Paulo Rangel desafiou os candidatos da AD às próximas europeias a proporem uma política demográfica comum e defendeu uma “imigração ponderada”, com “conta, peso e medida”, que permita acolher bem.
O ministro dos Negócios Estrangeiros e ex-eurodeputado falava na 13.ª edição da Universidade Europa, iniciativa de formação política que reúne cerca de 70 jovens na Cúria, em Aveiro, que será encerrada hoje por Luís Montenegro e Sebastião Bugalho, cabeça de lista às europeias da AD.
No jantar-conferência, com o tema “Os desafios da União Europeia hoje”, Rangel elegeu a demografia como o principal, passando por políticas de natalidade, de atenção aos mais velhos e migratórias.
“Vamos precisar de gente vinda de outros continentes para a Europa, mas vamos ter de os integrar, tem de ser com conta peso e medida, uma imigração ponderada”, afirmou, considerando inaceitáveis situações como a dos migrantes de Odemira ou de apartamentos partilhados por dezenas de pessoas em Lisboa.
Paulo Rangel salientou que o desafio demográfico é “um problema comum na Europa” e recordou que o programa de 2019 do PSD às europeias – e uma moção ao Congresso do partido em 2022 – defendia uma política comum de demografia na União Europeia.
“É uma boa causa para os deputados que amanhã [domingo] serão aqui apresentados: proporem de novo no programa que haja uma política comum de demografia”, disse.
A uma pergunta se a Europa deve colocar limites de valores aos imigrantes que acolhe, respondeu que são “os direitos fundamentais garantidos na Constituição, a dignidade da pessoa humana”.
“Há liberdade de culto, mas não posso achar que a mutilação genital feminina não é um crime (…). Respeitar o multiculturalismo é respeitar também as posições dos cristãos. Vejo muita gente na esquerda e extrema-esquerda, que se forem muçulmanos ou de outro credo há que respeitar todos os direitos, mas se forem cristãos já não podem defender os princípios das igrejas a que pertencem”, referiu.
Numa aula que se prolongou por cerca de uma hora e 45 minutos, Paulo Rangel foi questionado sobre o crescimento dos populismos na União Europeia e defendeu que também os cidadãos devem ser responsabilizados.
“Vejo sempre toda a agente dizer que a culpa é dos governantes, dos políticos e do sistema, mas as pessoas que estão em casa não têm direito de voto? As pessoas que estão em casa não podem manifestar-se, não podem até indignar-se? Elas têm esses direitos, as pessoas também querem instalar-se”, disse, criticando que as redes sociais promovam um sistema em que se tem “orgulho em ser seguidor de alguém”.
O ex-eurodeputado, que se despediu de Bruxelas ao fim de 14 anos, não quis afastar as responsabilidades dos governos no aumento dos populismos.
“Nós temos de apresentar resultados, temos essa obrigação. Se os governos, parlamentos, câmaras municipais não apresentam resultados, até podemos substituí-los em eleições, mas há um momento a partir do qual o que está em causa é o sistema e aí vêm os populismos”, disse.
Rangel frisou estar nesta iniciativa de formação política na qualidade de dirigente do PSD e não de ministro, mas abriu uma exceção para uma pergunta sobre uma possível libertação dos tripulantes de um navio de bandeira portuguesa ligado a Israel e apreendido pelo Irão a 13 de abril.
“Há coisas que posso dizer porque são públicas, outras que não posso dizer porque, no exercício da minha função, não estou autorizado a dizê-las (…). O que o direito internacional diz é que um Estado não pode aprisionar um barco com pavilhão de outro Estado e que, se o fizer, tem de os libertar imediatamente e aos tripulantes também. Quem interferiu nos assuntos internos de Portugal foi o Irão”, disse, repetindo que o Governo português está “expectante” quanto ao anúncio feito no sábado pelo ministro das Relações Exteriores do Irão sobre a libertação dos tripulantes de várias nacionalidades.