Joe Biden iniciou a sua carreira política em 1970, quando venceu as eleições para o condado de New Castle, no Delaware. Dois anos depois, com apenas 29 anos, foi eleito senador pelo mesmo estado. Passados mais de 50 anos, prepara-se para o seu último ato eleitoral.

James Carville afirmou, na campanha de 1992, que “é a economia, estúpido”, que traça o destino das eleições e os indicadores atuais até favorecem a reeleição de Biden. Em 2023, a economia gerou dois milhões de empregos, elevando para mais de 13 milhões durante os primeiros três anos da sua administração. Um recorde absoluto. Os americanos viram o seu poder de compra aumentar, enquanto os preços, nomeadamente nos combustíveis e bens essenciais, desceram. Foi também um ano em que Wall Street atingiu máximos históricos. Recordam-se das previsões de Trump de que a bolsa iria desabar sob uma administração Biden?

Só que a América de 2024 não é a mesma de há trinta anos e Joe Biden está em perigo, mesmo enfrentando o candidato que derrotou em 2020, cuja impopularidade é apenas ligeiramente inferior à sua. Segundo o Five Thirty Eight, Biden apresenta, neste momento, um saldo negativo de 15 pontos percentuais, em comparação com os 10 de Trump, o que pode explicar a ligeira vantagem do ex-presidente nas atuais intenções de voto.

Biden revela diversas fragilidades, agravadas recentemente pela revolta entre os eleitores mais jovens em relação à política de apoio a Israel. Por outro lado, estudos recentes indicam que Donald Trump está a angariar um considerável apoio entre minorias que normalmente apoiam os Democratas, como os latinos e até mesmo os afro-americanos.

Esta eleição promete ser altamente competitiva e, faltando ainda a Donald Trump vencer as primárias republicanas – que começam já no dia 15 no Iowa –, é aceitável considerar que Biden parte como favorito, desde logo por ser o incumbente, uma posição historicamente favorável.

Apesar de algumas convulsões, existe uma coesão no Partido Democrata que contrasta com as profundas divisões do Partido Republicano. Estas não serão resolvidas pelas primárias, que apenas abordam as diferenças entre os maioritários trumpistas e os ultraminoritários never trumpers. Destacaria sobretudo a dificuldade dos Republicanos em governarem a própria casa, espelhada na tumultuosa relação da maioria republicana na Câmara dos Representantes. Conseguirá Mike Johnson manter-se como Presidente da Câmara até ao final do mandato?

Os estrategas do presidente estão, naturalmente, a preparar-se para uma campanha contra Trump. Concretizando-se essa nomeação, Biden irá centrar a campanha na defesa da democracia e das liberdades individuais, onde temas como o aborto, a criação de emprego ou a renovação das infraestruturas básicas serão essenciais.

No terceiro aniversário do ataque ao Capitólio, Biden irá destacar as características antidemocráticas e contrárias à liberdade do seu antecessor. Assistiremos certamente a fortes ataques à proximidade dos Republicanos à Rússia e aos adversários dos Estados Unidos e seus aliados. Isto num ano que poderá trazer condenações judiciais para Trump, o que não deixará de ter implicações aos olhos dos eleitores, quando examinarem mais atentamente os candidatos.

Mas, se os fundamentos desta campanha parecem favorecer Biden, a dez meses das eleições nenhuma pessoa sensata apostará de forma clara num desfecho. Os últimos dois ciclos eleitorais foram pródigos nisso: em 2016, todos apontavam para a presidente Hillary Clinton – até se escreveram livros sobre isso – e, em 2020, por esta altura, poucos diriam que Joe Biden venceria as eleições ou, até, as primárias Democratas.

Pela terceira eleição presidencial consecutiva, vencerá aquele que for considerado o mal menor pelos eleitores. E isso também diz tudo sobre as fragilidades da democracia americana.

Especialista em política norte-americana