A Alemanha “mantém o compromisso de apoiar a Ucrânia” apesar de isso não estar “corretamente refletido” nos números do atual projeto do orçamento por causa do travão da dívida, acredita o economista Gustav Horn.

A Alemanha anunciou que vai cumprir em 2025 a meta da NATO de dedicar 2% do PIB à defesa, mas, de acordo com o jornal Der Spiegel, a ajuda à Ucrânia será cortada em metade, para 4 mil milhões de euros.

“A razão é que o FDP está estritamente empenhado em respeitar o travão da dívida alemã. Mas tenho a certeza de que, se houver necessidade de mais dinheiro para a Ucrânia em 2025, o governo criará um orçamento adicional, provavelmente invocando um caso de emergência”, revelou o professor da Universidade de Duisburg-Essen.

O governo alemão planeia reduzir a ajuda militar à Ucrânia, de 7,8 mil milhões de euros em 2024 para quatro mil milhões de euros em 2025.

“Isto não significa, no entanto, que a Ucrânia vá efetivamente receber menos dinheiro. O plano consiste em transferir para o governo ucraniano os pagamentos de juros sobre os ativos russos congelados, até um volume total de cerca de 50 mil milhões de euros”, apontou o economista Jens Suedekum.

“Com este modo de financiamento alternativo, o executivo alemão viu uma oportunidade de reduzir o seu próprio apoio militar, uma vez que a Ucrânia vai receber dinheiro de outra fonte”, acrescentou.

No entanto, esta estratégia pode revelar-se pouco eficaz a longo prazo, admite o professor da Universidade de Dusseldorf: “Kiev precisa de um amplo apoio militar e financeiro para prevalecer contra o agressor russo. Este apoio não pode depender de restrições artificiais, como o travão da dívida alemão”.

O Ministério da Defesa alemão receberá claramente menos do que foi solicitado pelo titular da pasta, o social-democrata Boris Pistorius, mas mais do que em anos anteriores e o suficiente para que a Alemanha cumpra o seu compromisso com a NATO de dedicar 2% do PIB às despesas militares, de acordo com o projeto de lei orçamental para 2025 apresentado pelo chanceler alemão Olaf Scholz.

“Se Donald Trump ganhar as eleições em novembro e reduzir o apoio militar dos Estados Unidos a Kiev, como tem anunciado repetidamente, a Europa terá de intervir. O mais tardar neste cenário, a Alemanha terá de fazer escolhas difíceis. Terá de dar prioridade ao apoio à Ucrânia e ao reforço das suas próprias despesas militares em detrimento da obediência ao travão da dívida”, sublinhou Jens Suedekum.

Para o tenente-coronel Torben Arnold, investigador no Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança de Berlim, tendo em conta as próximas eleições nos Estados Unidos, a Ucrânia “precisa de uma ajuda significativamente maior da Europa”.

“Até à data, os europeus têm tido muita dificuldade em começar a mostrar que podem fazer face a esta tarefa sozinhos”, frisou. “O planeamento orçamental é uma solução de compromisso. Tanto os pedidos de aumento apresentados pelo Ministro da Defesa, devido à situação problemática da segurança na Europa, como a ajuda à Ucrânia acabaram por ser menores do que o necessário”, esclareceu Torben Arnold.

“Os dois juntos são problemáticos porque, por um lado, as Bundeswehr (forças armadas) não podem entregar mais equipamento e armas porque não tem dinheiro suficiente para se equipar a si próprias e, por outro lado, a Ucrânia não tem fundos suficientes para comprar os armamentos e munições necessários noutros locais”, concluiu.

O chanceler alemão definiu a segurança, a coesão social e o crescimento económico como prioridades da política do seu Governo, que, segundo Scholz, se refletiram na proposta de lei do orçamento aprovada pelo Conselho de Ministros.

“No centro está a segurança porque sem segurança tudo o resto não é nada. Ao mesmo tempo, a segurança tem requisitos. A coesão produz segurança, o crescimento cria segurança. É por isso que estes objetivos não são exclusivos. Procuramo-los simultaneamente”, destacou Scholz, em comunicado.