50% de chances de Donald Trump ganhar, 50% chances de ser Joe Biden, indica o conhecido 538 nas suas previsões no dia 18 de junho de 2024.  Com Trump ligeiramente à frente nas sondagens nacionais, e um pouco melhor nos estados oscilantes ou swing states, mas com a economia em bom estado, e ainda muita incerteza, o modelo indica que a probabilidade de haver segundo mandato de Trump, já presidente entre 2017 e 2021, é 50-50. Dado o poder do presidente dos Estados Unidos, todos os países têm de se preparar para o cenário do irreverente ex-presidente Trump voltar à Casa Branca. Em particular, os países da União Europeia. Uma união de países europeus que foi fomentada a expandir-se e aprofundar-se pelas sucessivas administrações americanas, e que tem sido valorizada por todos os presidentes americanos desde a sua fundação. Exceto pelo próprio Trump, que num comício em 2018 disse:

“Nós adoramos os países da União Europeia. Mas a União Europeia, é claro, foi criada para tirar vantagem dos Estados Unidos.” Uns meses depois numa entrevista à CBS News disse que “A União Europeia foi formada com o objetivo de tirar vantagem de nós no comércio, e foi isso que fizeram.”. É no aspeto do comércio que Trump mais critica a UE, dizendo até que nesse aspeto é um adversário, possivelmente tão má como a China, só que mais pequena. Se não bastasse os riscos duma menor dedicação dos Estados Unidos à aliança militar NATO com a reeleição de Trump, e também dum menor apoio à Ucrânia, o que obrigaria os países europeus a gastar muito mais dinheiro para evitar uma vitória russa na guerra, a economia europeia pode perder muito se os seus desejos protecionistas se tornarem política.

Porque, hoje em dia, Trump é ainda mais radical nestas matérias. A começar pela tarifa de 10% que planeia impor na maior parte dos bens importados, incluindo os europeus. Tendo em conta que em 2023 os EUA foram o principal destino dos bens exportados pela UE, quase 20%, representando 500 mil milhões de euros, quaisquer novas tarifas ou restrições a importação de bens europeus pelos EUA repercutir-se-iam na economia europeia. Os Estados Unidos são também o segundo maior destino de origem de importações de bens europeias, quase 14%. Por isso qualquer guerra comercial prejudicaria bastante ambos, mas mais a UE, por estar ter um saldo positivo de mais de 150 mil milhões de euros com os EUA e por grande parte do que importa ser gás natural e petróleo essenciais para a economia europeia e para reduzir a dependência energética da Rússia.

Não seria a primeira vez que uma administração Trump imporia tarifas em bens europeus – em 2018 uma tarifa de 25% foi imposta ao aço europeu e 10% ao alumínio – numa ronda de tarifas que abarcou vários países aliados dos americanos. A UE respondeu com tarifas retaliatórias em mais de 180 tipos de produtos. Em 2019 foram impostas ainda mais tarifas sobre bens europeus. Desde que entrou na Casa Branca, Joe Biden tem-se esforçado por resolver estes diferendos comerciais com a União Europeia, e com algum sucesso. Apesar de alguns pacotes de lei da atual administração terem medidas protecionistas, por exemplo nos automóveis, e os Estados Unidos continuarem a bloquear os tribunais da Organização Mundial do Comércio.

De qualquer forma o protecionismo duma presidência Trump 2.0 ameaça ser muito mais feroz, não só com a China, mas também com os aliados da América. A visão transacional do mundo do homem de negócios sempre em busca do melhor acordo ameaça uma União Europeia cada vez mais pressionada por uma Rússia que a ameaçar ou e tem de sancionar, e uma China que é um claro rival dos EUA, mas também cada vez um competidor feroz dos países europeus. A predileção de Trump por tarifas chega ao ridículo de sugerir aumentá-las ao ponto de poder-se acabar com o imposto sobre o rendimento, uma medida que seria péssima para os americanos mais pobres, e obviamente péssima para quem exporta para os EUA.

Por isso, a visão egoísta do republicano Trump do mundo, transacional, protecionista e isolacionista, seria quase certamente pior para os europeus da União Europeia e da NATO, do que uma continuidade do democrata Biden, que embora protecionista em muitos aspetos, tem sempre mais em conta os aliados europeus, e uma visão em relação a desafios como as alterações climáticas muito mais alinhada com a mentalidade europeia. Mesmo os europeus que são mais a direita seja na economia, seja nos costumes, fazem um erro de cálculo em torcer por uma vitória de Trump, dado os riscos e prejuízos para a Europa. Há duas possibilidades boas numa vitória de Trump, que seriam ou forçar a UE a ser mais autónoma e a desenvolver finalmente as suas capacidades estratégicas, sobretudo na defesa ou que uma abordagem criativa de Trump levasse a um fim da guerra na Ucrânia e um acalmar de tensões de mundo sem grandes custos para os europeus. Para a nossa tranquilidade, não nos podemos esquecer que o presidente americano não tem poder absoluto, no sistema político americano existem freios e contrapesos que impediriam ou moderariam muitas dessas medidas mais radicais que o Trump sugere. Mas, de qualquer forma, dado o poder do presidente na política externa, é preciso que a UE se prepare para a forte possibilidade de reeleição do ex-presidente, e afine as qualidades de negociação e boa diplomacia que bem vão ser precisas.