Quem quiser deliciar-se com os golos de Gyökeres e Evanilson, os passes fenomenais de João Neves, os desarmes no limite de António Silva e Diomande ou as defesas impossíveis de Diogo Costa é melhor apressar-se, comprar um bilhete para vê-los jogar ao vivo e apreciar cada segundo naquele lema de que nem sempre damos valor ao facto de sermos felizes e não sabermos.

A época futebolística está a acabar. Faltam oito jornadas para o fim do campeonato mais quatro jogos das meias-finais da Taça de Portugal, e o apito final será dado no Jamor a 26 de maio. Depois, as atenções viram-se para o Euro 2024 e para um mercado de transferências que promete deixar, uma vez mais, milhões a rodos em Portugal, para bem da nossa economia e para tristeza dos verdadeiros adeptos de futebol, que terão de começar a venerar outros jogadores nesta fábrica em série que parece ser o futebol português.

Indo por partes, o jogador que parece estar mais visível no caderno de notas dos principais clubes europeus é o sueco Viktor Gyökeres. O nórdico leva 36 golos em 39 encontros feitos pelo Sporting esta temporada. Ao preço a que está o golo, pode dizer-se que os leões apostaram forte, mas apostaram bem. Gyökeres foi a contratação mais cara da história do Sporting, mas ninguém ousa alvitrar a possibilidade de fazer crer que se tratou de um tiro em falso por parte de Frederico Varandas.

Por alguma razão, Gyökeres já foi conotado nos últimos tempos com emblemas como Chelsea, Arsenal, AC Milan ou Atlético de Madrid. Aos 25 anos – completa 26 a 4 de junho -, pode dizer-se que está no ponto. Mas o Sporting não desiste e já começou a sondar a hipótese de aumentar o sueco e, assim, passar a cláusula para números ainda superiores aos atuais 100 milhões de euros. Parece quase certo que, da maneira que foi a maior contratação da história do Sporting, Gyökeres será também a maior venda.

Em Alvalade há mais jogadores muito bem referenciados para reforçar os colossos do futebol europeu. Por exemplo, Diomande. O central marfinense chegou há pouco mais de um ano num negócio que pode ir aos 12,5 milhões de euros e numa altura em que jogava na II Liga ao serviço do Mafra (por empréstimo dos dinamarqueses do Midtjylland). E a verdade é que o defesa se impôs naturalmente, apesar de ter concorrência de qualidade na defesa às ordens de Rúben Amorim. Com 20 anos, tem tudo, a começar pela idade, para ser um dos mais cobiçados no próximo defeso.

Estes dois jogadores, juntamente com Gonçalo Inácio – que terá a montra do Euro 2024 para se valorizar -, são os grandes candidatos a insuflar os cofres leoninos no próximo verão, ainda que não seja crível que saiam os três em simultâneo. Ainda assim, o Sporting tem tudo para fazer um valor próximo ou superior a 150 milhões de euros só em transferências, montante que dará para reforçar a equipa.

Os meninos da Luz
No Benfica estão dois meninos formados no Seixal e que, a menos que aconteça algo inimaginável, vão estar ao serviço de Portugal no Euro 2024. Falamos, obviamente, de António Silva e João Neves. O primeiro tem sido um dos garantes da defesa encarnada, em vários jogos num patamar acima do parceiro com quem faz dupla, o campeão do mundo Otamendi.

António Silva já disse que não tem pressa de abandonar o clube do coração, mas se for uma presença constante no onze da seleção em terras germânicas será muito difícil equacionar a sua continuidade, e o mesmo se aplica a João Neves, que beneficiou da saída de Enzo Fernández, há pouco mais de um ano, para agarrar um lugar no meio-campo de Roger Schmidt. Hoje, a dúvida não é se João Neves joga, mas quem joga ao lado de João Neves. O seu nome tem sido ventilado em Inglaterra para os gigantes de Manchester e, ao que parece, nem uma cláusula de 120 milhões de euros assusta os endinheirados clubes da Premier League.

Baliza e ataque
No Dragão, o problema pode estender-se de uma área à outra. Diogo Costa tem sido uma das grandes figuras da equipa, titular indiscutível da seleção nacional e com mais uma excelente possibilidade de se valorizar durante o Euro 2024, que se vai realizar de 14 de junho a 14 de julho na Alemanha.

No passado, o guarda-redes esteve na lista de clubes de topo, embevecidos com as exibições feitas pelo atleta na Liga dos Campeões, mas a saída não se verificou. O caso de Diogo Costa é sempre mais sensível, pois ocupa uma posição específica e dependerá sempre do fim de ciclo de um guarda-redes de uma grande equipa.

Com uma cláusula de rescisão de 75 milhões de euros, admite-se que o FC Porto não esteja com grande vontade de fazer descontos, pois sabe que dificilmente encontrará um guarda-redes de semelhante qualidade por um bom preço ou entre os seus escalões de formação. Uma eventual saída de Diogo Costa será sempre um problema de difícil resolução, independentemente dos muitos milhões de euros que possa deixar no Dragão.

Tão complicada como a possível transferência de Diogo Costa poderá ser a de Evanilson, até porque Taremi vai rumar ao Inter de Milão, em fim de contrato, ou seja, sem que o FC Porto receba qualquer euro.

Evanilson é um jogador que está em alta. Na atual temporada marcou quatro golos na Liga dos Campeões e, fazendo contas, apontou 22 golos em 34 partidas a contar para todas as competições.

O brasileiro é um alvo muito apetecido, até porque está muito perto de ser chamado à seleção brasileira, conforme tem sido ventilado pela imprensa canarinha. Isso pode levar a uma valorização que chame ainda mais a atenção de emblemas das cinco principais ligas, mas também pode ajudar o FC Porto a fazer um negócio por valores mais avultados.

Precisamente a seleção brasileira pode ser uma ajuda e um problema para o próximo presidente e treinador do FC Porto. Na última convocatória, o selecionador Dorival Júnior chamou três portistas: Galeno, Wendell e Pepê. Isto equivale a dizer que alguém mais atento quererá perceber por que razão o FC Porto, que atua numa liga ainda periférica, tem três representantes numa das seleções mais valorizadas do futebol mundial.

Seja como for, o futebol português tem de se preparar para uma nova fornada de talento, pois os jogadores referidos neste texto podem estar a despedir-se do futebol português. Um adeus que se repete ano após ano.