Há uma semana, 150 mil pessoas, segundo os números da polícia – o dobro, de acordo com os organizadores –, manifestaram-se em Berlim, frente ao Reichstag, o edifício que alberga o Bundestag, o parlamento alemão, em protesto contra o avanço da extrema-direita. As manifestações sucedem-se há cinco semanas, desde que foi noticiado um encontro de extremistas, em Potsdam, no qual foi discutido um “plano” para a deportação em massa de estrangeiros e de alemães “não assimilados” caso a Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla original), populista de extrema-direita, conquistasse o poder.

O ponto alto foi o Dia Internacional da Memória do Holocausto, assinalado a 27 de janeiro, mas os protestos mantiveram-se depois.

A AfD tem procurado distanciar-se, dizendo que os participantes no encontro de Potsdam não tinham laços efetivos com o partido – o que as notícias vieram a desmentir mais tarde – e garantindo que nenhum dos participantes ali estava em sua representação.

Independentemente do seu papel no encontro e dos esforços dos seus líderes, Alice Weidel e Tino Chrupalla, para minimizarem os danos, a AfD foi o alvo das manifestações de protesto que se realizaram em Berlim, mas também em cidades como Munique, Bremen, Colónia, Dresden, Kiel, Estugarda, Leipzig, Bona ou Hamburgo, onde se apelava a que o partido fosse banido pela promoção de atividades antidemocráticas.

Os protestos têm sido convocados por mais de 1.300 organizações, sob o lema “Nós Somos a Firewall”. Em Berlim, os manifestantes criaram um cordão humano em redor do parlamento, simbolizando a sua defesa contra o avanço da extrema-direita. Nos cartazes liam-se frases como “Nazis, não, obrigado”, “Nunca Mais é Agora” e “Parece que estamos em 1933, proibição da AfD agora!”.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, acolheu os protestos e participou, tal como outros membros do governo, nas manifestações. “Digo-o com absoluta clareza e severidade: extremistas de direita estão a atacar a nossa democracia”, afirmou, num vídeo em que reagia às notícias sobre o encontro de extremistas, condenando a ideia das deportações.

“Se alguma coisa parecia impossível há alguns anos era poder a Alemanha voltar a conviver com os espetros do seu passado, a sombra de um terror maior, uma história sobre o pior da natureza humana”, afirmou ao NOVO Paulo Sande, professor da Universidade Católica e especialista em temas europeus. 

“As manifestações das últimas semanas contra o partido AfD, que muitos acusam de ser um partido nazi, ou próximo disso, são um sinal de alerta”, considera, apontando que se tratam de um alerta “para uma ideologia que namora as ideias desse passado de infâmia, um perigo para a democracia”. 

“Extrema-direita é o mais suave epíteto usado para o identificar”, diz.

Leia o artigo na íntegra na edição do NOVO que está, este sábado, dia 10 de fevereiro, nas bancas