Atualmente, Joana de Verona pode ser vista no programa Dança com as Estrelas, da TVI, uma oportunidade para fazer algo de que sempre gostou e que estudou, a dança, embora num registo diferente, o das danças de salão. A atriz, de 34 anos, tem adorado a experiência, mas admite que está a ser “muito exigente”.
Nesta entrevista ao NOVO, Joana de Verona fala sobre a sua paixão pelas artes performativas, mas também pelo corpo e pelo trabalho, muitas vezes, com uma componente física que tem feito. Essa componente física ficou espelhada no filme brasileiro Tinnitus, o seu projeto mais recente no cinema, no qual interpreta uma atleta olímpica que se debate com uma doença. A vontade de realizar uma longa-metragem ficou patente nesta conversa, assim como o desejo de prosseguir com as criações e performances, como Kali, exibida em Lisboa no final de outubro do ano passado e que este ano vai passar por Sines, com o desejo de se tornar uma digressão pelo país.
Estreou-se muito cedo nos palcos, com oito anos. Percebeu cedo que gostava de representar, mas também de dançar. As artes performativas assumiram importância logo quando era criança?
Sim, desde miúda que dizia que queria fazer teatro e dança, que queria ser atriz e bailarina. Aos oito anos tive a sorte de poder começar a estudar tanto teatro como dança e foram as duas formações que segui durante bastante tempo, durante a adolescência, durante a fase adulta. Sempre levei em paralelo as duas coisas. Mas, a dada altura, a nível profissional tive de escolher uma coisa ou outra e aí acabei por fazer teatro e a performance, mas sempre muito ligada ao teatro físico, também teatro de texto, mas sempre numa vertente onde o corpo era importante. Tenho tido também o privilégio de trabalhar com essas pessoas. Desde a Vânia Rovisco, que é coreógrafa, à Mónica Calle com quem trabalho desde os 18 anos. Nunca deixei de estudar dança. Em paralelo fui sempre fazendo workshops, cursos, aulas regulares de dança contemporânea. Essa pesquisa do movimento vem desde miúda, desde os oito anos até agora. Tenho sempre aulas, não só de pesquisa de dança como bailarina ou performer, prefiro chamar-lhe performer, mas também com ateliers e cursos de composição coreográfica. É um sítio que para mim é muito importante e uma grande paixão. Tanto que quando entrei na Escola Superior de Teatro e Cinema, para o curso de Teatro, também fui à Escola Superior de Dança.
Queria conciliar as duas?
Achei que ia conseguir fazer a Escola Superior de Dança e a Escola Superior de Teatro. Claro que não foi possível, até porque era trabalhadora-estudante. Estava a fazer espetáculos e filmes, além do Conservatório. Mas, na minha cabeça, como sempre fiz muita coisa em paralelo, achei que conseguia fazer a Escola Superior de Dança ao mesmo tempo que a de Teatro – não a 100%, sempre soube que ia fazer a de Teatro mais a 100%. Mas a minha ideia era fazer duas ou três disciplinas na Escola Superior de Dança em paralelo. Mas não foi possível. No entanto, fui fazendo sempre workshops e cursos com coreógrafas portuguesas e internacionais. O corpo é uma grande paixão. Mesmo em câmara, trabalho a partir do corpo. Está tudo ligado, não dissocio uma coisa da outra. Quando chego a um set de filmagem às seis da manhã vou aquecer a partir da respiração, da coluna, de como estão os meus pés, mesmo que a câmara esteja a focar o meu olho. Vou ter um trabalho físico. É mesmo uma paixão. É infinito, ilimitado, é um estudo, uma pesquisa que não tem fim.
Ainda tem na memória essa estreia nos palcos aos oito anos com o Grupo de Teatro de Almodôvar?
Era um espetáculo de improvisação. Lembro-me que um dos meus irmãos estava presente em cena e lembro-me que era uma discussão em tribunal entre um casal lésbico relativamente à disputa da guarda de uma filha – a filha era eu. A argumentação era de improviso. Foi espetacular. Estava nervosíssima. O auditório estava cheio. Estava no meio dos adultos, eles estavam todos a brincar, a fazer aquilo. Eu queria ser atriz e bailarina, queria estar em cena; então, para mim, aquilo já era muito a sério. É genial ter sido improvisação porque é difícil, é muito específico. Só me diziam: “Dependendo do que te disserem, tu decides no momento o que fazer.”
Já havia um desafio extra.
Já era a performance a bombar.
Fez vários cursos de interpretação.
Fiz o Chapitô, o curso Zonas da Joana Craveiro, que é de performance, e a Escola Superior de Teatro e Cinema. Depois vou fazendo formações, porque sou viciada em estudar. Mas onde estou sempre a fazer cursos e formações é na dança.
Sei que também estudou direção de cinema documental.
Sim, realização. A vertente é cinema documental.
A formação constante é fundamental para si?
Gosto genuinamente de aprender e de não estagnar. Gosto muito de coisas diferentes. Se tivesse tempo, ia estudar cerâmica, ia pintar mais, que é uma coisa de que gosto muito. Mas a realização é também a minha profissão. Realizei a Chantal, que foi o meu filme de final de curso, que ganhou alguns prémios, esteve em festivais, esteve no IndieLisboa e agora faz parte do catálogo da Filmin. A minha ideia é fazer a minha longa-metragem no futuro. Espero que num futuro próximo, embora saiba que estas coisas demoram, principalmente quando se conciliam duas atividades profissionais, intérprete e criadora. Mas aos 17, por aí, decidi que queria realizar porque vi um filme chamado Nobody Knows, um filme asiático do Kore-eda Hirokazu, e percebi, “OK, é isto”. Já tinha percebido a minha grande paixão por antropologia, conhecer pessoas, passar tempo com pessoas desconhecidas na rua, conversar com elas, conhecer as suas histórias. Fotografo em analógico desde os 14 anos. Então decidi que queria ser realizadora, queria contar histórias. Depois fui para a vertente de documentário por ser a união do cinema com a antropologia. Estudei na escola Ateliers Varan, queria estar em Paris, e é uma escola muito importante. Quero muito filmar. Na verdade, quanto mais estou na criação, mais quero fazê-lo. Por exemplo, agora, a Kali estreámos no final de outubro na Temps d’Images e vamos repor no Centro de Arte de Sines. A ideia é que continua a viajar em digressão. Não é a minha primeira criação, é a terceira. Percebi que precisava de ter duas bailarinas em cena, duas performers, e que eu estaria só na parte criativa, na direção artística. Queria mesmo estar fora. Tenho a extrema sorte de, enquanto atriz, intérprete, performer, ter trabalhado sempre, seja em teatro, cinema, mesmo em televisão, com pessoas que me dão muita liberdade criativa e que são abertas relativamente ao elenco para se pensar em conjunto questões artísticas. Preciso de estar na criação, seja nas instalações, na videoarte, no cinema. Até não criei nada de teatro, a minha vertente tem sido mais a performance, sempre com uma predominância do corpo e da instalação, pensar objetos que estão instalados, quase como objetos de galeria. A Kali poderia estar numa galeria, é uma partitura de 30 minutos que se repete durante duas horas. Eu opero vídeo e som, elas estão em cena e o público entra e sai. Há momentos em que pode não estar ninguém e elas continuam.
A Kali explora o universo dos sonhos, o inconsciente. O que a levou a querer aprofundar essa dimensão dos sonhos e do inconsciente?
Gosto muito de sonhar e lembro-me muito de sonhos, por várias razões. A minha tia brasileira, que é pintora, pinta muito a partir dos seus sonhos. Lembro-me de ter dez, 11 anos, e de ela dizer: “Estás a ver isto? Pintei assim porque acordei a meio da noite e escrevi o sonho.” Depois, no livro Lanterna Mágica, do Ingmar Bergman, percebi que ele escrevia os sonhos numa mesa de cabeceira. Depois trabalhei com o Raúl Ruiz no Mistérios de Lisboa e ele falava da importância de tirar power naps no meio das filmagens para ter ideias para as cenas que queria filmar e de como ele dilatava o tempo do acordar neste limbo de manhã, para se recordar dos sonhos e de como isso o fazia aceder a coisas menos naturalistas, e, portanto, ter ideias mais surrealistas no cinema dele – tantos inputs sobre a questão dos sonhos, e eu tenho um bocado esse acesso a lembrar-me dos meus sonhos porque o faço há muito tempo. Tenho agora 34 anos, trabalhei com o Raúl quando tinha 19 ou 20 anos; portanto, faço isto, há 14 anos, de me lembrar dos sonhos de manhã. Quando acordo, não mexo em telemóveis, não vou logo falar com alguém, fico a tentar mesmo dilatar este momento em que estou a sonhar mas estou acordada, e tento lembrar-me do que sonhei. Não é um resgate porque nunca chegas a sair do sonho por completo, sei que estou a acordar, mas fico assim mais um bocado para ver se me lembro. Depois, também comecei a fazer isso à noite. À noite são as alucinações hipnagógicas, que ocorrem quando relaxamos o corpo antes de ir dormir, e às vezes surgem imagens, cores, sensações que, no fundo, são um resumo, um brainstorming do teu dia, de todos os inputs recentes, tal como, de manhã, é bom não acordar logo, começar a correr e a pensar no que tens para fazer, perceberes “OK, dói-me o ombro, dormi torto”. Isso é entrar contacto com o corpo e contigo.
Aquelas primeiras sensações ao acordar.
Essas sensações. Mas isso consegue ser mais aprofundado com prática, fazendo isso e percebendo os sonhos que tiveste. É engraçado porque alguns podem trazer ideias, mensagens, sons, o que quiseres tirar dali. Isso também acontece nas alucinações hipnagógicas, antes de ires dormir. Muito do desenho de luz da Kali veio como input dessas alucinações antes de ir dormir. Como realizei a videoarte na pandemia e a criação só se concretizou mesmo em 2023, tive bastante tempo para pensar em que objeto seria este. Já estava com o motor criativo muito ligado em relação ao que é a Kali, uma criação com mulheres, o universo feminino, o inconsciente, os sonhos, que liga videoarte com instalação sonora, com o corpo. Se deres tempo a que o teu inconsciente e o teu mundo da perceção te digam coisas, te tragam informações… a mim trouxe-me movimentos, cores, em que momento articular isto com aquilo. Como tenho muitas ideias e o meu cérebro recolhe muita informação, isto ajuda-me a organizar e há ideias que ficam.
Há mais temas que esteja a pensar explorar em futuras criações?
A Kali vem num tríptico. A minha ideia é fazer um tríptico à volta da questão do inconsciente e da importância dos sonhos, da forma como os sonhos impactam o corpo e o imaginário, o que se pode fazer com isso criativamente e esta questão do feminino também. Posso dizer que há um tríptico pensado mas, além disso, tenho o meu filme, a minha longa-metragem entre o documentário e a ficção, que é uma coisa da qual não posso falar para já, até porque não sei se só vai acontecer daqui a dez anos. Não é nada que esteja em andamento no momento. Mas tenho a vontade forte de desenvolver este filme, que tem um momento específico da minha infância como ponto de partida. Espero que aconteça, mas o mais provável é que demore.
Tendo em conta que gosta tanto de dança, como está a ser a experiência de participar nesta nova edição do Dança Com as Estrelas?
Está a ser superintenso. Voltando ao que disse sobre a pesquisa do movimento, de o estudo do corpo ser infinito, esta linguagem de danças de salão não tem nada a ver com algo que tenha estudado ou de que me tenha aproximado antes. Claro que corpo é corpo, movimento é movimento, mas é uma linguagem muito diferente do que conheço. Cada dança é muito diferente uma da outra e tem técnicas muito específicas, e fazer isso numa semana é muito exigente. É pouco tempo para o nível de exigência do programa. Os bailarinos são incríveis, são muito exigentes; o programa também quer surpreender e criar esse impacto. É bom para trabalhar a frustração, porque há muitos momentos de frustração pelo caminho. E também serve para mudar o chip, porque não vamos ser bailarinos de danças de salão durante o programa; portanto, não dá para querer fazer toda a técnica superbem, e eu quero fazer superbem, obviamente, mas não dá. Então é desligar o modo de perfecionismo da técnica, e ter essa humildade e lidar com essa frustração de que não vais conseguir ser tão exímio como gostarias, porque é impossível. Mais vale dar o nosso melhor e curtirmos. Estou nessa fase para lidar com isto. Está a ser interessante, mas é muito mais exigente do que pensava. Mas é ótimo e estou a adorar.
Tinnitus foi o seu trabalho mais recente no cinema. Houve uma preparação física especial para interpretar uma atleta de saltos sincronizados?
Também foi uma loucura, no bom sentido. A minha vida era ginásio, fisioterapia, aulas de apneia, aulas de natação e ensaios para o filme. Sozinha, em São Paulo, no inverno. Foi um filme muito duro, mas adorei fazê-lo e gosto muito do filme. Aceitei também por isso. Onde é que conseguiria ter a oportunidade de trabalhar como sereia de um aquário, a nadar com tubarões? Se não fosse neste filme, também não me iria mandar para dentro do Oceanário. [risos] Foram essas componentes: a postura física da atleta de salto ornamental, foi o treino de preparação física de ginásio, foram as aulas de apneia, foi mergulhar num aquário de água salgada, fria, com tartarugas, raias e tubarões. Nadar como sereia, respirar em apneia, mais a cauda, mais a performance da sereia dentro de água, mais a doença. A personagem tinha tantas camadas exigentíssimas, mas que lhe dão mundo. É interessante por isso: quando chego ao set de filmagens existe uma personagem com todo esse universo e com uma densidade, uma questão física e característica de doença. Ela é uma atleta, vai aos Jogos Olímpicos do Japão representar a Federação Brasileira de Saltos Ornamentais Sincronizados, tem o segundo trabalho de sereia no aquário. Nem sabia que havia esse trabalho. Pareceu-me tudo muito fora da caixa. É um filme brasileiro de um realizador, o Gregório Graziosi, com uma estética muito interessante, e quis logo fazê-lo. Ele convidou-me quando estive em Cannes com o filme do Miguel Gomes As Mil e Uma Noites. Ele enviou-me o guião, discutimo-lo, depois começámos os ensaios. Também tive aulas com uma médica especialista nesta doença, a tinnitus. Eu também não sabia, mas esta é uma doença que atinge creio que 6% da população. Há muitos tipos de tinnitus. Uma vez mais, foi uma oportunidade profissional que me possibilitou estudar muita coisa.
É uma história de superação, persistência, de confrontar medos, recuperar a confiança no corpo. Foi um dos seus trabalhos mais exigentes em termos emocionais?
Físicos. Em termos emocionais, talvez não. A emoção e o corpo estão ligados, mas a predominância física foi tão grande e pautou tanto a totalidade do filme que, por isso, destacaria mais a questão da exigência física.
O filme também explora os temas da rivalidade e da competitividade entre os atletas. Era importante transmitir essa ideia da rivalidade?
O filme tem uma protagonista, que é a minha personagem, a Marina, tem uma antagonista e outra personagem. É uma tríade de mulheres. Optei por não ir pela rivalidade. Não me interessava nada que o filme tivesse três mulheres em disputa e a serem rivais. Acho que estamos noutros tempos e noutro momento do mundo. Ainda mais no Brasil, isso sente-se imenso, a solidariedade entre mulheres, a entreajuda, muito mais do que esta ideia superpatriarcal e supermachista de que as mulheres não se dão bem. É muito antiquado, e quanto mais pudermos fugir daí, melhor. Não nos focámos tanto na rivalidade de três mulheres, mas sim na competitividade de três atletas. Tive o apoio da Jéssica Messali, que está muito bem destacada entre as atletas paralímpicas. Ela disse-me que, nos treinos com outros atletas paralímpicos, eles estão sempre a gozar uns com os outros e não são nada coitadinhos por terem deficiências físicas. Na brincadeira, eles roubavam-lhe a cadeira de rodas, ela queria sair da piscina e não conseguia encontrar a cadeira de rodas. Ironia, brincadeira entre eles. Mas ela disse que em competição, aquela pessoa que até é amiga dela, que dorme no mesmo quarto nos Jogos Olímpicos, ela não a conhece. Ela só está focada nela, é um autofoco na performance, que é muito exigente. Isso é muito diferente da minha experiência como performer ou atriz. Nunca fiz desportos de competição, sou zero competitiva nesse sentido. Ali é uma competição diferente. São extremamente competitivos e extremamente exigentes. Nas aulas que tive com uma professora de salto ornamental sincronizado, assisti a miúdos de sete anos a saltarem de três metros de altura, a magoarem-se, e eles eram os primeiros a dizer: “Professora, aleijei-me, mas está tudo bem.” Já estavam com aquela mentalidade. Eles magoam-se, vão buscar gelo e voltam para a prancha. É superação, exigência e competição. Essa foi uma das grandes aprendizagens para mim, porque não estou muito habituada a esse lado de competição. Da superação e exigência, sim, a níveis mais leves.
O facto de dividir a sua vida profissional entre Portugal e o Brasil tem-lhe permitido ter experiências e desafios profissionais distintos? Há muitas diferenças na forma de trabalhar em televisão, cinema e teatro nestes dois países?
Gosto de trabalhar em sítios diferentes. A minha constância é mais Portugal e Brasil, mas já tive experiências em França, bastantes, na Alemanha e em Itália, mais pontuais. Para falar de diferentes formas de trabalhar, em França fiz um filme de produção e equipa francesas, mas o realizador era do Equador. Havia na equipa quatro ou cinco elementos do Equador e dez franceses. É muito engraçada a diferença, a forma como chegam ao set, a exigência, a pontualidade. Era hilariante, porque são mesmo línguas completamente diferentes. Também me lembro de quando fiz um filme em Berlim de uma realizadora portuguesa, a Mónica Lima. A equipa era superjovem, mas tinha uma exigência como se tivessem 70 anos de cinema. Ou seja, na Europa, em países como Portugal, França e Alemanha – a Itália já é um bocadinho diferente – sente-se um rigor, uma seriedade, e isso, no Brasil, não existe. Não é que não haja pessoas sérias, não estou a colocar em causa a competência e o foco, mas o mood é muito diferente. É cultural. Há outro ritmo, outra calma. Depois, outra grande diferença é que, por ser um país gigante, existe a necessidade de criar postos de emprego. As equipas são gigantes e, às vezes, não é preciso tanta gente, principalmente para quem vem de um país como Portugal, onde as equipas são pequenas. Há muita diferença, claro que há. Depende dos contextos, depende dos orçamentos, mas, de qualquer das formas, a escala é maior. Existe mais material técnico, existe uma estrutura maior.
Tem uma carreira recheada de projetos importantes nas diversas vertentes. Quais foram os projetos que a marcaram mais?
O Como desenhar um círculo perfeito, do Marco Martins, foi um filme muito intenso, era muito nova; destaco o Tinnitus pela exigência física e pela particularidade do guião; o Ensaio para uma cartografia, da Mónica Calle, que é um espetáculo que já estamos a fazer há dez anos; a experiência do filme do Miguel Gomes As Mil e Uma Noites, também pelo impacto que teve em Cannes – parecia que estávamos a fazer um espetáculo de rock, foi um filme que foi gravado durante um ano, que juntava a ficção com o documental de alguma forma. Felizmente, houve vários projetos marcantes. Também foi muito importante para mim trabalhar com o Raúl Ruiz no Mistérios de Lisboa. São alguns, é difícil dizer.
Que trabalhos seus vamos poder ver em 2024 , além da Kali?
Há coisas em Portugal, no Brasil e em França, tudo em andamento, mas ainda nada fechado ao ponto de poder dizer. O que posso dizer é que quero continuar a fazer a digressão com a Kali e, depois, de algum destes países surgirão outros projetos. Esta ideia de fazer a digressão com a Kali é importante para dar acesso a esta performance a vários públicos. Morei no Alentejo, morei em Trás-os-Montes, vi coisas, felizmente. Penso sempre nas crianças e nos jovens que estão em lugares mais pequenos e que têm menos acesso ao cinema, ao teatro e à dança. É importante os trabalhos artísticos descentralizarem e circularem, para que os públicos não tenham de vir às grandes cidades para ver o que se está a passar. É importante haver inclusão de todos os públicos.
Artigo publicado na edição do NOVO de 13 de janeiro