No último ano de gestão pública dos CTT, o negócio do envio de correspondência ainda correspondia a cerca de 70% dos resultados da empresa. Os CTT eram uma empresa cuja sobrevivência dependia da entrega de cartas, que era já um negócio em declínio acelerado. O envio de correspondência já tinha caído mais de 7% só no último ano e adivinhava-se que continuasse a cair. Antecipando essa queda, nesse último ano de gestão pública houve uma redução de quase 800 trabalhadores e fecharam 125 lojas.
Nos dez anos seguintes, esta queda previsível confirmou-se. Hoje envia-se cerca de metade da correspondência que se enviava há dez anos e a tendência continua decrescente. Apesar disso, hoje, os CTT têm mais mil trabalhadores do que tinham quando foram privatizados e dos 1.820 postos de correio de 2013 mantêm-se abertos 99%. Hoje, o negócio da correspondência, que era essencial para a sobrevivência da empresa quando o Estado a privatizou, representa menos de um quinto dos resultados operacionais. A empresa diversificou e, hoje, não depende de um negócio em queda. É sempre complicado ter a certeza sobre cenários paralelos que nunca aconteceram; por isso, nunca saberemos com certeza o que teria acontecido com o serviço de correios e com a própria empresa se nunca tivesse sido privatizada.
Para se ter uma ideia do que aconteceria nesse cenário, basta ir aqui ao lado, a Espanha, onde a empresa de correios se manteve pública. Lá, como cá, a entrega de cartas também está em forte declínio. Lá, como cá, há queixas de diminuição de qualidade de serviço. Mas lá, desde 2013, a empresa de correios perdeu 5 mil funcionários e mil postos de atendimento. Pior: desde 2018, a gestão pública dos Correios espanhóis acumula 1.152 milhões de euros de prejuízos. O presidente do sindicato espanhol afirmou que a gestão pública tem sido catastrófica, garantindo que o último presidente dos Correios espanhóis era um incompetente que só foi nomeado por ser amigo do primeiro-ministro Sánchez.
Se os CTT se tivessem mantido em mãos públicas, não só o Estado português não teria recebido os mais de 900 milhões de euros da venda como, provavelmente, hoje, os contribuintes estariam a pagar os prejuízos da empresa, como pagaram os prejuízos da TAP, da Efacec, da CP e de muitas outras empresas públicas.
A gestão privada está longe de ser perfeita. O regulador deve intervir quando as condições de serviço da concessão não são cumpridas. Mas nada disso justifica a ideia de voltar a nacionalizar os CTT e sujeitar os portugueses a pagarem por futuros prejuízos, como acontece em Espanha.
Num negócio em declínio, não há opções perfeitas, mas podemos escolher dois modelos: o modelo português, em que o declínio é gerido por investidores privados que reestruturam a empresa às suas custas; ou o modelo espanhol, de acumulação de prejuízos pagos pelos contribuintes, em que administradores incompetentes são escolhidos por serem amigos do primeiro-ministro. É muito raro estarmos melhores do que Espanha em alguma coisa, mas esta é certamente uma dessas situações.
Deputado da Iniciativa Liberal
Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 13 de janeiro