Estamos a uma semana do ato eleitoral que irá definir o novo quadro parlamentar e, consequentemente, uma maioria de suporte a um novo governo.

Há pouco mais de dois anos ninguém imaginaria que uma ampla maioria absoluta, de um único partido, nos iria conduzir a um processo eleitoral antecipado. Muito menos se pensaria que passaríamos de um quadro parlamentar maioritário e, aparentemente, estável para um contexto de profunda incerteza e de enorme fragmentação do sistema político. O tempo dará conta, com o necessário distanciamento, das razões e dos factos que nos trouxeram até aqui.

O que esperar então do veredito popular no próximo 10 de março? No essencial, estão em confronto dois projetos de sociedade, de país e de modelo de governação para atingir os objetivos comuns de bem-estar e de melhoria das condições de vida dos cidadãos. Desta vez os campos parecem estar mais bem definidos e o quadro de opções políticas mais clarificado. À direita, a opção que se coloca polariza, em torno da social-democracia, a direita conservadora com a certeza de um entendimento com os defensores de uma abertura do país aos ideais do liberalismo. Uma novidade política que, a ter sucesso, fará o país experimentar uma fórmula de governo inédita com a chegada ao poder, pela primeira vez na história da democracia, dos valores do liberalismo social e económico. À esquerda um projeto centrado no partido socialista com uma clara manifestação de vontade e de preferência por entendimentos à esquerda. Neste contexto, os últimos dias de campanha serão determinantes para o fecho de decisão de um número (ainda) muito significativo de indecisos.

Ficam em aberto algumas dúvidas e incertezas quanto ao desfecho final. Até que ponto irá a fragmentação do Parlamento? Qual o comportamento final dos indecisos e a sua repartição entre abstenção e participação? Em que medida o surgimento de uma força política relativamente nova no espetro extremo da direita e a anunciada intenção de um acordo escrito entre os partidos de esquerda dividirá o decisivo eleitorado do centro? O que pesará mais na decisão final – o medo de mudar ou a vontade firme de o fazer?

São muitos os desafios, intensas e complexas as expectativas. Uma coisa parece certa: o país está confrontado com a imperativa necessidade de encontrar respostas que conjuguem a satisfação de necessidades dos mais velhos com a legítima ambição das gerações mais novas. O desafio demográfico não pode ficar indiferente ao desígnio de desenvolvimento do país. Não podemos continuar a ser um país que luta, todos os dias, por cumprir os mínimos e que, apesar disso, se mantém refém da pobreza e das desigualdades.

Seria importante, por essa razão, que a 10 de março todos os que podem participar no ato eleitoral o possam fazer. Uma grande participação nas eleições trará maior legitimidade e mais força para quem for chamado a conduzir os destinos do país nos próximo quatro anos.

Os tempos que temos pela frente não serão fáceis perante a instabilidade económica e política que se vive no mundo. A fragmentação eleitoral pode gerar diversidade, mas poderá ser, perigosamente, pouco útil para enfrentar os problemas ao nível interno e externo.

Professor universitário//a.camposfernandes@outlook.com

Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 2 de março