Três quartos dos jovens portugueses têm uma visão polarizada da política e mais à direita e são descrentes dos partidos tradicionais. Os jovens portugueses preferem manifestações a ir às urnas e é a direita radical que os tira da abstenção. Um quarto dos jovens com menos de 35 anos são os que mais são a favor da exploração de soluções autoritárias face à deriva política. O partido que mais tem crescido nas eleições em Portugal é o Chega, pela Europa fora a direita radical tem crescido imenso. Em Portugal, depois das últimas eleições legislativas, o Chega ocupa 50 assentos na Assembleia da República, com quase 20% dos votos.

O mesmo poderia ser dito de países com um passado recente de regimes ditatoriais, como o Chile ou a Argentina. No primeiro, a extrema-direita do Partido Republicano tornou-se a principal força de oposição ao governo progressista, conquistando mesmo a maioria do Conselho Constitucional encarregado de redigir a nova Carta Magna do país, rejeitada pela maioria do eleitorado em Dezembro passado.

Na Argentina, a atual vice-presidente do país, Victoria Villarruel, parceira do presidente Javier Milei, justificou a junta militar durante a última campanha presidencial, sem que isso representasse qualquer problema para a sua eleição.

Em El Salvador, o presidente Nayib Bukele é aceite de bom grado, mesmo tendo uma oligarquia familiar a dominar economicamente o país e cometendo atropelos à Constituição.

Todos estes fenómenos têm um denominador comum: os seus principais nichos de voto tendem a estar entre as novas gerações, precisamente aqueles que não viveram as ditaduras, que todos estes partidos costumam reivindicar, seja abertamente ou através de subterfúgios mais ou menos ocultos.

Em Espanha, o Vox não pára de crescer. Em França, Le Pen quase chegava ao poder. Em Itália, Meloni está no poder.

É evidente que algo está a acontecer entre as novas gerações, é algo que vai além do voto específico por uma opção política. O que é mais chocante é que são pessoas que nasceram e viveram toda a sua vida num sistema democrático – são nativos democráticos.

Para mim, a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo. Contudo, muitos jovens preferem, em algumas circunstâncias, um governo autoritário a um governo democrático. Esta opinião tem tendência para crescer.

Os jovens estão-se nas tintas para os valores democráticos. Algo falhou na transmissão dos valores democráticos. Os partidos democráticos pensam que os valores democráticos ocorreriam naturalmente, como por um passe de mágica, pelo simples facto de vivermos em democracia. Mas isso não aconteceu. A democracia é uma eterna conquista, que exige atenção e perceber os sinais que a sociedade nos dá. Passados 50 anos, há muita anti-política, os jovens pensam que os políticos não se preocupam com eles e que são governados apenas pelos seus interesses pessoais e da seita.

Atualmente, a democracia para os jovens não traz consigo bem-estar, nem a segurança de um futuro melhor. Pelo contrário, os jovens já interiorizaram que vão viver pior que os seus pais, sem que a democracia aparentemente tenha qualquer possibilidade de mudar isso. Para a maioria dos jovens, a política não tem capacidade para mudar as coisas, para melhorar as suas vidas, para lhes permitir ter um futuro melhor. A política tornou-se vulgar e desinteressante, esta dessacralização da política envolve derrubá-la.

O atual eleitor jovem não assume que o político sabe mais do que ele nem aceita que a sua posição deva ser subsidiária. A democracia perdeu atributos e a política tornou-se profana.

A relação dos novos eleitores com a política é regida, principalmente, por rígidos critérios mercantilistas, satisfazendo a demanda. Quando confrontado com a política, o novo eleitor pergunta-se o que ela fez por ele, o que os políticos fizeram por ele, o que a democracia fez por ele. Na maioria das vezes, a resposta a estas perguntas é nada.

O objetivo dos jovens não é acabar com a democracia, querem simplesmente dar um pontapé nos tomates dos políticos. Não pretendem mais do que gracejar e ter o prazer de rir na cara do sistema – uma boutade, sem mais delongas e sem consequências aparentes.

Fundador do Clube dos Pensadores