Num ano repleto de atos eleitorais, as eleições presidenciais nos Estados Unidos da América (EUA), previstas para 5 de novembro, são as que concentram maior atenção, pelos reflexos que podem ter a nível interno e externo, mais ainda se tivermos em conta uma longa campanha eleitoral, que já começou.

A expectativa é que Joe Biden, o presidente em exercício, seja o candidato escolhido pelo Partido Democrata, e que Donald Trump seja o candidato designado pelo Partido Republicano, reeditando-se o embate das últimas eleições, em 2020, em que Trump saiu derrotado na tentativa de reeleição.

Ambos lideram as sondagens para as primárias dos seus partidos, com Joe Biden a reunir, nesta altura, a preferência de 68,3% dos inquiridos, quase nove vezes mais do que a segunda classificada, a escritora e conferencista Marianne Williamson, enquanto Donald Trump lidera, do lado dos republicanos, com um registo de 62,5%, mais de 50 pontos acima do seu principal adversário, o governador da Florida, Ron DeSantis.

Trump terá, no entanto, de ultrapassar mais obstáculos para chegar à Casa Branca, a começar pelas ações judiciais apresentadas em 33 estados para o impedir de constar nos boletins de voto das primárias, pelo seu papel no ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio, em Washington, quando uma turba de apoiantes procurou impedir uma sessão conjunta do Congresso e da Câmara de Representantes para certificar os resultados das eleições ganhas por Biden.

Nas ações defende-se que Trump deve ser inibido de participar nas eleições ao abrigo da 3ª Secção da 14ª emenda da Constituição dos EUA, que estabelece que ninguém pode ser eleito ou nomeado para cargos públicos se se tiver envolvido em “insurreição ou rebelião” contra a Constituição ou ter providenciado “ajuda ou conforto aos seus inimigos”.

O Estado da Califórnia, o mais populoso dos EUA, decidiu que Donald Trump pode continuar no boletim de voto para as primárias republicanas, seguindo o que tinham decidido os tribunais no Michigan e no Minnesota. Ao contrário, a secretária de Estado do Maine, responsável por organizar as eleições, e o Supremo Tribunal do Colorado decidiram que não poderá participar.

Em muitos estados, as queixas ou não foram aceites ou foram abandonadas, mas os processos continuam ativos em 14, e espera-se que, depois dos recursos para o Supremo Tribunal dos EUA, haja uma decisão federal vinculativa.

As primárias decorrem entre janeiro e junho, ficando definido na Convenção do Partido Republicado, que se realizará entre 15 e 18 de julho, em Milwaukee, no Wisconsin, qual o candidato nas eleições. A Convenção do Partido Democrata decorre cerca de um mês depois, entre 19 e 22 de agosto, em Chicago, no estado do Illinois.

Tribunais e sondagens

Donald Trump enfrenta, também, quatro processos judicias – dois federais e dois estaduais – em que é acusado de 91 crimes, que envolvem a sua vida política, principalmente as tentativas para reverter os resultados eleitorais de 2020, mas também os seus negócios. Os julgamentos suceder-se-ão a partir de março, fazendo com que grande parte da corrida à Casa Branca seja passada em tribunal.

Os processos judiciais não impedem que Donald Trump seja candidato às presidenciais ou, até eleito, mesmo que seja condenado, apesar de ser a primeira vez que um ex-presidente é alvo de processos criminais, mas têm constituído, até um reforço da retórica de campanha, assente na polarização e no combate contra o sistema judicial e o seu alegado uso para fins políticos.

Nas sondagens, Trump tem surgido consistentemente à frente de Biden, com uma diferença entre um e sete pontos percentuais, apesar de o presidente em exercício surgir a liderar em alguns estudos.

Acresce que a taxa de aprovação de Joe Biden é de apenas, 39%, o que representa o pior registo de um presidente na entrada do último ano do primeiro mandato, na era moderna, segundo a Gallup, empresa especializada em estudos de opinião. O trabalho de campo para este inquérito foi feito 1 e 20 de dezembro, quando a entre Israel e o Hamas foi retomada, depois de uma trégua, quando Volodimir Zelensky visitou a Casa Branca para pedir a ajuda dos EUA no esforço de guerra, e quando os republicanos da Câmara de Representantes votaram por unanimidade a abertura de um inquérito para a destituição de Biden.

Donald Trump, na mesma altura do seu mandato, obtinha um índice de aprovação de 43%.

 

Artigo publicado na edição do NOVO de 30 de dezembro