No final de uma das mais longas campanhas da história da democracia portuguesa – quatro longos meses – precipitada por um inédito e caricato episódio político-judicial de contornos ainda por revelar na sua plenitude, teremos no próximo domingo o tão aguardado ato eleitoral.

Em tempos de mediatismo, mas fundamentalmente de imediatismo, em que a espuma dos dias reina, pouco mais se discutiu do que casos, casinhos, políticas de alianças (apenas de um lado do espetro partidário, em abono da verdade) e questões mais ou menos contabilísticas.

Com dois dramáticos conflitos armados a ecoarem bem perto das nossas fronteiras (físicas e culturais), e que, direta ou indiretamente, influenciarão os próximos anos na política mundial, matérias como Defesa ou Política Externa (onde, claramente, existem clivagens entre partidos) estiveram bem longe das preocupações de líderes partidários, ou, sequer, da horda de comentadores.

É pena.

Por outro lado, num ato eleitoral diretamente provocado por um caso de justiça, a que acresce outro na Madeira, quatro longos meses de campanha não foram suficientes para que este tema fosse séria e estruturalmente discutido, avaliado ou sequer central na eleição.

E, numa campanha marcada, insolitamente, pelos protestos daqueles que garantem a nossa segurança e a autoridade do Estado (o que não é despiciendo), nada mais do que palavras – pouco mais do que de circunstância – para uma questão meramente salarial, que não é.

Nada de estrutural, disruptivo, ou sequer sistémico.

Na sua clássica superioridade moral ficou, ainda, marcada pelo desmascarar da cristalina hipocrisia de uma esquerda que tudo sempre pode (sem o devido escrutínio), em particular, os episódios das escolas privadas para os filhos dos acérrimos defensores da escola pública para todos, do impossível despejo de uma avó, ou, da imaginada prisão perpétua de um inocente pai.

A manipulação de factos e emoções, está bem de ver, não é um exclusivo de Trump, Bolsonaro ou das suas réplicas mais ou menos nacionais.

No próximo domingo, aos milhares de jovens que ou já emigraram ou pensam emigrar, aos pensionistas que sobrevivem num país a que já muito deram e pouco lhes devolve, aos funcionários públicos desrespeitados e desprestigiados, aos profissionais liberais, empresários ou trabalhadores por conta de outrem, em suma, à multiplicidade dos eleitores, só restarão duas opções.

A continuidade das políticas públicas que nos conduziram nos últimos anos a este país sem esperança e sem futuro, ou a mudança que nos devolva (a todos, enquanto sociedade) a esperança, assente numa rutura em determinadas, e necessárias, áreas.

Porque no fim, como sempre em democracia, o povo é soberano, e, coletivamente considerado, nunca se engana.

A palavra aos portugueses.