Conhecidos como os Óscares britânicos, os BAFTA são dos galardões mais importantes nesta temporada de prémios da indústria do entretenimento, que culmina com os Óscares. A cerimónia dos BAFTA deste ano, que vai decorrer este domingo, no Southbank Centre’s Royal Festival Hall, em Londres, vai ajudar a definir o favoritismo na corrida para os Óscares, que têm lugar em menos de um mês (10 de março).

Os Globos de Ouro já coroaram Oppenheimer, que foi o filme mais nomeado para os Óscares e também o é para os BAFTA. Sendo cada vez mais claro que está a conquistar os votantes na temporada de prémios face a Barbie, a outra metade do fenómeno Barbenheimer, resta saber se tem rival na caminhada para as estatuetas douradas. É aqui que entra Pobres Criaturas, que pode puxar a passadeira vermelha a Oppenheimer nas principais categorias. Os BAFTA vão ajudar a dissipar essa e outras dúvidas.

Suspense ou confirmação?

Os BAFTA divergem tradicionalmente dos Globos de Ouro e dos Óscares nas nomeações e, algumas vezes, até nos vencedores. As escolhas são, geralmente, mais ousadas e inesperadas. As nomeações deste ano não fugiram a isso. No que diz respeito aos filmes com maior número de nomeações, Oppenheimer lidera, com 13, e fica a apenas uma de igualar o recorde dos BAFTA, estabelecido, no ano passado, pelo filme A Oeste Nada de Novo. Pobres Criaturas surge a seguir, com 11 nomeações, e Assassinos da Lua das Flores tem nove. A surpresa entre os filmes mais nomeados é A Zona de Interesse. A obra de Jonathan Glazer recebeu nove nomeações e pode ganhar tração na altura certa. Com sete nomeações cada, seguem-se Anatomia de Uma Queda, Os Excluídos e Maestro. O facto de Barbie se ter ficado pelas cinco nomeações já não pode ser considerado uma surpresa, face ao que se verificou nas nomeações para os Óscares (conseguiu oito nomeações, um número que ficou abaixo do esperado) e por ter sido um dos filmes derrotados nos Globos de Ouro.

Nos Globos de Ouro, Oppenheimer ganhou na categoria de Melhor Filme de Drama e Pobres Criaturas venceu na categoria de Melhor Filme de Comédia ou Musical. Nos BAFTA, não existe essa distinção de género de filme. Ambos estão nomeados para Melhor Filme e é seguro dizer que, se um destes dois filmes ganhar nesta categoria, vai partir com vantagem para a categoria-rainha dos Óscares. Sendo os dois favoritos a levarem para casa o BAFTA de Melhor Filme, atenção aos outros três nomeados e às surpresas frequentes que os BAFTA proporcionam. Anatomia de Uma Queda tem sido muito elogiado pela crítica e pode intrometer-se nesta corrida.

Na categoria de Melhor Filme Britânico – que é mais extensa, com dez nomeados -, Pobres Criaturas assume um maior favoritismo, uma vez que não enfrenta a concorrência de Oppenheimer. A Zona de Interesse e All of Us Strangers serão os seus principais rivais. Saltburn pode espreitar uma surpresa e ter o seu momento de glória numa temporada de prémios que tem sido negativa face às expectativas que chegaram a ser geradas pelo filme de Emerald Fennell.

Entre os nomeados para Melhor Filme de Língua Não Inglesa antecipa-se uma decisão entre Anatomia de Uma Queda e A Zona de Interesse. Vidas Passadas também terá uma palavra a dizer.

Incerteza nas interpretações

Nas categorias de interpretação há um leque maior de surpresas nas nomeações comparativamente ao que se verificou nas nomeações para os Globos de Ouro e para os Óscares. Há muitos atores que surgem nos nomeados dos BAFTA que não foram tidos em conta nas categorias de interpretação para os outros dois grandes prémios. Ao mesmo tempo, também são notórias algumas ausências.

Margot Robbie (Barbie) está nomeada para Melhor Atriz. A sua ausência das nomeadas para os Óscares ainda dá que falar. O nome de Fantasia Barrino (A Cor Púrpura) também surge nesta categoria. Tal como Robbie, foi uma das ausências mais comentadas quando foram anunciados os nomeados para os Óscares. Nota para a surpresa pela nomeação de Vivian Oparah (Rye Lane). Estão ainda nomeadas Carey Mulligan (Maestro), Sandra Hüller (Anatomia de Uma Queda) e Emma Stone (Pobres Criaturas). Emma Stone é a grande favorita pelo seu papel brilhante no filme de Yorgos Lanthimos, mas não deverá ser descartado o desempenho de Sandra Hüller na longa-metragem francesa Anatomia de Uma Queda. Nesta categoria sobressai a ausência de Lily Gladstone (Assassinos da Lua das Flores), que reparte com Emma Stone  o favoritismo na luta pela estatueta de Melhor Atriz nos Óscares.

Na disputa pelo BAFTA de Melhor Ator, destaque para as nomeações inesperadas de Barry Keoghan, cuja interpretação em Saltburn é o ponto mais alto do filme, e de Teo Yoo (Vidas Passadas). Paul Giamatti (Os Excluídos) e Cillian Murphy (Oppenheimer) são favoritos, mas Colman Domingo (Rustin) e Bradley Cooper (Maestro) têm legítimas aspirações devido aos seus desempenhos nos respetivos biopics. Jeffrey Wright (American Fiction) é a maior ausência nos nomeados para Melhor Ator dos BAFTA.

Na categoria de Melhor Atriz Secundária, Sandra Hüller repete a nomeação que tem para Melhor Atriz por um filme diferente. A atriz alemã surge nomeada pelo seu papel mais secundário em A Zona de Interesse. Esta é uma categoria marcada pelo equilíbrio, mas os críticos têm atribuído favoritismo a Da’Vine Joy Randolph pela interpretação de uma mãe que lida com a perda ainda recente do filho em Os Excluídos. Claire Foy (All of Us Strangers) foi a nomeação-surpresa numa categoria em que também constam Emily Blunt (Oppenheimer), Danielle Brooks (A Cor Púrpura) e Rosamund Pike (Saltburn).

Jacob Elordi (Saltburn), Paul Mescal (All of Us Strangers) e Dominic Sessa (Os Excluídos) foram todos nomeações inesperadas na categoria de Melhor Ator Secundário dos “Óscares britânicos”. Mescal, que depois de Aftersun volta a destacar-se com a sua personagem de All of Us Strangers, é um dos atores a seguir atentamente nos próximos anos e pode disputar com Ryan Gosling (Barbie) e Robert Downey Jr. (Oppenheimer) o BAFTA de Melhor Ator Secundário. E, claro, nunca se pode tirar da corrida Robert De Niro, que presenteou os espectadores com mais uma interpretação memorável em Assassinos da Lua das Flores. Neste caso estranha-se a ausência de Mark Ruffalo, que não mereceu reconhecimento pelo trabalho feito em Pobres Criaturas.

Ausências entre os realizadores

Porventura, nenhuma categoria dos BAFTA surpreendeu tanto como a de Melhor Realizador, nomeadamente pelas diversas ausências de peso. Justine Triet (Anatomia de Uma Queda), Christopher Nolan (Oppenheimer), Bradley Cooper (Maestro) e Jonathan Glazer (A Zona de Interesse) são escolhas consensuais, tendo em conta  o registo de outros prémios de cinema. Alexander Payne (Os Excluídos) e Andrew Haigh (All of Us Strangers) mereceram o reconhecimento para  os BAFTA. A lista de ausências? Por onde começar… Yorgos Lanthimos é a rejeição mais surpreendente e controversa, tendo em conta a magistralidade de Pobres Criaturas e do seu trabalho na realização. Greta Gerwig (Barbie) está mais uma vez de fora dos nomeados – aconteceu o mesmo nos Óscares. Martin Scorsese (Assassinos da Lua das Flores) falhou a nomeação para os BAFTA, assim como Celine Song, cujo trabalho na realização de Vidas Passadas tem sido algo desvalorizado na temporada de prémios.

Nas restantes nomeações, O Rapaz e a Garça, de Miyazaki Hayao, e Spider-Man: Across the Spider-Verse, que tem no português Joaquim dos Santos um dos realizadores, apresentam-se com favoritismo na luta pelo BAFTA de Melhor Filme de Animação. Já 20 Days in Mariupol está nomeado para Melhor Filme de Língua Não Inglesa e para Melhor Documentário. Uma menção ainda para uma das categorias criadas para os BAFTA que têm gerado mais interesse, o Prémio EE Estrela em Ascensão. Jacob Elordi e Ayo Edebiri, a atriz que tem sobressaído na série The Bear, são os nomes mais destacados na disputa por este galardão.

A cerimónia dos BAFTA vai ser apresentada pelo ator David Tennant. Já se sabe que Sophie Ellis-Bextor vai subir ao palco para cantar Murder on the Dancefloor, um dos seus êxitos e que foi reavivado pelo filme Saltburn. Esta será uma das performances musicais mais aguardadas da noite.

Artigo publicado na edição do NOVO de 17 de fevereiro