu por terem apoiado hoje, em Estrasburgo, a recondução de von der Leyen, “apenas porque houve uma negociação de nomes que deu mais jeito a estes partidos”, depois de, durante a campanha para as europeias, terem criticado as suas “aproximações à extrema-direita”.

“E num instante todas as linhas vermelhas, todas as grandes afirmações contra a extrema-direita, todas as necessidades de construir barragens e muros, são trocadas por uma negociação de lugares. Certamente um método de fazer política com o qual não concordamos. É por isso que a esquerda se tem oposto, quer no Parlamento Europeu, quer aqui, a todo este processo de eleição de Ursula von der Leyen e das negociações que estão por trás”, argumentou.

Além de ser crítica destas negociações – que, na ótica do Bloco de Esquerda, “deitam por terra toda a determinação toda a espinha dorsal que se espera num processo político deste género” –, Mariana Mortágua realçou que está também em causa um programa político ao qual o seu partido se opõe.

“O programa que Ursula von der Leyen apresenta para a Europa é trocar uma política para a paz e de construção de paz por um mercado de armamento a nível europeu. É trocar uma política de transição climática que a Europa tem de fazer por uma política de fundos de investimento. É trocar uma política de investimento público, porque a Europa tanto precisa para poder competir internacionalmente, para poder ter uma melhor reindustrialização por uma política de mercados de capitais que nos tem estado a afundar”, criticou.

O Parlamento Europeu aprovou hoje a recondução de Ursula von der Leyen à frente da Comissão Europeia, por mais cinco anos, com 401 votos favoráveis dos eurodeputados na votação em plenário em Estrasburgo, acima dos 360 necessários.

A votação ocorreu na primeira sessão plenária da nova legislatura, com von der Leyen a conquistar 401 votos favoráveis, 284 contra, 15 abstenções e sete inválidos.

O aval de hoje à recondução – que implicava pelo menos 360 votos favoráveis (metade dos eurodeputados mais um, dado que um dos parlamentares não tomou posse) – surgiu depois de a candidata do Partido Popular Europeu PPE ter reunido, nos últimos dias, com várias bancadas políticas do hemiciclo europeu, como os socialistas, liberais, verdes e conservadores, para apelar à aprovação destes parlamentares para um novo mandato de cinco anos.

Com uma maior fragmentação partidária no Parlamento Europeu, a recondução no cargo obrigou a várias negociações nos últimos dias, dado que vários parlamentares ameaçaram não apoiar Ursula von der Leyen por temerem que estivesse demasiado ligada à ala conservadora ou por criticarem a sua postura em relação à externalização das políticas de migração da União Europeia e a certos recuos nas metas climáticas ou sociais.

Ursula von der Leyen foi pela primeira vez eleita presidente da Comissão Europeia, em 2019, sem ter sido candidata ao cargo, com 383 votos a favor, numa votação renhida.