O crescimento exponencial das forças populistas, a degradação evidente nos serviços públicos, as classes médias sem perspectiva de futuro, os salários mais baixos da Europa Ocidental, a saída em larga escala dos mais jovens para outros Estados europeus, detenções e suspeitas sobre vários políticos alegadamente envolvidos em casos de corrupção… Estes são alguns dos perigosos condimentos para podermos hoje falar de uma crise da Terceira República.

Ao fim de 50 anos da revolução do 25 de Abril, que terminou com uma longa e penosa ditadura, há cada vez mais um sentimento de beco sem saída, de estagnação nuns casos, de deterioração do nível de vida noutros casos, em que Portugal muito dificilmente poderá chegar ao mesmo patamar dos Estados mais ricos da União Europeia, sendo que até já foi ultrapassado por alguns da Europa de Leste. Os portugueses olham para esta situação e sentem uma profunda frustração.

Os dois partidos centrais da Terceira República, o PS e o PPD (como eu prefiro chamar ao PSD), parecem já não conseguir dar resposta aos desafios dos anos 20 deste séc. XXI nem aos que virão nas próximas décadas. Muito dificilmente os partidos que saíram da revolução conseguirão regenerar-se. E os novos, que entretanto apareceram, não provaram ter soluções, tendo os mesmos vícios e oportunismos dos mais antigos.

Quer isto dizer que, após 16 anos de instabilidade da Primeira República, 48 anos de ditadura da Segunda República e 50 anos de democracia da Terceira República, poderemos estar perto de uma mudança drástica que nos levaria a uma Quarta República, com um outro tipo de democracia, desejavelmente mais avançada?

É muito pouco provável. Por um lado, não se conhecem mudanças radicais de Estados que estejam na União Europeia. Por outro lado, não há um clamor generalizado para que haja uma mudança profunda. E, talvez ainda mais decisivo, não há uma elite ou grupo que queira fazer uma mudança radical no sistema político.

Como podemos então sair deste beco sem saída? Com reformas muito profundas no actual regime. É cada vez mais óbvio que o estado em que estamos não pode prolongar-se muito mais, senão a degradação da democracia e desta Terceira República levará ao seu fim, ainda que não seja provável um fim imediato. É urgente que os líderes políticos entendam que devem mudar os seus partidos, que devem escolher a dedo quem pode ter acesso a cargos importantes de responsabilidade, que os seus partidos devem servir o país.

E mais importante: os líderes dos partidos moderados devem entender-se para fazerem as reformas profundas de que Portugal precisa. Não podemos ter um ensino facilitista em que os alunos passam administrativamente de ano, não podemos ter médicos que fazem do SNS um part-time, não podemos ter uma carga fiscal que asfixia pessoas e empresas, não podemos ter um mercado que funciona com baixos salários, não podemos ter um país que vive dependente do turismo, não podemos ter um país sem indústria…

As reformas necessárias são tão grandes e tão urgentes que apenas havendo um entendimento sério – entre, pelo menos, os dois principais partidos – poderão avançar. É verdade que as mudanças necessárias vão mexer em interesses instalados, é verdade que as reformas profundas podem causar dores. Mas, se os partidos forem responsáveis, se forem corajosos e souberem explicar o que é preciso fazer, é provável que as pessoas entendam.

Será que os partidos actuais vão fazer o que é necessário? É pouco provável. Talvez tenham de ser outros a fazê-lo. Haja esperança.

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia