Às portas das comemorações do Dia da Liberdade, não podemos afirmar ser completamente livres.

Comemoramos a liberdade política mas, certamente, temos um longo caminho a percorrer no que respeita às liberdades sociais e económicas em Portugal.

Passaram dois anos da pandemia, que veio colocar em xeque a cultura de liberdade que existe no nosso país: de forma arbitrária e, muitas vezes, inconstitucional, o Estado tomou decisões para “proteger os cidadãos” sem base científica que o justificasse. De repente, parecia haver um criminoso em cada esquina que saía para apanhar ar e que deveria imediatamente ser denunciado. O Estado decretou o melhor para todos, que acatamos porque, enfim, “eles é que sabem”.

E se a ditadura que vingou neste país por 48 anos nos deveria ter deixado uma lição relativamente a esta matéria, quando confrontados com a perda da liberdade conquistada, permitimos que o Estado fechasse negócios, tivesse intervenção na forma de educação das nossas crianças – que perderam a oportunidade de adquirir competências no momento próprio –, na liberdade de circulação, na liberdade de decisão. E, por não ser pouco, julgo merecer a reflexão colectiva sobre de onde viemos e para onde queremos ir.

A tendência histórica é a sociedade andar em círculos. A pandemia e o novo normal reforçaram a já existente “cultura do cancelamento”, o conceito moderno de censura que consiste em linchamento público de quem pensa de uma forma considerada desadequada. As vítimas de cancelamento são perseguidas, ridicularizadas, na tentativa do seu silenciamento. As pessoas não são fisicamente presas, como nos tempos do antigamente, mas são moralmente condenadas, presas numa gaiola metafórica do certo e do errado. Ironicamente, por receio de se voltar aos tempos de antigamente, aos tempos sem liberdade, a liberdade condenamos.

Também a liberdade económica se encontra fortemente comprometida num sistema em que o contribuinte paga para trabalhar, sem que a retribuição por esse esforço seja compensatória pela devolução de serviços públicos eficientes.

A complexidade do sistema fiscal ajuda a empurrar Portugal para a cauda da Europa, o seu peso ajuda a empurrar as novas gerações para fora – ou isso ou viver em dependência familiar, porque não é dada à minha geração a hipótese de prosperar pelo trabalho.

Mas o Estado oferece-nos subsídios para compensar aquilo que nos leva, num ciclo interminável e incomportável.

Quase meio século depois da revolução do 25 de Abril e da contra-revolução do 25 de Novembro, que estabeleceram a liberdade e a democracia em Portugal, infelizmente, não podemos afirmar-nos em condições de usufruto total deste direito.

A esperança reside na nova geração, a mais prejudicada, que por esta razão aprendeu a amar e a lutar pelo valor maior da liberdade.