O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas, manifestou solidariedade para com a família de Odair Moniz, que morreu baleado pela PSP na segunda-feira, em Lisboa, e respeito por aqueles que procuram que a ordem se faça sem violência.

“À família deste senhor que faleceu quero deixar-lhe os meus sentimentos de profunda proximidade porque ninguém pode ser assim tratado. Por outro lado, também um grande respeito para com aqueles que procurem ajudar a que a ordem e a convivência se faça sem violência”, afirmou o também bispo de Leiria-Fátim, em declarações à agência Ecclesia, este sábado, 26 de outubro, à saída da última reunião do Sínodo – assembleia de bispos e leigos da Igreja Católica – , que decorreu no Vaticano.

As declarações foram enviadas hoje de manhã às redações pelo Gabinete de Comunicação da Conferência Episcopal Portuguesa.

Para José Ornelas, “ninguém tem uma missão fácil nestes tempos”, mas considera que é necessária a colaboração de todos.

Segundo o presidente da CEP, é necessário o país saber viver “com as diferenças” e não “deixar-se levar simplesmente pela violência, nem das autoridades nem daqueles que reagem a possíveis exageros”.

Portugal, disse, “é um país pequeno, que está habituado a receber diferenças e a projetar-se também para aquilo que é diferente”.

“Nós não temos de fazer uma política para nós para aplicar aos outros. Nós temos de, juntos, escutar-nos em todas as dimensões das pessoas que nós temos, mas também daquelas que chegam mais de fora, também daquelas que são diferentes de nós mas que vieram e que têm vontade de viver conosco para encontrarmos um caminho que realmente possa ser um caminho de progresso”, vincou.

Na perspetiva de José Ornelas, sem esse entendimento que permita abraçar as diferenças e sem a participação de todos “não há paz, não há progresso, não há humanização”.

“E nós precisamos disso. Todos precisamos”, acrescentou.

O funeral de Odair Moniz, baleado pela polícia na segunda-feira, na Amadora, realiza-se hoje à tarde na Buraca, ao fim de quase uma semana de tumultos na Área Metropolitana de Lisboa e de duas manifestações na capital.

Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, foi baleado na madrugada de segunda-feira, no Bairro Cova da Moura, também na Amadora, no distrito de Lisboa.

A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos e o agente que baleou o homem foi constituído arguido.

Desde esse dia, a PSP registou na Área Metropolitana de Lisboa mais de 100 ocorrências de distúrbios na via pública e deteve mais de 20 pessoas, contabilizando-se ainda sete feridos, um dos quais com gravidade.

No sábado, realizou-se uma manifestação convocada pelo movimento Vida Justa, que juntou milhares de pessoas em Lisboa, ao mesmo tempo decorreu uma contramanifestação convocada pelo partido de extrema-direita Chega.

As manifestações decorreram de forma “pacífica, em serenidade e com civismo”, segundo a PSP.