Trazem as raízes de Cabo Verde e Angola, regadas com ritmos do mundo e alimentados à portugalidade em que cresceram. A mistura pôs os Afrokillerz na linha da frente do afrotech – variante de house – e já os pôs na lista de artistas mundialmente influentes como o sul-africano Black Coffee. “Quando me disseram que ele tinha a nossa música na playlist, achei que ainda estava a dormir”, diz Landz, o DJ. “A nossa música está a chegar a pessoas que nem sonhávamos”, junta Safari, o percussionista, em entrevista ao NOVO.
Essa conquista chegou no ano passado, mas a dupla que se afirma com mais alma em live set e está a lançar o novo álbum, UKÄRÄ – cujo single de apresentação, Countdown, despertou a atenção de uma das mais aclamadas plataformas musicais, a COLORSxSTUDIO – já vem acumulando créditos há tempos, como comprova a label que os caçou, a Kazukuta Records, sob a alçada de DJEFF. “Ainda estivemos juntos na Príncipe, mas não era um bom fit e optámos por seguir os nossos projetos fora. É como se fôssemos descobridores, ouvimos algo de lá, que começou em Angola e evoluiu na África do Sul, e trouxemos para aqui, para cá fixar novas raízes que fizessem as pessoas perceber a nossa onda e apaixonarem-se, como nós. Só depois de batermos lá fora é que nos afirmámos cá”, explica Safari.
Amigos desde os 10 anos, dançaram juntos kuduro em Chelas, jogaram à bola e estudaram juntos. Desencontraram-se porque a mãe de Hugo Maurício (Safari) não queria deixá-lo no bairro e enquanto Gerson Landim (Landz) seguiu na escola D. Dinis, ele saltou para a Apelação, depois para a Padre António Vieira. Mas o que a música unira – competiam desde miúdos pelas melhores escolhas – não havia distância que separasse. Mesmo que fosse difícil a uma mãe, como a de Landz, aceitar que o filho ia fazer carreira na noite, na música, em vez de ter um “emprego pacato”. “Hoje ela gaba-se imenso de mim”, conta, “apoia-me a 300%”, diz ao NOVO o DJ, de 30 anos. Para Safari, de 29, o que fez a diferença foram as férias em casa da avó, no Cacém: “Não tinha nada para fazer, não tinha internet, então fazia música.”
Eram artistas. E conseguiram furar sem se deslumbrar, traba- lhando, bebendo do que há de vir, sempre com a batida africana na alma. Onde vão tocar, o público está com eles: “Sentem a vibe, que tem muito R&B, deep house, soulful, mas também música latina, samba, todo o tipo de sonoridades, que integramos no nosso estilo e ligamos à nossa cultura. Estamos numa fase muito hippie.” Também procuram colaborar com “a tela em branco” que são os novos artistas, afirmando a sua musicalidade – surgem em resposta a posts no Instagram, ou são-lhes apresentados, como Allis, que colabora na faixa Nha Manera.
A música já levou os Afrokillerz a tocar no E1, em Londres, à Ucrânia e até ao Azerbaijão – “não estávamos nada à espera que acontecesse tão cedo. Agora vamos à Índia”, dizem, confessando a vontade de se internacionalizarem com mais solidez. Ainda assim, estão certos de que o sítio onde tocam conta mais do que o país. “Se for clubbing, vai dar certo, se for uma casa muito chique, é mais difícil porque se não nos conhecem não vão entender-nos”, concretiza Safari. “Queremos tocar em sítios fancy, mas a nossa música vive das emoções – já tive pessoas dizer-me que ouvir-nos tinha ajudado a sair de uma depressão.”
A covid fê-los querer alargar o leque e os horizontes. “Estamos a preparar a entrada em outros negócios, mas ainda não podemos contar o quê… Nós viemos do bairro, trabalhámos muito para dar certo, então queremos também ajudar, dando o exemplo, aproveitando o nosso talento para o que pudermos. Fazer festivais à nossa conta no bairro, passar boas mensagens aos miúdos. Não esquecemos de onde viemos”, vincam. E daqui a dez anos onde se veem? “A fazer música mais abstrata, a experimentar. E a fazer bandas sonoras de filmes.”