O tempo começa a apertar e as eleições estão mesmo aí à porta. Os dois principais partidos começam a esticar a corda do voto útil e a AD já está a ensaiar toques de charme para captar o eleitorado do Chega, enquanto no PS dá-se o tudo por tudo para convencer os eleitores à esquerda que o voto que conta é nos socialistas.

Quarta-feira acordou com Pedro Nuno Santos no Barreiro, para uma arruada, um dia depois de ter tido Fernando Medina e António Costa ao seu lado para o apoiarem. O foco do secretário-geral do PS começa na reta final da campanha a dividir-se: tanto ataca a AD para ir buscar votos ao centro, avisando que a coligação quer “prejudicar a maioria do país”, como começa a piscar o olho ao eleitorado bloquista e comunista, tentando passar a ideia que o voto que serve e que é “útil” é o voto na sua candidatura.

Na noite anterior, Paulo Portas, ex-líder do CDS e ex-vice-primeiro-ministro de Passos tinha lançado um feroz ataque aos governos de Costa e às sucessivas demissões que aconteceram nos últimos dois anos. Mas o PS teve resposta pronta. A ainda ministra Ana Catarina Mendes disse quer a AD “entrou em delírio” e lembrou a Portas o seu famoso “irrevogável”.

A campanha de Luís Montenegro já tinha sofrido um contratempo com os ativistas climáticos, quando um deles jogou tinta verde para a cara do líder da AD. No comício do PS de terça-feira à noite foi a vez de um grupo deles, sentado numa bancada da Aula Magna, em Lisboa, ter interrompido por diversas vezes os discursos.

Namoro ao eleitorado do Chega

Pela caravana do PSD também se continua a trilhar a caminhada da dramatização ao voto. Mas se até agora o adversário principal tem sido o PS e os governos socialistas, Montenegro decidiu disparar para o eleitorado do Chega, função que na primeira semana da campanha deixou para outros dirigentes, sobretudo para os do CDS. Mas, desta vez, já com as eleições a escassos quatro dias, o líder da AD decidiu assumir ele próprio as despesas desse combate, embalado pelo apoio que tinha tido anteriormente com a intervenção de Paulo Portas no comício. Luís Montenegro dirigiu-se diretamente ao eleitorado do Chega para lhes dizer que sabe que “não são xenófobos, não são racistas, não são radicais” e que, por isso, “se estão descontentes” com o estado do país, “votem na AD”, porque sabem que André Ventura “não vai resolver os problemas” com o programa eleitoral que apresentou.

A caravana de Luís Montenegro tem recebido nos últimos dias vários notáveis. Praticamente todos os ex-líderes do partido e outros notáveis já deram de uma forma ou outra o seu apoio ao líder da AD, mas esta quarta-feira a grande surpresa é mesmo Rui Rio. O seu antigo adversário e quase arqui-inimigo Rui Rio, ex-líder do PSD, vai estar ao seu lado numa arruada em Viana do Castelo.

Com o PS a repetir todos os dias que “vai ganhar” as legislativas de 10 de março – fê-lo de novo esta quarta-feira na arruada no Barreiro -, Luís Montenegro fez questão de frisar e deixar bem claro que “ninguém ganha eleições antes do dia”.

O dia de campanha de André Ventura continuou a ser marcado pela insinuação que fez de que “forças vivas” do PSD lhe terão garantido que poderia haver uma aliança com o Chega depois das eleições. Apesar de Luís Montenegro lhe ter respondido que não entra nesse “recreio”, os jornalistas que acompanham a caravana do Chega não largam o assunto e tentam perceber quem são as tais forças vivas do PSD, mas Ventura fecha-se em copas, o que leva os analistas políticos a dizerem que esta insinuação serve sobretudo para que o Chega tente combater o voto útil na AD. Santiago Abascal, líder do VOX espanhol, vai estar de novo ao lado de Ventura para apoiar o Chega, desta vez no Algarve.

A porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, tirou o dia para fazer um combate às maiorias absolutas, já uma tentativa, também de cerrar fileiras contra o voto útil no PS ou na AD. “Já ficou bastante claro que uma maioria absoluta não serve o país e que o voto chamado voto útil foi um voto absolutamente inútil”, avisou.

Paulo Raimundo, líder da CDU, mostrou-se muito otimista e até disse que a sua coligação vai ser “a grande surpresa da noite eleitoral”. O secretário-geral comunista disse estar convicto de que vai conseguir travar a bipolarização que tem marcado a campanha eleitoral.

Já a Iniciativa Liberal tirou a dia para começar a lançar à AD quais são as suas linhas vermelhas para um eventual acordo pós-eleitoral. Rui Rocha demarcou uma: o cheque-creche de 480 euros é uma das “linhas de exigência” para chegar a um entendimento para um eventual Governo com a Aliança Democrática.

“Já me perguntaram ao longo desta caminhada nesta campanha eleitoral várias vezes se há linhas de exigência da Iniciativa Liberal relativamente a pontos programáticos e a questões que propomos. Pois esta é uma linha da qual eu não prescindo mesmo”, avisou.