Na semana em que Volodymyr Zelensky fez a sua terceira visita aos Estados Unidos, é alarmante constatar que Vladimir Putin continua a conquistar aliados no coração da América. Alguns proclamam-no abertamente, outros fazem-no dissimuladamente. Contudo, à medida que a exaustão provocada por uma guerra prolongada permeia a opinião pública, são cada vez mais os que reproduzem os argumentos da propaganda russa, minando o apoio à Ucrânia. Os republicanos, outrora unidos em questões de segurança nacional, encontram-se agora divididos, com radicais a ganhar terreno na esfera pública. Apesar do suporte militar à Ucrânia ainda não estar em risco iminente, é fácil prever que durante o próximo ano a situação se torne mais complexa.

É notório que a direita radical se aproximou substancialmente dos interesses russos. Esta proximidade, inimaginável em 2012, quando Mitt Romney identificou Putin como principal adversário geoestratégico do país e foi ridicularizado por Barack Obama, iniciou-se durante a eleição de Donald Trump e está cada vez mais forte. É comum, atualmente, depararmo-nos com elogios ao déspota russo em círculos republicanos. Desde a invasão de 2022, figuras próximas ao anterior presidente têm diligentemente trabalhado para minar os esforços em prol da defesa ucraniana. Personalidades como Steve Bannon e Roger Stone são alguns dos que têm exercido pressão sobre para comprometer este apoio.

Elon Musk, o bilionário alinhado com teses favoráveis a Putin, reuniu esta semana na plataforma X o conspiracionista Alex Jones, o apresentador Tucker Carlson, conhecido por exibir propaganda russa, e Vivek Ramaswamy, o candidato republicano mais efusivo contra a Ucrânia. Os aliados de Putin não se limitam, no entanto, a ativistas mediáticos.

O senador republicano J.D. Vance questionou esta semana a alocação de recursos americanos para os dirigentes ucranianos comprarem iates, fazendo eco de notícias falsas difundidas nas redes sociais da extrema-direita, numa altura em que a esmagadora maioria dos fundos têm sido sobretudo utilizados na indústria de armamento americana. Outros membros do congresso, como o senador Rand Paul ou os congressistas Matt Gaetz e Marjorie Taylor Greene, têm adotado abertamente os pontos de vista russos. A Heritage Foundation, em tempos idos uma instituição conservadora respeitada, reuniu esta semana o líder húngaro Viktor Órban com membros do congresso para advogar pelo fim do financiamento da guerra contra a Rússia.

Apesar das negociações para um novo pacote de auxílio de 61 mil milhões de dólares permanecerem num impasse, há algumas razões para otimismo. A Administração Biden e os democratas continuam a expressar um claro apoio em fornecer o armamento necessário, e mesmo entre os republicanos continua a existir uma maioria de eleitos que considera crucial a derrota russa. E o crescente apoio às teses de Putin não é homogéneo. Alguns expressam reservas por puro oportunismo político, enquanto outros tentam condicionar o pacote de ajuda à Ucrânia, associando-o a questões como a proteção da fronteira mexicana contra a imigração ilegal.

Até ao final do ano ou início do próximo, deverá haver um pacote aprovado. Mas começa a ser evidente que o apoio americano à Ucrânia não será eterno e, com uma possível nova administração, tudo poderá estar em causa. A próxima campanha eleitoral versará também sobre se os americanos querem que o país se torne, mesmo que por omissão, aliado dos interesses russos.

O establishment das relações internacionais considera fundamental que a Rússia seja derrotada, servindo como tampão para as suas ambições territoriais na Europa, ao mesmo tempo fornecendo um aviso à China em relação a Taiwan.  No entanto, se, durante a guerra fria os republicanos, ao contrário dos democratas, sempre foram claros na forma como lidar com a União Soviética, os papéis estão agora invertidos. Será que os interesses de Washington irão prevalecer em relação aos de Moscovo? A seguir atentamente no próximo ciclo eleitoral.

Especialista em política americana