A operacionalização do Corredor do Lobito, a linha férrea que vai ligar Angola, a República Democrática do Congo e a Zâmbia para escoar minério – especialmente cobre e cobalto – para os mercados ocidentais, voltou a estar em evidência na visita que o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, fez a Luanda, e continua a ser o principal exemplo no estreitamento de relações entre os dois países.

Esta foi a segunda visita de um alto dignatário norte-americano a Angola, nos últimos seis meses, depois de o secretário da Defesa, Lloyd Austin, ter sido o primeiro titular do cargo a visitar Luanda, em setembro do ano passado. E em novembro o presidente de Angola, João Lourenço, foi recebido por Joe Biden na Casa Branca, em Washington.

O Corredor do Lobito é uma parte essencial da Parceria para Infraestruturas e Investimentos Globais (PGI, na sigla inglesa), o programa lançado pelo presidente norte-americano para competir com a chinesa nova rota da seda em África. Prevê a ligação por via-férrea entre Angola, a República Democrática do Congo (RDC) e a Zâmbia, aproveitando a rede de 1.344 quilómetros dos Caminho-de-Ferro de Benguela, que atravessa Angola, a partir do porto do Lobito, e liga à rede congolesa. Esta linha está a ser remodelada e o projeto prevê também a construção de 800 quilómetros de linha férrea entre Angola e a Zâmbia, assim como 260 quilómetros de vias rodoviárias. Tem o apoio dos Estados Unidos da América (EUA), da União Europeia e do Banco Africano de Desenvolvimento, que contribuirá com 500 milhões de dólares (cerca de 459,8 milhões de euros, ao câmbio atual) para o projeto e ajudará a angariar 1,6 mil milhões de dólares (cerca de 1,47 mil milhões de euros).

“Tive a oportunidade de ver alguns dos progressos dramáticos que já foram feitos na construção deste corredor. Está a avançar mais rápido e mais longe do que poderíamos ter imaginado”, afirmou Antony Blinken em conferência de imprensa, ao lado do ministro angolano dos Negócios Estrangeiros, Téte António. “Mantemos o sonho de ligar os oceanos Atlântico e Índico através deste corredor”, sublinhou.

Os EUA financiam a remodelação da rede angolana com 250 milhões de dólares (cerca de 229,9 milhões de euros), mas também promoverá o investimento em telecomunicações, ao longo do corredor, assim como o desenvolvimento agrícola.

A exploração da linha ferroviária deste corredor foi concessionada por 30 anos à Lobito Atlantic Railway, empresa criada pela Mota-Engil África, pela suíça Trafigura e pela belga Vecturis. A empresa investirá mais de 450 milhões de dólares (cerca de 413,8 milhões de euros) na linha férrea e nas infraestruturas associadas, e garantirão mais de 1.500 vagões e 35 locomotivas. Outros 100 milhões de dólares (cerca de 91,9 milhões de euros) serão investidos na melhoria da linha ferroviária e do material circulante na RDC.

Influência regional

Angola tem vindo a posicionar-se como um ator regional relevante, sem alinhamentos definidos na ordem internacional, mas afirmando-se como um interlocutor independente.

Antony Blinken elogiou os esforços de João Lourenço para diminuir as tensões entre o Ruanda e a RDC. Kinshasa acusa Kigali de apoiar o movimento rebelde M23, um dos muitos grupos armados que atua no Leste da RDC e é responsável pela violência na região, provocando cerca de sete milhões de deslocados.

Ações concretas para a paz e o fortalecimento da democracia na região foram temas abordados por Blinken com João Lourenço.

O secretário de Estado norte-americano afirmou que Angola é um “parceiro confiável” e garantiu que a relação entre os dois países está no seu ponto mais alto em 30 anos e o ministro das Relações Exteriores angolano sublinhou que a relação é a “mais forte e consequente” do em qualquer outra altura. No entanto, Téte António avisou que não porá em causa a relação de Angola com a Rússia, que foi o principal suporte do MPLA, o partido no poder desde a independência, em 1975, ou com a China. “Angola é um país aberto ao mundo”, afirmou.

Nesta visita de Antony Blinken, foram assinados 15 instrumentos jurídicos para a cooperação entre os dois países, que incluíram questões relacionadas como o Corredor do Lobito, mas também cooperação aeroespacial entre os dois países e “reforço dos diálogos sectoriais”.

Blinken concluiu em Luanda um périplo por quatro países africanos, que começou em português, em Cabo Verde, e que incluiu a Costa do Marfim e o Quénia. Foi a quarta visita que o secretário de Estado fez à África Subsaariana.