É indiscutível que a criação do Serviço Nacional de Saúde permitiu enormes ganhos na qualidade de vida e foi umas das razões para o grande crescimento da classe média nas três décadas seguintes à sua constituição. Ao reduzir drasticamente a mortalidade infantil, ao contribuir para o aumento da esperança de vida, ao conceder aos pobres e remediados quase as mesmas chances de acesso aos cuidados de saúde que as classes mais abonadas, o SNS foi um enorme fator de progresso social.

Mas a sua manutenção, com os instrumentos de gestão e o respaldo ideológico de há 50 anos, é uma quimera, cada vez mais cara e ineficaz, com o aumento da esperança de vida a ser sinónimo de perda de qualidade de vida.

Hoje são evidentes as limitações do SNS, nomeadamente nas insuficiências nos cuidados continuados ou paliativos, nos excessivos tempos de espera em cirurgias e tratamentos, ou na ausência de médicos de família na área metropolitana de Lisboa, para citar apenas alguns exemplos.

Problemas que os governos no pós-troika têm tentado resolver com medidas desgarradas e por vezes contraditórias entre si.

Isto dito, apesar de terem vindo a ser bem feitas várias coisas (simplificação das baixas médicas, vacinação contra a COVID e a gripe, alargamento das vagas em medicina ou enfermagem), sem abordagens mais centradas na gestão, e menos na ideologia, iremos continuar a ter mais do mesmo: excesso de mortalidade, tempos de espera para cirurgias em crescendo, ou mais cidadãos sem médico da família.

Ter mais de quatro milhões de portugueses com seguros ou subsistemas de saúde deveria ser suficiente para que todos percebessem que deitar dinheiro para cima dos problemas nada vai resolver.

É tempo de exigir melhor com o mesmo dinheiro. Com verdadeira autonomia de gestão, nomeadamente para comprar serviços e equipamentos, ou para contratar e remunerar profissionais de saúde e de gestão. Com parceiras público-privadas para novos hospitais e valências não hospitalares. Com uma carreira autónoma para os enfermeiros hospitalares e para os jovens médicos de medicina geral e familiar, os tais que emigram porque auferem 30% do que ganham no centro da Europa. Com tempos mínimos de permanência no SNS ou no país para todos os jovens formados nas universidades estatais. Com parcerias entre o SNS e os subsistemas de saúde existentes em Portugal.

Gastamos mais per capita, muito mais, que os países com nível de desenvolvimento ou rendimento similares ao nosso em termos de paridade do poder de compra. É imperativo um grito de revolta. Queremos mais e melhor saúde, sem a grilheta de impostos crescentes. Está na mão de todos nós sermos mais exigentes e consequentes.

Presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB)